Greg News volta ao ar, mas fará pausa para fugir de lei eleitoral
'O programa não é imparcial, mas tem de ser objetivo, e estaremos muito engajados nessas eleições', diz humorista
Nem Gregório Duvivier e a equipe do Greg News tinham noção da falta que fazia uma reunião de pauta presencial para a criação do programa da HBO, que chega nesta sexta-feira (18) à sua 6ª temporada. A descoberta veio após dois anos de pandemia e forçados encontros virtuais, todos muito cansativos em razão de um expediente que dura até dez horas.
Na versão presencial, agora de volta (e na nova sede do Porta dos Fundos, coprodutor do Greg News), tudo flui melhor. As ideias surgem também durante a pausa para o almoço ou na extensão do time à mesa do bar após as gravações.
Tudo isso vem sendo experimentado agora com o devido valor de algo do qual todos foram privados desde março de 2020, quando teve início a pandemia trazida pela Covid-19.
Adolescência, tema que abre a nova safra de episódios, é o primeiro fruto desse retorno presencial da equipe e também da pequena plateia do programa, peça que, para o humorista, colunista da Folha, é um personagem da atração.
Em ano eleitoral, embora festejemos a existência de pelo menos um programa de humor disposto a mexer no vespeiro da política, sua produção ficará suspensa durante o período em que vigora a lei eleitoral, resultando em apenas 19 edições para o ano todo --normalmente são 30.
O programa fica no ar até junho, dando ao apresentador a chance de curtir o nascimento e os primeiros meses de sua segunda filha, que chega em julho, e só serão retomadas em novembro, com as eleições já definidas.
"O programa não é imparcial, mas tem de ser objetivo, e nós também estaremos muito engajados emocionalmente nessas eleições", admite Greg em entrevista à coluna por videoconferência.
O programa finalmente terá sua plateia de volta. Como foi experimentar isso de novo, após dois anos sem público presencial?
Gregório Duvivier - Você não sabe minha alegria de voltar às reuniões presenciais! Eu nem sabia o quanto eu estava com saudade de encontrar as pessoas, mais até do que da gravação com plateia. Foi milagroso. A gente estava há dois anos no zoom e o Greg News tem reuniões muito longas porque a gente escreve juntos, são 20 mãos que se metem naquele Google Docs, ficamos às vezes 10 horas em reunião e isso é duas vezes mais cansativo. Dizem que essa tela faz mal pra cabeça, deprime as pessoas, e a gente interage de maneira diferente, não é tão fluida, a reunião, porque um tem que esperar o outro falar, tem turnos de fala.
Aí ficamos assim: 'meu Deus, eu tinha esquecido como era prazeroso fazer reunião presencial, fora que a gente come junto, aí, no almoço surgem ideias. E depois [da gravação] do Greg News a gente foi num bar, uma coisa que a gente também não tinha feito ao longo de dois anos. Aí, no bar já vem a ideia de um programa pra semana que vem, porque o bar faz parte do processo criativo, do analista, do comediante, e a gente tinha perdido isso, e foi milagroso ver o poder criativo de uma aglomeração, foi isso que eu experimentei.
Junto com isso, a plateia. A plateia ainda é muito reduzida e eu estou torcendo pra HBO aumentar, porque eles falaram que iam aumentar de acordo com os protocolos sanitários. Por enquanto, ainda tem só 20 pessoas porque tem que testar todo mundo testado e todo mundo de máscara, mas acho que ao longo da temporada a gente vai aumentando. O meu sonho é chegar àqueles 200 lugares.
Antes da pandemia, a gente ia fazer num teatro com 500 pessoas, imagina! Aí a pandemia veio exatamente em março, e fomos pra zero pessoas. Aliás, pra uma pessoa só: a minha mãe, e ficamos assim por dois anos, às vezes meu irmão vinha, minha irmã, e agora estamos com 20, ou seja, já é 20 vezes mais, mas eu queria chegar a um número ainda maior porque o que eu fui vendo ao longo do Greg News que a plateia é um personagem do programa. Ela é muito importante, não só na risada, mas na resposta ao que eu vou falando, e em geral a gente fazia uma passada do texto com plateia e essa plateia ela ria, opinava, falava, ou dizia ‘eu não sei quem é Jordy, vocês estão falando do Jordy, cantor’, aí a gente vê que nem todo mundo lembra do Jordy e então era bom mostrar a cara dele. É um programa feito não só com plateia, mas para a plateia.
O humor tem isso. Eu vi uma entrevista do Chris Rock, perguntaram a ele se ele não ia fazer shows online, porque os músicos estavam fazendo show online na pandemia, e os atores e os comediantes não, e o Chris Rock falou: 'É diferente porque, ele falou em inglês, ‘I play the audience’. O comediante não é uma pessoa que toca um instrumento, feito um músico, a plateia é o instrumento que ele toca. Então ele não consegue fazer online.
Agora a gente só grava uma vez à noite e a primeira passada a gente tá fazendo online. Porque a gente está se reunindo no Porta agora, por causa dos protocolos sanitários. O Porta tem uma sede, de novo. Desde a bomba [que atingiu a produtora em dezembro de 2020, em protesto ao especial de Natal do grupo naquele ano] que a gente não tinha uma sede. Agora, a gente tem uma sede incrível. Então, a gente está fazendo lá, que é um escritório superconfortável, superlegal, mas aí lá não tem plateia, a gente só voltou a fazer essa passada, vamos ver como vai ser, porque é muito importante ter gente ouvindo o texto antes de a gente fazer de verdade.
Qual o tema desse primeiro programa?
Greg - Adolescência. A gente tem um esforço de não falar aquilo que todo mundo já está cobrindo tão bem. Guerra na Ucrânia tem não só os humoristas americanos fazendo show sobre, mas todo mundo está cobrindo. Então, adolescência é uma coisa de que não estão falando, mas a gente está com a menor inscrição de jovens de 16 a 18 anos na história para tirar título eleitoral. Só 10% dos jovens estão se inscrevendo, e ainda tem duas ou três semanas para eles se cadastrarem.
A gente fala com um público muito jovem, não só, mas uma parcela significativa do nosso público é adolescente, e não só no YouTube, como professores que põem na aula também, que é um feedback que eu adoro. Quem diria que um dia eu estaria voltando para a aula, eu que era um estudante zoneado, bagunceiro.
E vão ser só 19 edições neste ano? Vocês vão fazer uma pausa durante o período de campanha eleitoral?
Greg - A gente vai parar, até porque eu vou ter mais uma filha, [a gestação está] já com cinco meses. Nasce em julho. A gente faz o programa até junho, que coincide com o início da lei eleitoral. É muito difícil fazer o programa durante as eleições, que é um daqueles paradoxos do Brasil. Durante as eleições, justamente a época em que a gente mais precisaria do programa, não vai dar para fazer por causa da lei eleitoral. A gente é enquadrado como jornalismo, e de fato o programa tem jornalismo envolvido, então teria que ser imparcial. Fala do Bolsonaro? Tem que falar do Lula. Tem um monte de critérios.
E aí não vai ter programa.
Greg - Já são duas eleições que a gente pegou e nas duas não pode fazer nesse período. Seria muito perrengue, todo dia o risco de o TSE tirar do ar. A lei eleitoral é muito rígida com comediante e muito pouco com político, porque a gente sabe que os políticos disparam em massa no WhatsApp, não tem nenhuma regulação direito pra internet, mas pra televisão, pro jornalismo e pra comédia, essa é implacável. O TSE já derrubou um vídeo do Porta dos Fundos, na época zoando o Garotinho. Depois voltou porque viu que não fazia sentido.
Mas a HBO não pode correr esse risco de o programa sair do ar, então a gente prefere não estar. E tem uma coisa também, que nessas eleições, sobretudo, eu vou estar em campanha, né? Não que eu vá me candidatar, mas vamos estar muito engajados emocionalmente. E esse programa, embora não seja imparcial, ele precisa de uma objetividade com os assuntos, isso ele tem do jornalismo, mesmo quando a gente faz piada.
Acho que durante as eleições vamos estar todos muito engajados na campanha e talvez nem conseguindo fazer humor.
Mas podemos esperar por temas ligado às eleições enquanto ele estiver no ar, até junho?
Greg - Com certeza, a eleição é o grande assunto. Cada vez a gente vai falar de um jeito, né? O primeiro programa , por exemplo, é qual é o lugar dos adolescentes nas eleições? Por que será que eles não estão se cadastrando pra votar? Quais são os sintomas dessa adolescência que não está se inscrevendo? Também é a geração de menos inscritos no Enem. No ano passado houve recorde negativo de inscrições no Enem.
A gente quer falar de eleições sempre com um enfoque que a gente acha que as pessoas talvez não estejam lembrando, então adolescência é um deles. O outro é meio ambiente: Amazônia, qual é o papel do meio ambiente, o que os candidatos estão falando sobre isso? A ideia é falar de eleição sempre, mas tentando trazer um enfoque novo, para não ficar na polaridade Lula-Bolsonaro.
Greg News: Toda sexta, às 23h, na HBO
Estreis nesta sexta (18). Todas as edições são disponibilizadas na HBO Max e também no YouTube logo após a exibição pela TV.
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