BBB 23: repescagem é palhaçada e Boninho quer ser Silvio Santos
A partir de agora, tanto faz quem volta, quem fica, quem ganha; programa já não faz mais sentido com o retorno de dois participantes eliminados pelo público
No ano passado, Alexandre Frota revelou num podcast, um dos maiores segredos da história da TV: por que ele abandonou a Casa dos Artistas, o primeiro reality show do Brasil, e como Silvio Santos fez com que ele voltasse.
Frota conta que tinha sacado que para chegar à final teria que eliminar Alessandra Scatena e, assim, combinou com seus aliados de voltarem para eliminá-la. Eis que durante uma transmissão ao vivo, Silvio Santos pediu para rodar um VT, com todos os movimentos de Frota combinando os votos contra a modelo.
Só que, em vez de exibir apenas para o público, o VT foi mostrado também para os participantes da casa, incluindo a modelo, violando uma regra básica dos realities, já que não pode haver interferência externa. Alessandra começou a chorar, Frota foi prejudicado, decidiu abandonar o programa e saiu da Casa dos Artistas. O erro era compreensível. No distante ano de 2001, reality shows eram uma total novidade, ninguém sabia nada direito.
Diretores, psicólogos, todos tentaram convencer Frota a voltar. Ele não queria. Até que Silvio o chamou em seu camarim, e, de calção, enquanto fritava bife com ovo, explicou que o programa era um sucesso absurdo e que ele tinha que se reintegrar. Frota foi então levado para as instalações da Casa dos Artistas.
Quando alguns diretores questionaram a quebra de contrato e das regras do programa, Silvio mandou a famosa frase: "Quem manda sou eu e ele vai voltar".
Corta para 2002, segunda edição da Casa dos Artistas. Todo o elenco na casa, programa rolando. Numa bela noite, do nada, a produção recebe uma informação. Silvios Santos mandou avisar que duas novas participantes entrariam: Analice Nicolau e Cynthia Benini. Assim, sem nenhuma explicação. Vinte anos depois, a jornalista Analice Nicolau contou num programa da Rede TV! como foi convidada para o reality.
Na época ela era modelo e fez capas de revista masculinas. Mandaram o material das revistas para Silvio Santos e ele disse: "Eu quero essa menina". Ela entrou subitamente para o elenco, mas foi rejeitada pelo público, e vinte e três dias depois, Analice foi eliminada.
Um processo parecido acontece agora no BBB 23. Depois da correta expulsão de Cara de Sapato e Guimê por assédio, o BBB 23 ficou com um buraco temporal. Para preencher esse tempo de programa, Boninho resolveu criar uma dinâmica de repescagem que vai trazer de volta dois eliminados, chamada de "Casa do Reencontro", que bem poderia ser chamada de "Dinâmica da palhaçada".
Sim, porque não tem outro termo para explicar como, do nada, duas pessoas eliminadas pelos votos do público, voltam ao programa, concorrem com os que conseguiram ficar até aqui, pelos votos do mesmo público.
Todos nós sabemos que não estamos falando da 'Legislação eleitoral', mas um programa de entretenimento de televisão, que fatura muitíssimo bem. Mas, mesmo sendo um jogo, um programa, ou o que for, ele tem regras. Regras que são combinadas antes de o jogo começar.
Mudar as regras do jogo, colocar de volta duas pessoas que foram excluídas, por um problema do programa, é fazer todo mundo de palhaço. Ou isso ou Boninho, mesmo sendo diretor, quer ser Silvio Santos, que é o dono de tudo, da emissora, dos programas, das regras.
A partir de agora, tanto faz quem volta, quem fica, quem ganha. O programa já não faz mais sentido. Quando um programa perde as regras, vale aquela famosa frase da ex-presidenta Dilma: "Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder."
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