Em reprise de 'Ti Ti Ti', Murilo Benício diz que quer focar agora a direção
Novela de 2010 estreia nesta 2ª no Vale a Pena Ver de Novo
Novela de 2010 estreia nesta 2ª no Vale a Pena Ver de Novo
As brigas e disputas dos estilistas Jacques Leclair (Alexandre Borges) e Victor Valentim (Murilo Benício), que provocaram muitas risadas na novela “Ti Ti Ti” (Globo, 2010), estão de volta à TV no Vale a Pena Ver de Novo. Benício, 49, porém, não deverá ser um dos telespectadores da reprise.
O ator até ganhou prêmio de melhor ator pelo personagem, mas afirma que costuma se cobrar demais quando revê seu trabalho. "Não interessa o que eu possa ter feito, jamais vou suprir minha expectativa. É realmente uma briga de espelho, uma coisa que muitos atores têm e poucos assumem ter”, afirma.
“Eu escondi isso por um tempo, mas depois vi que não influi em nada na forma de atuar. O ator melhora muito quando amadurece. Eu teria mudado [coisas do personagem], mas ao mesmo tempo existe uma ingenuidade ali que às vezes me falta”, continua Benício, hoje no ar também em "Amor de Mãe" (Globo) .
A trama, escrita por Maria Adelaide Amaral e com direção de núcleo de Jorge Fernando (1955-2019), faz uma mescla de núcleos das novelas "Ti-ti-ti" (Globo, 1985) e “Plumas e Paetês” (Globo, 1980), além de incluir personagens clássicos de outras novelas de Cassiano Gabus Mendes (1929-1993).
Intérprete do estilista Ariclenes Martins, que adota o nome artístico de Victor Valentim, na primeira versão, o ator Luis Gustavo, 87, marca presença também nessa nova versão, na pele do detetive Mário Fofoca, da novela “Elas por Elas” (1982).
Benício conta que adorava ver a primeira versão da história, quando tinha apenas 13 anos, e que Victor Valentim de Luiz Gustavo era a sua maior inspiração. Porém, 25 anos depois de sua exibição, quando soube que faria o mesmo papel, tentou não pegar referências do personagem que tanto admirava.
“Não quis rever porque eu achei que ficaria intimidado com o trabalho dele, mas desde o começo sempre foi uma responsabilidade incrível fazer uma novela que era sucesso dentro da minha própria casa. Por assistir com a minha mãe, tinha um lugar muito carinhoso no meu coração”, recorda.
Na primeira versão, era o ator Reginaldo Faria quem interpretava o rival de Valentim, o estilista André Spina, que na trama adota o nome artístico de Jacques Leclair. Na versão mais atual, esse papel fica a cargo de Alexandre Borges, 55, ator com quem Benício relembra ter tido uma parceria interessante.
“Ele é um cara que veio do teatro, e os atores que são formados em teatro geralmente têm muita noção do coletivo. Então, Alexandre sempre foi um cara muito bacana dentro e fora de cena. Ele tinha certeza de que estaria melhor em cena se eu estivesse bem com ele em cena”, diz.
Para Borges, poder trabalhar com nomes como seu grande parceiro Murilo Benício, além de Claudia Raia (Jaqueline) e Nicette Bruno (Tia Júlia), foi enriquecedor. “A gente tinha uma troca muito legal com o Jorge Fernando também, que foi essencial para a construção do Jacques Leclair”, lembra.
Na trama, os rivais, nascidos no bairro paulistano do Belenzinho (zona leste), são inimigos desde crianças. Eles sempre disputaram brinquedos, amigos e até o amor das mulheres. E a rivalidade só se acentua quando os dois conquistam seus espaços no mundo da moda.
Personagens femininas importantes também permeiam a trajetória dos estilistas na trama. Claudia Raia é Jaqueline, uma perua intensa, trágica e cômica que se apaixona por Jacques Leclair. É ela quem o ajuda a transformar sua marca, mas Leclair não a corresponde e foge do casamento.
“Ti Ti Ti” é especial na vida dos atores pela convivência com Jorge Fernando (1955-2019). Benício afirma que esta foi a terceira novela que fez com o diretor, que morreu aos 64 anos após uma parada cardíaca em decorrência de um aneurisma. A amizade e os conselhos dele são o que ele mais sente saudade.
Apesar do clima cômico que a novela transmite, Benício afirma que passou por alguns perrengues e as gravações chegaram a ser canceladas devido a sua dificuldade de fazer o portunhol característico de Victor Valentim. “Até hoje não aprendi espanhol, mas tive muita dificuldade no começo", recorda ele.
"Não era só o portunhol, era descobrir como eu iria falar outra língua e ao mesmo tempo o público entender. Até achar isso eu sofri pacas”, brinca ele, que atualmente dá vida a um personagem bastante diferente de Vitor Valentim, o empresário Raul, na novela "Amor de Mãe", na faixa das 21h.
Para o artista, não há como comparar personagens, trabalhos ou eleger quais deles foram melhores do que outros. "Cada papel que eu fiz se referia diretamente a uma momento da minha vida que é muito diferente do que é hoje”, opina.
“Você sempre cria um papel que possa compor alguma coisa e que possa trazer uma novidade, um divertimento maior, ainda mais quando é uma novela leve como essa. Com ‘Ti Ti Ti’, a intenção é repassar essa alegria, a graça, o riso.”
Não bastasse estar em dobradinha na TV, com “Ti Ti Ti” e “Amor de Mãe”, o ano de 2021 será especial também a Benício por sua chegada aos 50 anos, no dia 13 de julho. Fazendo um balanço de sua carreira, ele afirma já ter realizado bastante coisa como ator, mas quer fazer muito ainda como diretor.
O interesse dele pelo mundo da dramaturgia começou cedo, aos 10 anos, quando via filmes de Charles Chaplin (1889-1977). De lá para cá, fez quase 20 novelas. Algumas delas com muito destaque tais como “O Clone” (2001), “Pé na Jaca” (2006), “Avenida Brasil” (2012) e “Geração Brasil” (2014).
“Faltam os projetos que eu quero fazer como diretor, que é uma coisa nova na minha vida. Como ator eu creio que me realizei de várias formas. Eu tive a grande sorte de começar a dirigir há cerca de cinco anos e me entendi muito bem com a direção”, avalia Benício, que já tem dois trabalhos nesse ramo.
Seu primeiro trabalho como diretor foi “O Beijo no Asfalto”, lançado em 2018, no qual ele lança mão da realidade (ou do que supomos que seja a realidade) para reelaborar o texto clássico de Nelson Rodrigues. O segundo ainda está por vir. Será “Pérola”, baseado em uma peça de Mauro Rasi (1949-2003) e que ele dedica à mãe. “Eu tenho uma vontade muito grande de explorar esse mundo de direção.”
Murilo Benício ainda conta ter projetos para a televisão e aguarda passar as incertezas provocadas pela pandemia para mais uma realização. “Eu tenho um livro que encaminhei para Globo e espero que isso vire uma série para que eu possa dirigir num futuro próximo”, torce ele .
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