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Zapping - Cristina Padiglione

Sem diversidade racial, Globo 'vai para o precipício', diz Dilma

A Mano Brown, ex-presidente afirma que emissora 'às vezes é mais esperta que as outras'

Dilma Rousseff
A ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff no podcat Mano a Mano, de Mano Brown - @manobrown no Twitter
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A questão racial e toda a desigualdade provocada por mais de 300 anos de escravidão no Brasil é um dos assuntos que mais consumiram tempo na conversa de 1h40 entre Mano Brown e a ex-presidente Dilma Rousseff para o podcast Mano a Mano, um hit do Spotify. A edição entrou no ar nesta quinta-feira (28).

Após muito falar sobre o tema e ser questionada por Brown se o Brasil tem condições de financiar educação e saúde para o povo, Dilma disse que "este país é rico" e tem dinheiro. Lembrou que Lula saldou a dívida do Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional) em 2005 e falou: "acumulamos US$ 380 bilhões, que tá aí". "Quando eu falo pra você que somos ricos, não somos um povo qualquer, descobrimos o pré-sal [...] A Globo pode falar vinte vezes que nós não tínhamos tecnologia pra extrair o pré-sal, mas se nós tivemos pra descobrir, como é que não vamos ter pra extrair? Que história é essa?"

Ao ouvir a menção crítica à emissora, Brown aproveitou para lhe perguntar: "Como é que você vê o posicionamento da Globo nos últimos tempos, que tem colocado pessoas negras na tela, diversidade?" Ao que Dilma respondeu: "Se ela não fizer isso, ela vai mais rápido pro precipício". "As outras não estão fazendo isso", ponderou Brown. "A Globo, tem hora que é mais esperta que as outras", rebateu a entrevistada, emendando: "Se não tiver a cara do Brasil progressivamente, vai ser muito difícil, não dá pra sustentar."

Para a ex-presidente, a gestão petista no governo federal deu início, por uma série de ações, à discussão sobre a necessidade de promover políticas sociais no sentido de reduzir a desigualdade que atinge especialmente a população negra, além da indígena. "O dia em que eu disse numa reunião que o Brasil era o segundo maior país negro do mundo e o primeiro país negro fora da África, você tinha de ver as caras. Houve uma evolução. [...] Uma das contribuições foi botar na pauta a questão racial: pela primeira vez teve um ministério que defendia igualdade racial. Tenho convicção que no Brasil, tudo de mais complicado tem a ver com o fato de mais de 300 anos sermos um país que sofreu escravidão", falou.

Mano Brown explicou que boa parte dos negros entende a política de cotas como algo que deprecia a capacidade dessas pessoas, e reforçou como é complexo mudar a cultura em que muitos foram criados, sem compreender o que representa ser negro. O rapper lembrou que nem todos entendem que há necessidade de promover ações como as cotas como meio de compensação, palavra usada por Dilma, para reduzir a desigualdade social.

Os dois conversam ainda longamente sobre religião, pedalada fiscal, misoginia e política, passando pelo impeachment. A edição está disponível no Spotify e no YouTube, no canal Mano a Mano, vice-líder no ranking dos mais ouvidos do Spotify em 2021.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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