Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Thiago Stivaletti

'Os Outros' se atrapalha em sua segunda temporada

Com religiosa desequilibrada, trama hesita entre prosseguir com as velhas histórias ou apostar nas novas

Homem de casaco de couro olha sério para frente
Eduardo Sterblitch interpreta Sergio na série 'Os Outros - Daniel Klajmic/Divulgação
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Junto com "Cangaço Novo", "Os Outros" foi a série brasileira mais vista e comentada de 2023. A história foi sucesso de audiência e crítica tocando em questões que estão na ordem do dia do brasileiro: a preocupação crescente com a segurança, a polarização de ideias que divide famílias, o crescimento das milícias como poder paralelo às vezes maior que o Estado.

Essa barra lá no alto pode explicar a decepção com a segunda temporada, que estreou ontem no Globoplay. A nova trama é centrada no miliciano Sérgio (Edu Sterblitch), o melhor personagem da primeira história, que foi eleito vereador no Rio.

Ele se mudou para um condomínio de luxo com a mulher e a filha, Lorraine (Gi Fernandes), que teve seu filho com Marcinho (Antonio Haddad). O rapaz segue foragido, para desespero da mãe, Cibele (Adriana Esteves).

No novo endereço, Sérgio enfrenta a hostilidade dos vizinhos que sabem das denúncias contra ele. Entre os mais próximos, estão Paulo (Sérgio Guizé) e Raquel (Letícia Colin), uma cristã fervorosa que reúne os demais vizinhos para reuniões religiosas (ou células, como ela chama) em sua casa.

Nos três primeiros episódios disponíveis, a nova temporada se atrapalha entre dois caminhos: prosseguir com a história dos personagens velhos e apresentar a trama dos novos. Com um pé em cada canoa, a ligação entre velhas e novas tramas resulta um tanto artificial (a partir daqui, há spoilers).

MUDANÇAS BRUSCAS

Para ficar em alguns exemplos: de início, Raquel quer a expulsão da família do miliciano, mas muda rapidamente de ideia ao se conectar com a filha dele. Esta, que sempre teve um espírito independente e se opõe ao mando do pai, do nada aceita a proposta para ir às reuniões cristãs de Raquel. Sem contar as aparições do foragido Marcinho, com uma facilidade espantosa de penetrar em lugares supostamente vigiados.

Perdida, Cibele só faz chorar a ausência do filho; já o pai do rapaz, Amâncio (Thomás Aquino), estranhamente não derrama uma lágrima por ele. Determinados a terem seu primeiro filho, Paulo e Raquel ainda não mostraram potencial para liderar a guerra entre vizinhos que vimos na primeira leva com Wando (Milhem Cortaz) e Mila (Maeve Jinkings).

Enquanto Paulo se vicia num absurdo jogo de realidade virtual (chamado, olhe só, de 'O Outro'), Raquel passa todas as cenas mostrando seu desequilíbrio mental e o ciúme do marido com expressão de psicopata.

Como reza o clichê, a personagem religiosa é retratada como frustrada e neurótica. E enquanto a temporada anterior mostrava pessoas de classe média suando entre bicos e pequenos empregos para ganhar a vida, os ricos desta temporada mal aparecem trabalhando.

Por ora, o que deu para apreciar foi a direção inspirada de Luisa Lima, que busca o maior estranhamento possível para cada cena; e o talento assombroso de Edu Sterblitch, provando que a comédia era muito pouco para o seu talento.

"Os Outros" – 2ª temporada
Três primeiros episódios disponíveis no Globoplay
Novos episódios às quintas

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem