Sobra a 'Todas as Flores' o bom clima de bastidores que falta a 'Travessia'
Postagens dos atores da novela do GloboPlay nas redes sociais acusam entrosamento, na contramão do que ocorre no folhetim de Glória Perez
Os Estúdios Globo enceram nesta sexta-feira, 23, quase véspera de Natal, as gravações de todos os capítulos de "Todas as Flores". A novela de João Emanuel Carneiro já tem sua 1ª temporada disponível no GloboPlay, com 45 capítulos, reservando os 40 episódios finais para abril, a partir do dia 5, de novo com a projeção de despejar cinco capítulos por semana na plataforma.
O fim das gravações foi anunciado por alguns atores nas redes sociais, resgatando fotos feitas ao longo da produção com colegas nos bastidores e festejando o ótimo ambiente de trabalho.
Para muito além do que o público pode ver na tela até aqui, vale reparar como o enredo tem despertado engajamento em redes sociais, ao contrário do que ocorre com "Travessia", disponível para um número muito maior de pessoas por estar na TV aberta. Não por acaso, as duas produções se antagonizam também em outro aspecto muito relevante para o sucesso de uma obra: há nos bastidores da trama de João Emanuel um entrosamento que falta ao elenco de Glória Perez.
Durante os jogos da Copa, atores de "Todas as Flores" publicaram vídeos de torcida unida, assistindo aos jogos em momento de folga, com filhos e cônjuges juntos. Sophie Charlotte, Regina Casé, Humberto Carrão, Fábio Assunção, Caio Castro, Letícia Colin, Nicolas Prattes e outros aparecem em cena em clima de plena confraternização. Gente notadamente feliz.
Há ainda outros cliques que atestam a sintonia entre todos nos bastidores, como fotos que unem Caio Castro, Nicolas Prattes e Humberto Carrão, além de vídeos publicados por Regina Casé e Fábio Assunção ensaiando texto entre Zoé e Humberto, seus personagens.
São imagens que estão longe dos esforços de publicidade feitos pela Comunicação da Globo e primam pela espontaneidade. E é um clima bem parecido com o que favoreceu também os bastidores de "Pantanal", que foram de alta cumplicidade e entrosamento entre todo o elenco, como pudemos perceber ao longo dos oito meses de produção da novela.
Quando a Globo preparou uma inédita passagem de bastão no Domingão entre os atores de "Pantanal" e "Travessia", a ideia era, claro, fazer com que a nova produção pegasse carona no sucesso da anterior, mas personificar esse êxito naquele clima que a turma da onça, da sucuri e do jacaré fazia transbordar na tela. Mas, na prática, não rolou. O público não pode ver, na tela de "Travessia", nem um décimo do prazer que se atestava pelas cenas de "Pantanal".
Não é mera coincidência. Uma coisa leva a outra. O bom entendimento entre colegas de trabalho faz muita diferença na finalização do produto, assim como uma boa história e texto também animam a equipe a sair da cama de manhã para trabalhar e a contribuir para um bom ambiente corporativo.
FATOR EXTRA
No caso de "Travessia", independentemente da competência ou incompetência da autora e do diretor Mauro Mendonça Filho na realização de um enredo fraco, para dizer o mínimo, um fator conspirou para a massa desandar e comprometer a receita do bolo: Cássia Kis.
Além de ter militado ostensivamente pela reeleição de Jair Bolsonaro, a ponto de incomodar colegas que passaram a bloqueá-la no WhatsApp, a atriz deu declarações de caráter homofóbico em uma conversa com Leda Nagle, e se juntou a golpistas que contestaram o resultado da vitória de Lula nas urnas, reivindicando intervenção militar do governo de Jair Bolsonaro.
O fracasso de "Travessia" não é obra de um único elemento, evidentemente, nem o entrosamento do elenco pode ser unicamente atribuído à presença de Cássia ou dos poucos que ainda a defendam. Falta disposição a boa parte dos atores em estar naquele set, ao contrário do que ocorre em "Todas as Flores" e do que se dava em "Pantanal", onde a convivência entre o grupo foi muito favorecida pelas viagens a Aquidauana (MS) e pelo afeto demonstrado pelo anfitrião, Almir Sater, proprietário da fazenda que serviu de sede para as gravações.
Quando se fala em "fracasso", é bom sublinhar que não há produto artístico capaz de reunir o público que "Travessia" ainda reúne diante da tela, mesmo que uma grande parcela desses sintonize a Globo por mero hábito. Como costumo defender, tamanho, nesse caso, não garante o documento.
Os termos "sucesso" ou "fracasso" pedem contexto mais amplo. É preciso lembrar o potencial que a novela anterior tinha naquele mesmo espaço, com alguns milhões de pessoas a mais na plateia, e também gerando conversa sobre temas relevantes, que alcançam o envolvimento do telespectador.
Até a antecessora de "Pantanal", "Um Lugar ao Sol", que também padecia de uma baixa em relação aos históricos números de audiência da novela das nove, era capaz de provocar engajamento para boas reflexões, o que o folhetim atual não apresentou até agora.
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