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Rosana Hermann
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Série sobre Luva de Pedreiro é uma aula sobre o Brasil, redes sociais e comportamento humano

A simplicidade de Iran Ferreira fica ainda mais evidente diante dos oportunistas que abusam da sua ingenuidade e boa fé

Rapaz segura bola em frente a um gol
Iran Ferreira, o Luva de Pedreiro, no campo de terra batida no Sertão baiano - Henrique Arcoverde/Globo
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Eu já conhecia o nome e o bordão do Luva de Pedreiro (Receba!), mas nunca o segui, nem dei muita importância ao seu trabalho e fama. Até que li uma coluna que me fez mudar de ideia. Fiquei tão influenciada que resolvi assistir aos três episódios da série documental dedicada a ele, chamada "Luva de Pedreiro - O Rei da Jogada".

Em poucos minutos, eu já estava comovida com a simplicidade de Iran e com ódio mortal dos oportunistas que abusam da ingenuidade de pessoas de boa fé. Minha vontade era pegar a cara do ex-empresário do Luva de Pedreiro e chapiscá-la no cimento.

Além da trajetória meteórica e inesperada do rapaz, o que mais impressiona é ver como um simples gesto de gravar vídeos no celular e postá-los em redes sociais pode transformar completamente a vida de uma pessoa. É quase como um passe de mágica que catapulta o indivíduo do mais profundo anonimato direto para a fama mundial.

O que nos toca de verdade, porém, é ver o preço desse sucesso meteórico: o abuso de oportunistas sem escrúpulos, o ódio gratuito que acompanha a fama e o custo mental dessa mudança tão repentina.

A série também esfrega na nossa cara os privilégios que temos e dos quais nem nos damos conta. Enquanto muitos influenciadores investem em equipamentos de luz e som para produzir vídeos que ostentam riquezas e viagens, Iran precisava andar uma hora a pé por uma estradinha de terra para conseguir sinal para postar.

A falta de recursos na vida de Iran não era apenas tecnológica: ele nunca tinha comido pizza, nem experimentado batata frita. Confesso que criei uma empatia imediata com ele e fiquei torcendo para que tenha uma vida feliz e confortável junto de sua família.

A série também me fez rever minha posição em relação a essa mania de opinar sobre tudo e todos. Porque eu, você, todos nós estamos sempre julgando as pessoas nas redes, baseados no pouco que vemos delas. Não deveria ser assim. O correto seria conhecer toda a trajetória de uma pessoa antes de emitir qualquer opinião sobre ela.

Nesse sentido, seria bem interessante se outros documentários sobre influenciadores fossem produzidos. Quem é, de fato, Deolane? Por que as pessoas se interessam tanto pela vida de Virgínia Fonseca? Como Whindersson Nunes se tornou tão gigante? O triste fim de PC Siqueira foi fruto de uma injustiça? Por que algumas pessoas, quando ficam ricas e famosas, tornam-se insuportáveis? Ou elas sempre foram arrogantes e só não demonstraram por falta de oportunidade?

Confesso que me interesso muito por esse tema: o sucesso repentino e, muitas vezes, efêmero. Gosto de acompanhar as pessoas que ganham nessa "loteria da fama viral" e também a reação do público. Muitas vezes, os fãs também mudam de lado: aplaudem o influenciador enquanto ele é anônimo e sem recursos e o abandonam (ou até o atacam) quando ele se torna rico e famoso.

Recomendo a leitura da coluna que me influenciou e da série sobre o Luva de Pedreiro. É uma aula sobre o Brasil, redes sociais e comportamento humano, com tudo o que temos de melhor e pior em nós mesmos. É, sobretudo, um tapa na cara da sociedade, não com luva de pelica, mas com luva de pedreiro, para ver se a gente volta a ser um pouco mais empático e humano.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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