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Thiago Stivaletti
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Novo Saia Justa estreia bem, mas pode ousar muito mais

Relevância da nova temporada vai depender da coragem do novo time para discutir questões espinhosas do Brasil de hoje

Quatro mulheres com roupas coloridas se abraçam
Rita Batista (à esquerda), Tati Machado, Eliana e Bela Gil comandam o Saia Justa (GNT) - Ju Coutinho/ Divulgação GNT
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São Paulo

Lá se vão 22 anos que o Saia Justa estreou a sua primeira temporada no GNT. Muito antes do termo "empoderamento feminino" ganhar os debates, o programa já dava voz a mulheres trocando ideias e opiniões sobre os mais diversos assuntos. Rita Lee, Fernanda Young (1970-2019), Marisa Orth, Luana Piovani e tantas outras já passaram pelo seu sofá.

A nova temporada, que estreou na última quarta (7), foi muito aguardada pela troca de comando: sai Astrid Fontenelle, que apresentava o programa há 11 anos; entra Eliana, a maior contratação do ano na Globo, vinda do SBT.

De formato simples, o Saia depende basicamente de dois fatores: o carisma e inteligência de suas integrantes e a riqueza dos assuntos abordados. O programa de estreia entregou animação e um bom clima de intimidade, tendo no time Tati Machado, de carreira meteórica na Globo, do sofá do Encontro e do Mais Você; Rita Batista, do É de Casa; e a chef Bela Gil, única remanescente da temporada anterior.

Como o clima era de novos ares para três delas, o tema escolhido para abrir o programa foi justamente a mudança. Entre filosofadas gerais, foi a oportunidade para Eliana relembrar a gravidez de risco de sua segunda filha, Manuela, que a obrigou à imobilidade quase total por cinco meses –e como o episódio a fez rever seus conceitos sobre controle da própria vida.

Minutos depois, ao falar de sua preferência por coisas assimétricas, Rita foi certeira ao pontuar que "infelizmente, os conceitos de perfeição e controle são atrelados ao feminino" em nossa sociedade.

CONTRA A GORDOFOBIA


Alguns quadros ainda precisam ser mais bem trabalhados. Em "Pergunta Saia Justa", gravado, Eliana tentou tirar de Maisa Silva se havia algum romance rolando no momento, só para ouvir que a moça está 100% sozinha. Uma brincadeira de "amiga oculta", em que amigas das quatro contaram histórias para que elas descobrissem de quem se tratava, não gerou o suspense que se prometia.

O último bloco deixou de lado as questões atemporais para se concentrar num assunto mais quente: o show que as atletas brasileiras estão dando nas Olimpíadas de Paris ao conquistar a maioria de medalhas vencidas até agora. Tati Machado aproveitou para abordar a gordofobia, lembrando a importância da judoca Bia Souza ser "um corpo gordo representando a nação".

Na estreia, que foi gravada e não ao vivo, cada uma das quatro falou bastante sobre si mesma: seus gostos, suas manias, as amizades femininas que mantêm na vida. É um caminho natural numa cultura cada vez mais voltada para o conteúdo "self" nas redes sociais. Foi útil para saber um pouco mais das novas integrantes, mas pode cansar ao longo de uma temporada inteira.

Sabemos que é difícil e delicado abordar certos temas num país polarizado como o Brasil, mas será um desperdício de talento se, nos próximos programas, não ouvirmos as opiniões das quatro sobre aborto, violência doméstica, feminicídio, trabalho escravo, assédio moral e sexual –só para ficar em temas onipresentes na mídia.

Como disse Eliana num momento dessa estreia: "Que a gente se sinta à vontade para conversar sobre tudo". E por que não, discordar como nos melhores debates. Só assim, além do entretenimento, o Saia pode também manter sua relevância.

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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