Conflito entre a Globo e Camila Queiroz foi mais interessante que 'Verdades Secretas 2'
Desfecho da trama de Walcyr Carrasco foi risível e mal-ajambrado
Desde que estreou no Globoplay no final de outubro, a segunda temporada de "Verdades Secretas" alcançou uma rara unanimidade. Crítica e público concordaram que a obra, com texto de Walcyr Carrasco e direção artística de Amora Mautner, tinha uma embalagem atraente e bem cuidada, mas também diálogos sofríveis, atores pífios e mais furos no roteiro do que um queijo suíço.
O desfecho da trama fez jus a esta reputação. Foi além, aliás: os últimos capítulos alcançaram um patamar de ruindade raro para uma produção da Globo. "Verdades Secretas 2" é um caminhão de lixo decorado com luzes de neon.
O episódio 49 começa com a tão comentada cena de sexo entre as protagonistas Angel e Giovanna. Vividas, respectivamente, por Camila Queiroz e Agatha Moreira, as personagens descobrem de repente que se amam loucamente, apesar da segunda ter passado os 48 capítulos anteriores tentando se vingar da primeira pelo assassinato de seu pai.
Mas o impacto dessa transa inesperada foi amortecido pela cena seguinte, que já viralizou nas redes sociais. O subplot foi escancaradamente decalcado do filme "Teorema" (1968), de Pier Paolo Pasolini, em que o personagem de Terence Stamp transa com todos os membros de uma mesma família.
Só que, na versão de Walcyr Carrasco, a revelação de que Matheus (Bruno Montaleone) tinha casos simultâneos com Betty (Deborah Evenlyn), Lorenzo (Celso Frateschi), Giotto (Johnny Massaro) e Irina (Julia Stockler) ganhou diálogos risíveis, que os internautas compararam –com toda justiça– aos de um esquete do grupo Porta dos Fundos.
O pior ainda estava por vir. O capítulo final veio em duas versões: são idênticos até os momentos finais. E quem não quiser ter spoilers deve parar de ler por aqui.
Na versão 1, Angel descobre que Alexandre, papel de Rodrigo Lombardi, é o piloto do avião fretado em que fugirá com Giovanna para os Estados Unidos. Na versão 2, Alexandre mata Angel. Sim, ele estava vivo esse tempo todo! E esperou cinco longos anos para se vingar de sua suposta assassina. Faz todo sentido, não é mesmo?
É bastante estranho que o Globoplay tenha disponibilizado um final em que a protagonista morre e um outro em que ela continua viva. Parece que deixaram uma porta aberta para uma eventual volta de Camila Queiroz à Globo.
Nada disso chega a ser um problema para o espectador. Mas a direção da sequência final parece ter sido delegada a um estagiário. Lara (Júlia Byrro) apareceu atrás de uma grade, à espreita de Angel com uma arma na mão. Como que ela foi parar ali? Por que não atirou na rival antes que ela entrasse no avião?
Percy (Gabriel Braga Nunes) e Cristiano (Romulo Estrela) também estavam à caça da modelo. Que aeroporto é este, em que pessoas armadas conseguem entrar na pista sem serem incomodadas?
Ah, sim, é o "Aeroporto São Paulo". Como é praticamente impossível gravar em aeroportos de verdade, a produção de "Verdades Secretas 2" resolveu criar o seu. Um prédio pequeno, com vaga na porta e um único balcão de check-in para onde todos os personagens se dirigem, quaisquer que sejam suas necessidades. Tudo bastante plausível para uma metrópole do tamanho de São Paulo.
O capítulo final ainda teve Maria de Medeiros na pior cena de toda sua carreira. Ao perceber que está arruinada, a empresária Blanche Labelle (de onde Carrasco tira esses nomes ridículos?) dá um piti digno de um dramalhão mexicano. O texto e a direção não ajudam, é verdade, mas a atriz portuguesa conseguiu arranhar sua reputação, mesmo já tendo trabalhado com alguns dos maiores cineastas do mundo.
Há algo de errado quando o conflito entre uma atriz e a direção da emissora são mais empolgantes do que a novela em questão. A briga entre Camila Queiroz e a cúpula da Globo teve lances muito mais dramáticos do que qualquer capítulo de "Verdades Secretas 2", e foi bem mais interessante de se acompanhar.
Bom, vem aí "Verdades Secretas 3". A audiência desta segunda fase –já é a novela mais assistida de todos os tempos no Globoplay– justifica uma nova continuação.
Que provavelmente será tão ruim, ou pior, do que esta que acabou de ser concluída. Não posso dizer que mal posso esperar.
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