Filha de Silvio Santos diz que pai ainda manda no SBT e voltará ao ar
Daniela Beyruti fala de sua chegada à vice-presidência da emissora e dos planos para manter identidade do canal
Foi na apresentação da nova novela do SBT, "A Infância de Romeu e Julieta", nos Estúdios do SBT na Anhanguera, que Daniela Beyruti, 46, fez sua primeira aparição pública como vice-presidente da emissora fundada pelo pai, Silvio Santos. Enquanto um batalhão de fotógrafos clicava imagens do elenco, a nova chefa assistia à cena de longe, quase como figuração, sentada em uma das cadeiras laterais do local, ao lado da filha de 9 anos.
"Eu não gosto de aparecer, gosto muito de bastidores", sorriu ela, ao ser abordada pela coluna para uma breve conversa.
Filha número 3 de Silvio Santos, como o patrão gosta de nominar as herdeiras, Daniela é primogênita de Íris Abravanel, ali presente diante dos holofotes como principal voz da nova produção, uma parceria bem acertada com o serviço de streaming da Amazon, o Prime Video. É Iris quem assina as tramas infantis da casa desde a adaptação de "Carrossel", uma aposta certeira da empresa, ainda em 2012.
A proposta de fazer novelas infantis surgiu ali, 11 anos atrás, como ideia da própria Daniela, e vinha na esteira da busca de um nicho mal explorado pela Globo, líder de audiência da faixa nobre desde os anos 1970, justamente pela produção de novelas.
Embora já tivesse alcançado bons números de audiência nos anos 1990 com a versão original de "Carrossel" e, mais tarde, com uma produção própria de "Chiquititas", a continuidade do gênero infantojuniveni nas novelas só se firmou mesmo de 2012 para cá, dando ao SBT o acerto de um alvo difícil de alcançar e que a emissora não necessariamente mirou na ocasião.
"As nossas novelas têm sido uma vitrine do SBT e para o SBT, porque atingir a nova geração não é fácil, e a TV atingir essa nova geração era um grande desafio. E de uma forma muito bacana, com a volta de 'Carrossel', sem a gente saber dos desafios que estavam por vir com essa geração, que é muito mais tecnológica do que a gente imaginava lá quando a gente começou com 'Carrossel', a gente viu: 'nossa, acertamos'.", constata Daniela.
CONHECENDO A COZINHA
Quando lhe perguntam o que ela planeja para os novos tempos do SBT, a executiva pede calma: "Acabei de chegar, ainda estou conhecendo a cozinha, vendo onde ficam as panelas", justifica. Não que ela nunca tenha participado da parte operacional da emissora, mas faz oito anos que se afastou do dia a dia da empresa, onde já foi diretora artística, para priorizar os filhos, permanecendo desde então, até abril deste ano, apenas no conselho que rege o grupo.
"Eu já sabia que isso algum dia ia chegar. Eu estava no Conselho e acompanho o SBT de longe, mas parte do comitê do SBT, estava num lugar mais macro", fala. "Eu não estava nem pronta pra voltar para o operacional, enquanto não estivesse tranquila de que a minha casa estava bem, de que os meus filhos estavam bem, que eu pudesse voltar em paz. E daí, no começo deste ano aconteceram algumas coisas que... Sabe quando você fala que é o tempo e não sabe explicar? Chegou a hora de voltar, de estar mais presente, de definir alguns caminhos, não perder a nossa identidade, não perder a nossa essência."
"Tudo isso que foi falado aqui [sobre os propósitos de levar leveza e afeto ao público por meio das novelas infantis] são anos de construção. Tudo que vem desse carinho, dessa atmosfera, desse clima. É uma vida: 42 anos que o SBT tem, então são 42 anos desse ambiente mais familiar, mas próximo, de olhar olho no olho, de não ter uma hierarquia no sentido de poder, que distancia as pessoas. E daí eu falei: 'não, isso aqui precisa continuar'."
O SILVIO É COISA NOSSA
Quando lhe pergunto se o pai ainda dá pitacos na programação, causando polvorosa diante de seus impulsos, Daniela deixa claro que ele é quem manda, sim. "Nessas férias, ele estava vendo um programa e cronometrando, decupando o programa inteiro. Sério. Ele não para. Ele estava lá tirando ideias do programa e vendo quanto tempo tinha cada quadro. Esse cronômetro é alguma coisa que eu vejo desde pequena. Ele sente o programa, ele tem ideias através do que está assistindo e vai criando em cima disso."
Aos 92 anos, conta, o pai não para, e embora já tenha marcado e desmarcado gravações para voltar aos estúdios no programa que leva o seu nome desde os anos 1960, Silvio deve retomar o expediente em breve, ela acredita. No momento, as filhas tentam persuadi-lo a voltar para gravar a edição anual do Troféu Imprensa, mas ele ainda não decidiu quando retornará.
O fato de interferir diretamente na programação da emissora e parecer um patrão tão acessível faz muita gente no SBT falar indevidamente em nome dele, reconhece Daniela. "O que tinha de Silvio Santos no SBT era demais, agora tem menos", ela brinca, sobre projetos que sequer vão adiante porque sempre tem alguém para prever que "o Silvio não gosta disso" ou "o Silvio não vai deixar".
SUCESSÃO
Daniela explicou que ela e as outras cinco irmãs fizeram um longo trabalho sob coordenação da consultoria McKinsey, contratada no início da década passada para iniciar um processo de sucessão no Grupo Silvio Santos.
"A Renata [Abravanel, caçula] é presidente do Conselho hoje. Desde 2010, a gente começou um processo de governança e nesse processo a gente entendeu, fez um trabalho bem extenso com a McKinsey, e agora começou a colocar tudo o que a gente planejou em prática. Tem sido um aprendizado muito grande pra gente como família e como empresa. A gente tem todo um processo de recorte, toda uma coisa mais estruturada, mais organizada, e a gente viu que é necessário, para os tempos de hoje e para os tempos futuros também."
A governança é um modelo para o qual as empresas grandes acabaram migrando, explica ela, com um conselho externo para ajudar a tomar decisões.
De certa forma, o SBT, assim como o Grupo Silvio Santos, nasceu e cresceu de forma absolutamente intuitiva, bem ao modo como o próprio Senor Abravanel construiu sua trajetória. Agora é esperar para ver se Silvio Santos vem aí, e quando vem.
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