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Zapping - Cristina Padiglione

O que esperar de 2023 na televisão?

Sem disputa eleitoral e Copa masculina, ano que se inicia abre espaço para mais criatividade e menos agenda: dez razões para ligar a TV

Tata Werneck volta a fazer novela, e de novo com Walcyr Carrasco, com quem estreou na Globo - Manoella Mello 16.dez.2022/Globo
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São Paulo

No quesito grandes eventos, 2023 em tese já perde para 2022 pelo simples fato de já não termos nem disputa eleitoral nem Copa do Mundo masculina pela frente, mas não é isso que determina a conexão do público com a TV, ou não necessariamente. Além disso, se teremos menos agendas a cumprir, teremos também mais flexibilidade para explorar a criatividade, especialmente na TV aberta, nicho que ainda detém mais de 50% da atenção do público neste país.

Há, por exemplo, a boa chance de voltarmos a ter uma novela das nove, produto de maior audiência da televisão nacional, capaz de catalisar emoções. Por menores que sejam as expectativas com a volta de Walcyr Carrasco ao horário, é certo que "Travessia", enredo ainda vigente, não mostra salvação, de modo que só nos resta esperar pela próxima trama.

E já que os meninos do futebol não honraram muito a nossa torcida, vamos nos dedicar a acreditar nas meninas: vale acompanhar como será a primeira transmissão de uma Copa do Mundo feminina na TV aberta, via Globo.

A Band, já ciente do custo-benefício trazido por Faustão, ajusta a conta para fazer o espetáculo caber no orçamento. SBT e Record refazem suas linhas editoriais após a adoração ao governo anterior e carecem de novos rumos de entretenimento. No caso da TV de Silvio Santos, a queda sistemática de audiência mostra que é urgente saber quebrar a programação para se valer da transmissão de acontecimentos ao vivo, o que tem sido dito há anos, em vão.

Na Cultura, há que se testar o poder de autonomia da Fundação Padre Anchieta na inauguração de um novo governo no estado, principal caixa da emissora.

Enquanto isso, a TV paga se abastece cada vez mais de opções que possam monetizar seus conteúdos por meio do streaming. Na soma da Discovery com a Warner, o mercado testa novos limites para entender quem vê tanta TV. A queda de assinantes na Netflix, maior plataforma paga do mundo, reforça que não será possível pagar tantos investimentos sem a ajuda da publicidade.

A seguir, enumeramos em dez tópicos as perspectivas para as telas domésticas no ano que se inicia. Feliz Ano Novo a todos os leitores/telespectadores, e que o controle remoto nos acompanhe nessa jornada.

1 - A próxima novela das nove volta a circular pelo universo do agronegócio, muito provavelmente sem a poesia de "Pantanal", mas com foco no encanto gerado por aquele universo. A Globo não manterá o "Terra Vermelha" como título provisório, até para evitar ecos bolsonaristas capazes de ver nessa cor um vínculo fantasioso com o comunismo, ainda mais em ano que inaugura nova gestão do PT no comando do país. Mas há boas perspectivas, trazidas pelo retorno de Tatá Werneck e peça presença de Bárbara Reis como protagonista.

2 - Muito provavelmente, teremos três novelas inéditas simultâneas na Globo com a presença de atrizes negras no posto de protagonista. Além de Bárbara Reis às 21h30, "Vai na Fé", de Rosane Svartman, que está para estrear, tem Sheron Mennezzes na linha de frente. E Isabel Fillardis deve ficar com a função na faixa das seis. É um avanço cobiçado pela emissora que segue imbatível como maior produtora de teledramaturgia do país e busca espelhar melhor a população em suas histórias.

3 - Sem mais um time de autores contratados, a Record padece de mau momento na sua teledramaturgia, sob os domínios de Cristiane Cardoso, filha de Edir Macedo. A emissora promove ajustes para retomar a produção, ainda sem perspectivas concretas de êxito. No SBT, as expectativas nessa área também são baixíssimas, mas, assim como a Record persegue o filão bíblico, a rede de Silvio Santos também se mantém fiel ao público infantil.

4 - A Globo experimenta pela primeira vez a transmissão de uma Copa do Mundo feminina, calçada em dados que apontam a presença majoritária feminina na audiência da Copa do Qatar. Será um ano de avanço também para as profissionais do ramo, que estrearam nos cargos de narração e comentarista durante o mundial masculino.

5 - Ainda no quesito esporte, a Globo tira do SBT o alvo de suas melhores audiências no último biênio: a Copa Libertadores estará de volta à emissora dos Marinhos, com Luís Roberto agora à frente das narrações mais emblemáticas, e não só no caso da Libertadores, ocupando de vez o terreno dominado por Galvão Bueno nos últimos 40 anos. O reposicionamento dessa escala também abre mais espaço a Gustavo Villani, Cléber Machado e Renata Silveira.

6 - Sem fugir da bola, a Cazé TV, obra da união entre o jornalista esportivo Casimiro Miguel e a LiveMode na Copa do Qatar, anunciará em breve a distribuição pelo YouTube de novos direitos esportivos relevantes. O mercado anunciante, que sustenta iniciativas como esta na maior plataforma gratuita de streaming do mundo, tem todo o interesse em alimentar os mais de 6 milhões de inscritos reunidos pelo canal ao longo dos 30 dias de Copa do Mundo.

7 - No campo do entretenimento, as empresas de streaming que viveram até aqui apenas de assinaturas passam a flertar consistentemente com a publicidade para ajudar a cobrir a conta de tantos investimentos em tantas janelas. A única empresa que se mostra mais segura para sustentar esse modelo é a Amazon Prime Vídeo, em função de seus negócios na distribuição de produtos e livros.

GloboPlay e Netflix já trabalham no modelo que mescla assinaturas e publicidade, com tendências de reforçar as opções de pacotes híbridos. Na firma brasileira, já são certas as produções de mais uma novela ("Guerreiros do Sol", sobre casais do cangaço), uma 2ª temporada da boa série "Encantado's", primeira criação de roteiristas negros, com elenco majoritariamente negro, além de "José e Durval", que conta a trajetória de Chitãozinho e Xororó, com os irmãos Rodrigo e Felipe Simas, e uma série sobre Hebert de Souza, o Betinho, protagonizada por Júlio de Andrade.

8 - A Globo segue mantendo séries e novelas curtas como produtos originais do streaming, mas a boa notícia desse modelo, para quem não pode pagar para ver, é que já podemos cravar boas expectativas pela novela da vez na TV aberta: sucesso no streaming, "Todas as Flores", de João Emanuel Carneiro, chega à Globo no segundo semestre, pouco depois de os assinantes acompanharem a segunda temporada da saga de Maíra (Sophie Charlotte), que só irá ao ar em abril, após o fim do BBB 23.

9 - Ah, sim, vamos ao BBB. Assim como esperamos por dias melhores na novela das nove, são altas as expectativas para os reality shows do ano. A disputa eleitoral parece ter roubado dos programas de entretenimento todas as emoções possíveis em 2022. Foi difícil competir com o reality das urnas, que teve direito a cenas impensadas até pelos melhores roteiristas. Assim, a Globo pretende agradar às mais de 30 marcas que já lhe confiam investimentos para o BBB, sem falar naquelas já comprometidas com mais uma edição do insosso "No Limite", que dessa vez aposta suas fichas em um cenário de foco mundial, a Amazônia. Na Record, também por questões de venda publicitária, também já é certa nova edição da Fazenda para o fim do ano.

10 - Por falar em Record, o ano começa com expectativas de dança de cadeiras no time de apresentadores da TV aberta, a começar pela negociação de Rodrigo Faro com a emissora. Sua permanência na casa ainda é dúvida. Já Faustão segue na Band, a princípio de segunda a sexta, mas sem descartar um projeto de exibição duas vezes por semana, incluindo o domingo, seu dia de excelência na tela. Quem sabe?

As fichas estão lançadas.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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