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Zapping - Cristina Padiglione

Rita Lee deu voz a mais de 30 trilhas de novelas e marcou programas icônicos; relembre

Cantora foi presença constante na tela desde Os Mutantes e inaugurou festival de selinhos de Hebe Camargo

Hebe Camargo e Rita Lee são selinho no SBT
Foi Rita Lee quem inaugurou a fase dos selinhos de Hebe Camargo, em um programa da loira, no SBT - Francisco Inácio/SBT
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São Paulo

Responsável por dezenas de criações e produções na TV brasileira, o diretor Nilton Travesso gosta de lembrar que um dia telefonou para Rita Lee pedindo a ela uma trilha de abertura para um novo programa nas manhãs da Globo. A atração seria comandada por Marília Gabriela e Ney Gonçalves Dias e estava disposta a abordar todo tipo de assunto com as mulheres naquele início de anos 1980, inclusive sexo, quebrando tabus por meio da sexóloga Marta Suplicy.

Rita passou nos estúdios da Globo em São Paulo, àquela época ainda localizados na Praça Marechal Deodoro, ouviu a encomenda do diretor e avisou que viajaria para Nova York no dia seguinte, mas que logo lhe mandaria algum sinal sobre o pedido. Dos Estados Unidos, para a surpresa de Travesso, apenas dois dias depois, a cantora ligou e cantarolou o refrão ao telefone: "Por isso não provoque, é cor de rosa-choque...". Os versos a seguir ostentavam ainda, com orgulho, que "mulher é bicho esquisito, todo mês sangra", uma revolução para a época.

A letra dava a dimensão da força que seria o TV Mulher. E a delicadeza do arranjo que anunciava os primeiros acordes da canção marcaria para sempre a memória da telespectadora que teve a sorte de ser contemporânea de um programa que nunca mais a TV aberta ousou produzir.

Travesso conhecia Ritinha desde os idos dos Mutantes na velha e boa TV Record dos anos 1960, quando a emissora pertencia à família Machado de Carvalho, onde ela começou a ganhar fama. Era o tempo da Jovem Guarda, dos festivais de música, do Fino da Bossa, um universo por onde circulavam talentos como Elis Regina, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa, Ronnie Von, Jair Rodrigues, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Wilson Simonal, Caçulinha, Zimbo Trio e outros maestros.

Mas Rita seguiria, mais do que qualquer outro nome daquele time, a dar voz à TV brasileira por meio de mais de 30 trilhas sonoras de novelas e séries de praticamente todos os grandes autores da teledramaturgia.

Sua presença na tela da TV também raramente acontecia à toa. Rita sempre foi de deixar legados. Foi ela quem puxou o primeiro de um festival de selinhos distribuídos por Hebe Camargo ao longo de sua última década de vida, o que se tornou uma das marcas da loira.

Rita, assim como Hebe, é patrimônio nacional, mas antes de mais nada esteve associada a interjeições paulistanas. Daí sua presença infalível nas novelas de Silvio de Abreu e Cassiano Gabus Mendes.

Para Mendes, ela emprestou "Ti-Ti-Ti" ao batismo de uma novela, em 1985, e a própria música, presente na versão original da trama pela voz de Virginie, vocalista da banda Metrô. Mas quase 30 anos depois, quando o folhetim ganhou releitura, a própria Rita cantava a canção que era obra sua e do parceiro e companheiro Roberto de Carvalho.

Levou ainda "Pega Rapaz" a "Brega & Chique" (1987), tema de Rosemere, a pobre que ficava rica, vivida por Glória Menezes. De Abreu, cantou "Vítima" para a abertura de "A Próxima Vítima" (1995), e "Pra Você eu Digo Sim" em "As Filhas da Mãe" (2001).

Outra abertura memorável aconteceu em "Final Feliz" (1982), de Ivani Ribeiro, com "Flagra". Tem ainda "Chega Mais" (1980) e a regravação de "Sassaricando" (1988), também de Abreu, marchinha de 1952.

Em "Espelho da Vida" (2018), de Elizabeth Jin, cantou "Minha Vida" ("In My Life", adaptação dos Beatles), que entraria também em "Desejos de Mulher" (2002), de Euclydes Marinho. E esteve em "O Pulo do Gato" (1978) com "Eu e Meu Gato".

Regravou "Erva Venenosa (Poison Ivy)" para "Um Anjo Caiu do Céu" (2001), canção que voltaria à cena em "Cobras e Lagartos" (2006), de João Emanuel Carneiro, e "Escrito nas Estrelas" (2010) de Elizabeth Jin.

Esteve em "Sétimo Sentido" (1982), de Janete Clair, com "Atlântida", em "O Grito" (1975), de Jorge de Andrade, com "Lá Vou Eu" e em "O Casarão" (1976), de Lauro César Muniz, com "Coisas da Vida", música que voltaria a desfilar em "Boogie Oogie" (2014), de Rui Vilhena. Cantou "Ambição" em "O Astro" (1977), outra de Janete Clair, e "Agora é Moda" em "Dancin'Days" (1978), de Gilberto Braga. A balada "Só de Você" embalou "Louco Amor" (1983), também de Gilberto Braga, enquanto "Independência e Vida" desfilou em "Top Model" (1989), de Walther Negrão e Antonio Calmon.

"La Miranda" foi parte da trilha de "Lua Cheia de Amor" (1990), de Ricardo Linhares, Ana Maria Mortszohn e Maria Carmen Barbosa, e "Dias Melhores Virão", de "Mico Preto" (1990), de Euclydes Marinho, Leonor Bassères e Marcílio Moraes, e "Sangue Bom" (2013), de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari. "Mon Amour" tocou em "Fera Ferida" (1993), de Aguinaldo Silva), e "Dona Doida" em "Zazá", (1997) de Lauro César Muniz.

Rita cantou ainda "O Que Você Quer" em "Corpo Dourado" (1998), de Antonio Calmon, e "O Gosto Azedo" no remake de "Pecado Capital" (1998), de Janete Clair.

"Aqui, ali, em qualquer lugar", outra adaptação dos Beatles, foi trilha de "Agora é que são Elas" (2003), de Ricardo Linhares, e "Amor e Sexo" pontuou com classe "Celebridade" (2003), outra trama de Gilberto Braga. Daí veio "Tudo Vira Bosta", hit presente em "Senhora do Destino" e em "O Sétimo Guardião", ambas de Aguinaldo Silva. Veio ainda "Cecy bom" em "Caras & Bocas" e "Reza" no sucesso de "Avenida Brasil" (2012), de João Emanuel Carneiro.

No remake de "Guerra dos Sexos" (2012), e olhe lá a autoria de Silvio de Abreu de novo, Rita se fez presente com "Rapaz". De 2012, "A Vida da Gente", de Lícia Manzo, resgatou um dos maiores sucessos da cantora e aproveitou "Ovelha Negra". De Walcyr Carrasco, embalou "Êta Mundo Bom!" (2016) com "Felicidade", e ainda esteve em "Órfãos da Terra" (2019), de Thelma Guedes e Duca Rachid, com "As mina de Sampa".

De Manoel Carlos, vale lembrar de "Baila Comigo" (1981), mas em versão instrumental. E tem Os Mutantes cantando "Baby" em "Laços de Família" (2000), em inglês.

Rita só se ausentou de tramas de Benedito Ruy Barbosa, cujas linhas rurais pouco ornam com o asfalto cultuado por ela em sua obra.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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