'Os Outros' se atrapalha em sua segunda temporada
Com religiosa desequilibrada, trama hesita entre prosseguir com as velhas histórias ou apostar nas novas
Junto com "Cangaço Novo", "Os Outros" foi a série brasileira mais vista e comentada de 2023. A história foi sucesso de audiência e crítica tocando em questões que estão na ordem do dia do brasileiro: a preocupação crescente com a segurança, a polarização de ideias que divide famílias, o crescimento das milícias como poder paralelo às vezes maior que o Estado.
Essa barra lá no alto pode explicar a decepção com a segunda temporada, que estreou ontem no Globoplay. A nova trama é centrada no miliciano Sérgio (Edu Sterblitch), o melhor personagem da primeira história, que foi eleito vereador no Rio.
Ele se mudou para um condomínio de luxo com a mulher e a filha, Lorraine (Gi Fernandes), que teve seu filho com Marcinho (Antonio Haddad). O rapaz segue foragido, para desespero da mãe, Cibele (Adriana Esteves).
No novo endereço, Sérgio enfrenta a hostilidade dos vizinhos que sabem das denúncias contra ele. Entre os mais próximos, estão Paulo (Sérgio Guizé) e Raquel (Letícia Colin), uma cristã fervorosa que reúne os demais vizinhos para reuniões religiosas (ou células, como ela chama) em sua casa.
Nos três primeiros episódios disponíveis, a nova temporada se atrapalha entre dois caminhos: prosseguir com a história dos personagens velhos e apresentar a trama dos novos. Com um pé em cada canoa, a ligação entre velhas e novas tramas resulta um tanto artificial (a partir daqui, há spoilers).
MUDANÇAS BRUSCAS
Para ficar em alguns exemplos: de início, Raquel quer a expulsão da família do miliciano, mas muda rapidamente de ideia ao se conectar com a filha dele. Esta, que sempre teve um espírito independente e se opõe ao mando do pai, do nada aceita a proposta para ir às reuniões cristãs de Raquel. Sem contar as aparições do foragido Marcinho, com uma facilidade espantosa de penetrar em lugares supostamente vigiados.
Perdida, Cibele só faz chorar a ausência do filho; já o pai do rapaz, Amâncio (Thomás Aquino), estranhamente não derrama uma lágrima por ele. Determinados a terem seu primeiro filho, Paulo e Raquel ainda não mostraram potencial para liderar a guerra entre vizinhos que vimos na primeira leva com Wando (Milhem Cortaz) e Mila (Maeve Jinkings).
Enquanto Paulo se vicia num absurdo jogo de realidade virtual (chamado, olhe só, de 'O Outro'), Raquel passa todas as cenas mostrando seu desequilíbrio mental e o ciúme do marido com expressão de psicopata.
Como reza o clichê, a personagem religiosa é retratada como frustrada e neurótica. E enquanto a temporada anterior mostrava pessoas de classe média suando entre bicos e pequenos empregos para ganhar a vida, os ricos desta temporada mal aparecem trabalhando.
Por ora, o que deu para apreciar foi a direção inspirada de Luisa Lima, que busca o maior estranhamento possível para cada cena; e o talento assombroso de Edu Sterblitch, provando que a comédia era muito pouco para o seu talento.
"Os Outros" – 2ª temporada
Três primeiros episódios disponíveis no Globoplay
Novos episódios às quintas
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