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Zapping - Cristina Padiglione

Com 'Renascer', Benedito Ruy Barbosa se iguala a Janete Clair no número de remakes

Calçada no sucesso de 'Pantanal', Globo encomenda novo remake do autor ao neto, Bruno Luperi

Antonio Fagundes e Marcos Palmeira em 'Renascer', de 1993 - Globo
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José Leôncio morreu, mas José Inocêncio vem aí.

Ao encomendar mais um remake de Benedito Ruy Barbosa a Bruno Luperi, neto do autor, a Globo iguala o veterano a Janete Clair no número de novelas que ganharam novas versões. Com "Renascer", a bola da vez, serão seis títulos refeitos, juntando-se a uma lista que já tem "Cabocla, "Meu Pedacinho de Chão", "Paraíso", "Sinhá Moça" e "Pantanal".

De Janete Clair, foram refeitas "Selva de Pedra", "Irmãos Coragem", "O Astro", Véu de Noiva", "Pecado Capital" e "A Noiva das Trevas", radionovela que na TV virou "Direito de Amar".

A Globo encomendou a Luperi uma releitura de "Renascer", como antecipou o site Notícias da TV nesta quarta-feira (18), e o sucesso de "Pantanal" teve peso essencial nessa decisão. A nova versão está prevista para o início de 2024, logo após "Terra Vermelha", título provisório da novela de Walcyr Carrasco, que sucederá "Travessia", de Glória Perez, atualmente no ar.

Luperi tinha outros planos para o momento: retomar uma adaptação do romance "Arroz de Palma", de Francisco Azevedo, sobre a imigração luso-brasileira no século 20, a princípio proposta para a faixa das 18h. O projeto havia sido interrompido para priorizar o remake de "Pantanal, que tanto êxito teve, em audiência, engajamento e crítica.

A emissora se deu conta de que o universo de Brasil profundo é um bom negócio para o horário, pois coloca em cena o escapismo que o cenário rural promove para os telespectadores dos grandes centros urbanos, sem dar pinta de alienação social.

Como todas as tramas de Ruy Barbosa, o apego à terra como solo que nos alimenta permeia várias questões sociais e valores afetivos, sendo isca de bom apelo para a audiência. O êxito de Luperi em "Pantanal" agrega ainda a capacidade do autor, profissional de apenas 35 anos, de trazer uma plateia jovem para a frente da TV, atraindo um nicho que é mais habituado a migrar para outras telas e, portanto, mais difícil de ser fisgado.

A ausência de dramaturgos com o perfil de Barbosa é outro ponto que explica o entusiasmo da Globo por um remake, mas, sobretudo, refazer um grande sucesso 30 anos depois se mostra um grande negócio, mesmo a despeito dos riscos de comparação com a versão original.

Além de já se ter uma noção de como a plateia poderá reagir aos conflitos da história, boa parte da plateia verá o enredo pela primeira vez, enquanto outra parcela há de se apegar à narrativa graças à memória afetiva que aqueles personagens de três décadas atrás lhe provocam. Tudo isso foi observado no êxito de "Pantanal" e é essa receita que a emissora espera repetir com "Renascer".

A HISTÓRIA POR TRÁS HISTÓRIA

Primeira novela de Ruy Barbosa para a faixa nobre da Globo, "Renascer" tem sua história diretamente ligada a "Pantanal", que havia sido recusada pela emissora antes de ser oferecida à Manchete. Foi em função do grande sucesso do enredo sobre Juma Marruá na concorrência que a rede da família Marinho propôs a Ruy Barbosa o horário mais caro da TV, a fim de trazê-lo de volta para a emissora, a peso de ouro.

Até ali, Ruy Barbosa só fazia novelas das seis. "Renascer" endossou o potencial da faixa mais nobre para esse segmento rural, que depois viria a gerar outro grande hit para a mesma vaga, com "O Rei do Gado" (1996).

Foi também a primeira novela a escapar com louvor do confinamento dos estúdios e cidades cenográficas construídas pela Globo no Rio, para, a exemplo do que a Manchete fez com "Pantanal", render-se ao ambiente onde a trama se passava. Assim, pela primeira vez em uma novela, a Globo estenderia para além de alguns poucos dias o expediente de gravações longe de seus domínios, no caso, na vizinhança de Ilhéus, na Bahia, em meio a plantações de cacau e rios onde lavadeiras entoavam cantos locais.

Um elemento em comum entre "Pantanal" e "Renascer" é justamente Marcos Palmeira, que viveu Tadeu em 1990 e recentemente reencarnou José Leôncio na Globo. Em "Renascer", de novo ele merecia menos atenção do patriarca e, de quebra, reforçava o vínculo com o universo do autor consagrado que voltava para a Globo. E Palmeira fez o mesmo caminho de ida e volta de Ruy Barbosa, tendo trocado de canal por "Pantanal".

Como João Pedro, já em "Renascer", o ator amassou muito cacau, fruto da prosperidade da fazenda do pai, que o acusava de ser responsável pela morte da mãe no parto. Esse era José Inocêncio, batismo de Antonio Fagundes, crédito que se repetiria no posto de patriarca de outras novelas de Ruy Barbosa, como "O Rei do Gado", "Terra Nostra" e "Velho Chico".

A produção teve direção artística de Roberto Talma e direção-geral de Luiz Fernando Carvalho, que inaugurava então uma longa parceria com o autor que se estenderia a "O Rei do Gado", "Esperança", "Meu Pedacinho de Chão" e "Velho Chico".

"Renascer" lançou ainda Leonardo Vieira na TV, como o jovem José Inocêncio, e se notabilizou também por Tião Galinha, personagem magistralmente vivido por Osmar Prado. Assim como Trindade em "Pantanal", ele também tinha um pacto com o diabo --elemento do universo do autor, presente também em "Paraíso", que normalmente encanta o público. Tião guarda o diabo em uma garrafa.

Tarcísio Filho, Marco Ricca e Taumaturgo Ferreira faziam os outros filhos de José Inocêncio.

Adriana Esteves vivia Mariana, grande paixão de João Pedro, mas casava-se com José Inocêncio, que sonhava sempre com a primeira mulher, morta (Patrícia França). Hoje mais do que reverenciada, Esteves sofreu o pão que o cacau amassou ao longo do folhetim, enfrentando rejeição do público, que via a personagem como oportunista e capaz de reforçar a rivalidade entre pai e filho, o verdadeiro mocinho da novela, por quem a plateia torcia fervorosamente.

O elenco se destacava ainda por Eliane Giardini, atriz já consagrada no teatro, mas ainda desconhecida na TV, além de Fernanda Montenegro, a adorável Jacutinga (adoro esse nome). E havia José Wilker, inesquecível, como um coronel adversário de Inocêncio.

A história começa e termina com um pacto não com o diabo, mas com um grande jequitibá. É ao pé da árvore que Inocêncio, ainda jovem, finca um facão.

Diferentemente de "Pantanal", que tinha apenas uma versão em péssima qualidade disponível no YouTube, "Renascer" pode ser revisitada em condições melhores, mas pagas, pelo catálogo do GloboPlay. Vale a pena ver de novo. Oxalá o remake tenha o mesmo êxito de "Pantanal" 2.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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