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Tony Goes
Descrição de chapéu desigualdade de gênero

Hebe Camargo, a mais importante da TV, quebrou tabus e deixou legado duradouro

Apresentadora faria aniversário nesta quarta (8), Dia Internacional da Mulher

Hebe Camargo posa para foto em seu camarim no SBT - Eduardo Knapp-2.mar.2009/Folhapress
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Por uma coincidência cósmica, Hebe Camargo nasceu num 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. A data comemorativa ainda não existia em 1928, ano em que a apresentadora veio ao mundo, e dá até para desconfiar que o 8/3 foi escolhido para homenageá-la.

Não foi, mas bem que poderia. Hebe Camargo é simplesmente a mulher mais importante da história da televisão brasileira.

Sua carreira como cantora começou alguns anos antes da primeira transmissão de TV no país, em 1950 – ela, aliás, deveria ter participado, mas preferiu sair com o namorado e delegou a tarefa à amiga Lolita Rodrigues.


No entanto, foi nessa nova mídia que Hebe se tornou um ícone. Teve seu próprio programa durante quase 60 anos, de 1955 a 2012, em diversos formatos e diversas emissoras. Uma das mais longas trajetórias televisivas do mundo.

Hebe não sabia, mas nasceu para ser apresentadora. Como cantora, nunca foi mais que mediana. Mas, na hora de falar em frente às câmeras, ela atraía para si todas as atenções, e sem fazer a menor força. Jamais foi acusada de tolher alguém ou querer aparecer mais que um convidado. Seu carisma era natural, e se impunha assim que ela abria a boca.

Foi uma pioneira, mas não foi a única. Muitas apresentadoras brilharam nos primórdios da TV brasileira, como Edna Savaget ou Xênia Bier. Mas nenhuma fez tanto sucesso nem ficou tanto tempo no ar como a falsa loura de Taubaté.

Certa vez, Marília Gabriela disse que Hebe Camargo era a porta-voz da classe média. Gabi tem razão: apesar de ter nascido pobre e ficado rica, Hebe emitia opiniões como uma digna representante das camadas intermediárias. Ela se indignava com a desigualdade social, mas sempre se posicionou à direita. Mesmo assim, jamais foi vítima de uma campanha de ódio, talvez por ter morrido antes da polarização política ser parida pelas redes sociais.

Hebe não tinha papas na língua e não poupava nem a si mesma. Nunca teve medo de se expor. Quando esteve no centro do "Roda Viva", em 1987, revelou ter abortado o filho de um homem casado que namorou na juventude. Emudeceu e emocionou a bancada de jornalistas, falando sem parar durante 18 minutos sem ser interrompida, façanha jamais igualada por nenhum convidado do programa.


Outro tabu que Hebe Camargo mandou às favas foi o da sexualidade feminina. Já bem madura, ela contava numa boa que adorava sexo e ainda sentia muita vontade de transar. Apontava até mesmo quem era seu sonho de consumo: ninguém menos do que seu amigo Roberto Carlos.

Nem tudo foram flores, claro. Hebe passou por altos e baixos na audiência, brigou com executivos de canais de TV, teve problemas com a censura e inúmeros percalços amorosos. Seu primeiro marido não gostava de ter uma mulher que não só trabalhava fora, como ganhava muito mais do que ele.

Tudo isso está registrado no filme "Hebe – A Estrela do Brasil", na minissérie dramática "Hebe" e na minissérie documental "Hebe – Um Brinde à Vida", todos disponíveis no Globoplay. Vale a pena ver tudo, mas nada se compara à experiência original.

Velho que eu sou, passei boa parte da vida vendo Hebe Camargo em seus programas na Record, na Band, no SBT e na RedeTV!. Ainda tive o privilégio de trabalharmos juntos durante um par de horas, quando ela foi homenageada pelo extinto programa "Gente que Brilha", do SBT, um formato semelhante ao do "Arquivo Confidencial".

Eu era um dos roteiristas e passei o texto com ela, no camarim. Fiquei impressionado: a apresentadora era muito simpática, cheia de paciência para quem estava começando e extremamente focada no trabalho, mas sempre parecendo que estava apenas se divertindo.

Este era um dos segredos de seu sucesso. Hebe adorava o que fazia, e isso era nítido em todos os seus programas. Também amava a vida e as pessoas, e abriu portas no showbiz para várias gerações de mulheres. Além de tudo, fez a cabeça de milhões de espectadoras, mostrando que ninguém precisa ter medo de emitir opinião.

Feliz Dia Internacional da Mulher para todos, e feliz aniversário, Hebe Camargo. Você se foi há mais de 10 anos, mas continua entre nós.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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