Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Thiago Stivaletti

'Cobras & Lagartos' consolidou o protagonismo negro nas novelas

Sucesso de Foguinho e Ellen com o público está de volta a partir desta segunda no Canal Viva

A atriz Taís Araújo e o ator Lázaro Ramos durante gravação da novela 'Cobras & Lagartos' - Ana Ottoni/Folhapress
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O Canal Viva reestreia nesta segunda (5) uma das raras novelas das sete que marcaram o público nos últimos 20 anos. "Cobras & Lagartos" (2006) ficou mais conhecida como "a novela do Foguinho", a estreia retumbante de Lázaro Ramos em novelas. Foi a segunda trama escrita por João Emanuel Carneiro, que vinha de outro sucesso das 19h, "Da Cor do Pecado", e depois faria o furacão "Avenida Brasil", às 21h.

A Globo investiu bastante em "Cobras & Lagartos" por dois motivos. Sua antecessora no horário, o faroeste "Bang Bang", foi um fracasso notório. E a Record estava roubando muita audiência no horário com "Prova de Amor". O investimento começou no elenco de peso: Francisco Cuoco vivia o milionário Omar Pasquim, de cabelos brancos e um bronzeamento artificial inspirados no estilista italiano Giorgio Armani.

E Marília Pêra (1943-2015) teve o seu terceiro grande personagem na Globo como a perua Milu, irmã de Omar, trambiqueira que tinha alguns dos melhores diálogos da trama. Milu tinha um certo parentesco com Rafaela Alvaray, a célebre perua cheia de manias que Marília fez em "Brega & Chique" (1987) –mas era um pouco menos elegante e bem mais maluca e sem noção. Roubava cada cena em que aparecia. Cássia Kis (bem antes da sua fase bolsonarista) e Eliane Giardini completavam o time de medalhões.

Meio sem querer, "Cobras & Lagartos" foi a história que cimentou o protagonismo negro nas novelas, movimento que foi crescendo nos anos seguintes. O casal de mocinhos da trama era branco (Daniel de Oliveira e Mariana Ximenes), assim como o principal casal de vilões (Carolina Dieckmann e Henri Castelli). Mas foi o casal Taís Araújo e Lázaro Ramos, como os trambiqueiros Ellen e Foguinho, que foi roubando a cena ao longo dos quase 180 capítulos da trama.

Deu ruim, mas deu bom

Até hoje, muitos fãs de Taís e Lázaro pensam que eles começaram a namorar na novela, quando, na verdade, eles já tinham trocado alianças um ano antes. Quem revê "Cobras & Lagartos" nota a química evidente entre os atores e seus personagens, mas, segundo o próprio Lázaro, o entrosamento não foi assim tão grande.

"Deu muito certo a novela, mas a gente não se deu bem trabalhando. A gente não respeitava o limite um do outro. Isso foi muito difícil naquela época. Quando acabou a novela, a gente pensou: 'meu Deus, será que a gente não vai mais trabalhar juntos?!'", ele revelou, em entrevista a Gabriela Prioli. Foi só depois de dois trabalhos no teatro e do seriado "Mister Brau" que eles "encontraram um jeito de respeitar o tempo e a opinião um do outro", segundo ele.

O Lázaro que me desculpe, mas essa falta de sintonia não transparece ao se rever "Cobras & Lagartos" –as cenas entre Ellen e Foguinho são deliciosas. O que talvez só prove que eles são mesmo grandes atores.

O luxo e o povão

Também vale buscar as razões do sucesso de "Cobras & Lagartos" no Brasil da época. No final de 2006, Lula ganhou seu segundo mandato presidencial na disputa com Geraldo Alckmin, e muito se falava na ascensão da classe C. Carneiro, o autor, soube traduzir esse momento criando os dois grandes cenários que ditavam os rumos da trama: o Saara, mercado popular de produtos baratos que replicava aquele de mesmo nome que existe no centro do Rio de Janeiro; e a Luxus, loja de departamentos chiquérrima com três andares, maior símbolo do império de Omar Pasquim. Os personagens oscilavam o tempo todo entre Luxus e Saara, do luxo ao povão, ao longo da novela.

Fãs de Carneiro hão de lembrar que ele repetiu esse cenário da loja de luxo criando a Rhodes em "Todas as Flores". Nas duas novelas, a loja vai pelos ares depois de um incêndio. Com a história de Foguinho, ele garantiu seu lugar entre os autores das 21h, flertando até com o gênero policial em "A Favorita" e "A Regra do Jogo". Mas seu humor faz muita falta às 19h, um horário que tem sofrido com histórias de humor ralo e pouca inspiração.

"Cobras & Lagartos"
Canal Viva, de segunda a sábado, às 15h30
Disponível na íntegra no Globoplay

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem