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X de Sexo Por Bruna Maia
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O hímen serve para proteger a vagina, mas o utilizam para oprimir mulheres

A ideia de virgindade é mais um dos instrumentos do patriarcado para nos privar de prazer

A vendedora Beatriz Reis, a Bia do BBB 24 - Paulo Belote/Globo
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Em 1995, a cigana Dara se casou com o cigano Igor na novela "Explode Coração" (Globo). Eu tinha de oito para nove anos e fiquei sem entender muito bem quando ele se cortou, pingou sangue num lenço branco e o expôs para a tribo. Sabia que ele tinha feito aquilo para garantir a honra da noiva, que não era mais virgem, mas não entendi como funcionava e minha mãe estava cansada demais pra ter essa conversa e disse que outra hora me explicava.

Na minha mais recente crise depressiva, li "A Redoma de Vidro", de Sylvia Plath. Em dado momento do livro, a personagem decidia perder a virgindade e tinha uma hemorragia tão volumosa que ia parar no hospital.

Dia desses no BBB, a vivaz Bia falou que não iria colocar absorvente interno porque era virgem, e não podia entrar nada ali. Na minha primeira vez não saiu nenhuma gota de sangue. E em nenhuma das outras vezes. Será que nunca fui "virgem"?

Falando em termos estritamente biológicos, o sangramento que muitas mulheres apresentam ao começar a vida sexual com penetração é gerado pelo rompimento do hímen. Trata-se de uma membrana que protege a entrada da vagina e teoriza-se que ela serve para proteger o órgão de infecções nos primeiros anos de vida.

Só que os formatos de hímens e a elasticidade da pele que os compõe variam muito. Algumas mulheres têm o que se chama de hímen complacente, que é flexível e não se rompe com facilidade —e, portanto, sangra pouco ou nada. Creio que o meu é (ou foi) assim. Outras têm a pele mais rígida e a abertura menor, e sangram bastante durante as primeiras experiências. Pode acontecer, sim, de o sangramento ser intenso e requerer atendimento médico, ainda que isso não seja tão comum.

A questão é que a humanidade é dada a atribuir significados às coisas e o hímen virou sinônimo de pureza e castidade. Sinal de que uma moça é uma noiva inviolada. Ou de que é uma puta indigna. De membrana protetora, ele passou a instrumento de opressão. Quem diria?

A cena de Igor e Dara, por exemplo, foi uma representação pouco fiel do ritual do lenço. Na vida real, em algumas tribos ciganas, dias antes das núpcias, uma mulher mais velha e experiente introduz um lenço branco na vagina da noiva para atestar que ela nunca fez sexo. O lenço, então, é exposto para todos. Não sei o que aconteceria com uma mulher como eu.

Pode parecer um ritual antigo e antiquado, coisa de um tempo que ficou pra trás. Certo? Não. Embora a cultura ocidental não seja afeita a exibir o sangue das noivas de forma tão explícita, ela associa a virgindade à pureza, a algo especial que você não pode perder com qualquer um. E não bastasse a ideia de que você deve ser casta, ainda é preciso manter um lacre físico intacto. E isso obviamente significa que mulheres terão de se privar de sexo e de outros prazeres, como o de vestir um biquíni e entrar na piscina quando estão menstruadas. Tudo porque temem que o absorvente interno irá destruir a sagrada virgindade, mesmo que elas não tenham transado.

A associação do hímen com virgindade, pureza e aptidão ao casamento também contribui com a ideia de que sexo gira em torno da penetração. Por exemplo: quem pratica sexo anal, sexo oral e carícias com mãos e dedos, mas nunca passou por penetração vaginal, talvez seja considerada mais virgem do que uma mulher que não fez nada disso, mas usou OB. Estranho, né?

Vale notar que, entre as mulheres, o recato e a virgindade são valorizados. Entre os homens, nunca ter comido ninguém é motivo de ridicularização. Claro que isso conduz aquela situação que conhecemos muito bem: homens achando que têm que pressionar pra transar e mulheres achando que têm de se "valorizar" e não transarem quando estão a fim. Eles garanhões, nós, putas.

Quanto a Bia, espero que ela transe quando e com quem quiser, seja com algum contatinho de Deborah Secco ou com algum amigo do Matteus. Mas também torço que ela nunca mais se prive de vestir roupa de banho por motivos de menstruação. Até porque hoje em dia existem biquínis absorventes.

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. É autora dos livros "Parece que Piorou" e "Com Todo o Meu Rancor" e do perfil @dabrunamaia nas redes sociais. Fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo.

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