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Zapping - Cristina Padiglione

HBO Max causa revolta ao cortar pela metade edição do Greg News no YouTube

Habituados a ver o programa de graça, na íntegra, espectadores se queixam da pressão por assinatura

O escritor, poeta e ator Gregório Duvivier
Gregório Duvivier no Greg News - Reprodução HBO
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A fusão da Discovery com a Warner Bros. já afeta o conteúdo das produções nacionais disponíveis em sua plataforma de streaming, a HBO Max. Nesse casamento de gigantes, cabe à Discovery decidir quem fica, quem sai e qual fatia do bolo cabe a cada um no novo cenário.

Único título semanal do grupo, o Greg News, comandado por Gregório Duvivier, colunista da Folha, antes estava sob o controle da Warner e agora sofre o impacto das decisões da nova chefia do conglomerado, ou seja, da turma que veio da Discovery.

Desde sexta-feira, 11, a atração perdeu a exibição na íntegra oferecida pelo YouTube, a fim de manter um segmento exclusivo só para assinantes na HBO Max.

A iniciativa pode ser vista como sinal de que o grupo confia ao Greg News um bom potencial para atrair novos assinantes. Esta coluna, fã do programa, acredita que seu conteúdo vale cada centavo do ingresso pago, mas também lamenta que uma companhia tão robusta como a Warner Bros. Discovery abandone a ideia de bancar um produto de tamanha utilidade pública, cuja exibição gratuita vale como cartão de visitas para o vasto repertório do catálogo oferecido via assinatura.

Passar a cobrar pela sobremesa antes oferecida de graça é uma operação de risco.

Na publicação do episódio Queima de Estoque, que tem 14 minutos dos 33 da íntegra oferecida pela HBO Max, a maioria dos 2.582 comentários publicados até este domingo, dia 13, era de queixas à perda da íntegra do Greg News no portal de vídeos do Google.

HÁBITO DE GRATUIDADE

Há seis anos no ar, o programa habituou um grande público a ver de graça um produto criado para a TV e streaming por assinatura. Embora na sua fase de lançamento, lá em 2017, a HBO tenha previsto que exibiria apenas uma parte de cada edição do Greg News no YouTube, a produção logo passou a disponibilizar a versão completa do produto oferecido a assinantes da HBO.

"Nosso programa aqui no Youtube hoje acabou um pouco mais rápido, desculpe, nunca aconteceu comigo, mas é que a audiência de vocês foi muito gostosa", brincou o humorista no final da versão publicada no YouTube na sexta, dia 11.

"Mentira", continuou, "é que na verdade, a partir dessa semana, a gente vai sempre ter um segmento inédito do Greg News exclusivo pra plataforma de streaming HBO Max. Ah, você não tem HBO Max? Tem certeza? Hoje em dia, é difícil de saber, com tanta coisa que a gente assina, talvez você tenha HBO Max assintomática. Às vezes você assinou um pacote de TV e quando viu, contraiu HBO Max."

A seguir, o apresentador enumerou algumas vantagens do catálogo do serviço de streaming pago, mas não conseguiu evitar as queixas. Alguns comentários citam a defesa do Greg News, uma produção com o selo do Porta dos Fundos, à democratização da informação para sublinhar a importância do conteúdo do programa.

"Tomara que a equipe do Gregório esteja de olho nesses comentários e já comece a pensar em conteúdos alternativos à parte para sanar essa jogada de marketing da HBO. A gente não tem dinheiros, a gente não tem nem emprego, cara... E agora fica todo mundo aqui, se sentindo meio bosta, porque mais um dos poucos prazeres que nos resta nos foi tirado. Uma pena essa estratégia da HBO, combina em nada com o público do programa. Enfim, tomara que as reações contem. Não acredito que o aumento dos assinantes compense o número de seguidores frustrados. Gregório e equipe merecem demais, é que a gente tá quebrado mesmo, sorry!", escreveu Cintia Echel.

Marília Macedo comentou: "Um dia o Greg fez um vídeo sobre o acesso à informação de quem não tinha plano de dados e como isso era ruim. Agora nós perdemos um conteúdo que era gratuito e tem excelente qualidade". E Débora Lacerda ironizou: "Que ideia maravilhosa HBO! Colocar parte de um programa tão importante e informativo pra streaming. Agora só vê quem pode. Parabéns, acabou com a proposta do programa

Nos Estados Unidos, o Last Week Tonight, com John Oliver, que tem no Greg News a sua versão brasileira, tem edições completas disponibilizadas no YouTube, somando até mais de 5 milhões de visualizações em um único episódio. O Greg News atrai normalmente mais de 1 milhão por postagem, beirando os 2 milhões em alguns programas no portal.

PAGANDO PARA VER

Faz sentido questionar se a gratuidade do programa inibe a possibilidade de novas assinaturas e, portanto, do potencial do Greg News em acrescentar algumas cifras a mais ao faturamento da companhia. Mas também cabe enxergar o título como um repertório capaz de atrair semanalmente os olhares de uma plateia que valoriza entretenimento e informação, agrupando, portanto, um potencial de futuros clientes.

Convém notar que boa parte dessa plateia simplesmente deixará de ver o programa completo porque de fato não pretende ou não tem como acrescentar mais um gasto ao seu orçamento doméstico.

Há ainda espectadores que viam o programa pelo YouTube porque estão no exterior e não têm acesso ao catálogo da HBO Max na versão brasileira, como consta nos comentários da publicação do episódio desta sexta.

De toda forma, o grupo tem aí um impasse a resolver com o consumidor brasileiro. A HBO já foi o serviço mais caro, dito premium, entre os streamings acessados no Brasil. No auge de "Game of Thrones", há coisa de quatro ou cinco anos, havia quem pagasse R$ 39,90 por mês para crer nos dragões de Daenerys Targaryen. Hoje, o custo mínimo da mensalidade não chega a R$ 20.

Ninguém reclama quando as coisas se tornam mais acessíveis. Já o caminho contrário não costuma encontrar êxito. Abaixo, o episódio mais recente na versão do YouTube.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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