Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Tony Goes

Treta entre Ícaro Silva e Tiago Leifert é para valer, e antecipa as discussões do BBB 22

Num Brasil mais justo, o ator já seria um astro, e o apresentador, mais consciente

Ícaro Silva e Tiago Leifert - Folhapress/Globo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ícaro Silva é um dos maiores talentos de sua geração. Ele atua, canta, e dança, sempre com uma presença marcante em cena. É capaz de encarnar Wilson Simonal no musical "S’imbora", fazer um galã sedutor na série "Coisa Mais Linda", da Netflix, ou a metade de um casal gay em "Verdades Secretas 2". Tanta versatilidade lhe rendeu até a vitória no "Show dos Famosos", em 2017.

E, no entanto, Ícaro ainda não é um "household name": aquele artista famoso que até a sua avó conhece pelo nome. É compreensível que ele se sinta injustiçado. Uma participação no Big Brother Brasil poderia ajudar?


Desde a edição de 2020 que o BBB escala celebridades de porte médio para seu elenco. Nomes como Manu Gavassi e Babu Santana aproveitaram para subir alguns degraus em suas carreiras. Outros, como Karol Conká e Projota, tiveram passagens desastrosas pelo reality.

Ícaro Silva não quis nem arriscar. Reagindo aos boatos de que estaria confirmado no BBB 22, o ator foi ao Twitter nesta segunda (20) e desabafou: "Gente, respeita minha história, minha trajetória, meu ódio por entretenimento medíocre e minha repulsa por dividir banheiro e parem de acreditar nessa história absurda de que eu cogitaria ir para o Big Boster Brasil".

Como era de se esperar, abriram-se as portas do inferno. Fãs do programa xingaram Ícaro de esnobe para baixo. Houve quem lembrasse que, apesar de se sentir tão superior, o ator aceitou participar de "Verdades Secretas 2", a atração mais "trash" de 2021.

E, de repente, a maré se inverteu. Ícaro Silva foi salvo na terça (21) por uma publicação ainda mais desastrada, cometida por ninguém menos que Tiago Leifert. O ex-apresentador do BBB, agora fora da Globo, tomou as dores de seu antigo empregador e defendeu o reality com unhas e dentes.

Leifert arrematou seu texto com uma frase que ainda irá assombrá-lo por muito tempo: "Não só não te fizemos mal como provavelmente pagamos o seu salário nessa última aê!".

O que ele quis dizer é que o BBB, que tem uma produção relativamente barata frente ao seu faturamento astronômico, ajuda a financiar toda a produção da Globo –incluindo aí "Verdades Secretas 2". Mas, vinda de um branco hétero, cis gênero e privilegiado, a frase soou como um sinhozinho tentando castigar um negro escravizado que ousou se rebelar.

Não é a primeira vez que Tiago Leifert demonstra online que não é a pessoa adorável que aparece na TV. O apresentador já atacou atletas que se posicionam politicamente e cometeu outros deslizes que denunciam uma formação aristocrática, em desalinho com o mundo contemporâneo.

Ícaro reagiu com galhardia: "é minha entrega quem paga meu salário", postou ele nesta quarta (22), no Instagram. "Possivelmente você nunca vai entender isso, mas para uma pessoa preta e queer estar em destaque, contratada ou empregada ela precisa ser realmente excelente."

Estes últimos lances da treta me fazem crer que ela é mesmo para valer. Não se trata de um mero golpe de marketing, como aventaram alguns. A Globo não irá anunciar Ícaro Silva como um dos integrantes do BBB 22 nos próximos dias. Pode ser até que o ator amargue uma certa geladeira na emissora.

Tanto ele como Leifert usaram termos pesados para exprimir suas opiniões. Nada contra: a internet, e especialmente o Twitter, é uma arena em que as emoções podem e devem ser extravasadas. No final, tudo vira divertimento para as massas.

Mas também pode virar reflexão. Num Brasil mais justo, Ícaro Silva já seria protagonista da novela das nove. Num país mais consciente, Tiago Leifert perceberia que "somos nós que pagamos seu salário" pode ser interpretada como uma fala racista, ainda que não seja.

O Big Brother tem servido para discutir questões importantes como racismo, machismo e homofobia. A edição de 2022 só estreia no dia 17 de janeiro, mas a discussão já começou. Isto pode ser bom para todo mundo.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem