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Thiago Stivaletti
Descrição de chapéu Filmes

Foto de Fernanda Torres mostra que o brasileiro não tem maturidade pro Oscar

É como se Flamengo, Fluminense e Corinthians se juntassem pra defender nossa Eunice Paiva, desenterrando uma mágoa de 25 anos pela injustiça com Fernanda Mãe

A atriz Fernanda Torres em foto publicada pelo perfil The Academy, dos realizadores do Oscar
A atriz Fernanda Torres em foto publicada pelo perfil The Academy, dos realizadores do Oscar - Sami Drasin/Reprodução
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"Esse filme já tá ocupando o que ele tá ocupando, as críticas... A gente tá na shortlist de coisas muito grandes pro tal do Oscar, que parece ser a fronteira final! Nós temos grandes chances de estar entre os filmes estrangeiros. Estamos trabalhando pra outras categorias. Mas o filme já é um acontecimento pra gente! O Oscar é muito importante por várias questões, mas também não é a medida de tudo. Eu não queria que no final todo mundo acabasse em ‘aaaaahhhhh!’ [em decepção]."

Fernanda Torres bem que tentou botar um freio na expectativa da imprensa e do público na coletiva de lançamento de "Ainda Estou Aqui" em outubro. Não adiantou nada. Bastou uma foto publicada no perfil da Academia de Hollywood no Instagram –aliás, uma bela foto, feita durante o Governors Awards, em Los Angeles– para Flamengo, Fluminense, Corinthians e todas as torcidas se unirem e baterem o recorde de likes, comentários e compartilhamentos no perfil gringo.

Quem tivesse chegado ontem à Terra e acessado o perfil da Academia teria certeza que Fernanda é uma estrela internacional maior que Tilda Swinton ou Jennifer Lopez. Como negar? "She is MOTHER", dizia a breve legenda postada pela Academia, com o termo que significa "rainha", uma mulher icônica e poderosa.

"Ela é a DAUGHTER. A mãe vocês roubaram em 1999", postou um seguidor, levantando a bandeira da mágoa que guardamos no peito há mais de 25 anos, quando nossa leitora de cartas de "Central do Brasil" perdeu para uma patricinha americana sem sal e vestida de homem em "Shakespeare Apaixonado".

Eu ia dizer que esse ranço é injustificado, mas depois lembrei que ele já é mais duradouro do que o tempo que esperamos entre o tri e o tetra na Copa do Mundo (24 anos) e o tempo que já estamos aguardando o hexa (22 anos). E ainda envolve um lance de dinastia importantíssimo para nós. Nunca tivemos uma rainha Elizabeth, mas temos Fernanda Mother e Fernanda Daughter, monarcas da interpretação, musas indiscutíveis do nosso panteão cênico.

Não adianta grande coisa falar em chances de indicação pra Fernanda a dois meses do anúncio, mas o fato é que o Oscar é uma das premiações mais suscetíveis a todos os tipos de lobby. Ela, Walter Salles e Selton Mello estão numa campanha incansável, apertando a mão de vários membros da Academia há semanas e gastando todo o inglês (aliás, que orgulho do Selton por seu trabalho ter emocionado o Sean Penn, seu maior ídolo).

Porém, como a Academia tem feito um grande esforço para ser mais moderninha e se ajustar aos novos tempos, o mais de 1,3 milhão de likes na foto de Fernanda deve funcionar como um inesperado lobby paralelo. O melhor de todos, aquele que vem do povo, dos fãs, dos verdadeiros patriotas —mesmo daqueles que não têm a menor intenção de ver o filme.

É... o brasileiro não tem maturidade para lidar com a expectativa de um Oscar. Mas essa imaturidade ainda pode ajudar a cavar uma indicação para nossa Eunice Paiva. Dedo cruzado é bom, mas é dedo nas redes que vira voto!

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Foi repórter na Folha de S.Paulo e colunista do UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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