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X de Sexo Por Bruna Maia
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A geração Z está mais careta e transando menos ou os mais velhos acreditam em lorota?

Pesquisas de comportamento sexual em geral são ruins e doidinhos da web não são parâmetro

Hunter Schafer e Zendaya em cena de 'Euphoria'
Hunter Schafer e Zendaya em cena de 'Euphoria' - Divulgação
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Tenho a tese de que, toda vez que uma geração ascende ao cargo de editor de veículo de comunicação, uma de suas principais tarefas passa a ser publicar matérias dizendo que as gerações mais jovens transam menos, bebem menos e trabalham menos. Agora os boomers se aposentam, os millennials viram chefes e mandam os repórteres da geração Z fazer uma apuração capenga falando sobre como ele e seus amigos não gostam de trepar.

O bom é que movimento similar acontece na "academia" e o coitado do repórter rapidamente acha uma pesquisinha vagabunda de uma universidade do cafundó da Dinamarca ou de algum reduto puritano dos Estados Unidos para embasar a afirmação: "Um estudo feito com 200 universitários da Universidade de Onde Judas Perdeu As Botas do Oeste mostra que os jovens têm feito menos sexo".

Pra mim, isso é só um indício de que 200 virgens vagavam pelo campus enquanto seus colegas de dormitório davam umazinha e aí apareceu um entrevistador e perguntou "mas você não gosta mesmo de foder?". Mesmo que fosse uma excelente e ampla pesquisa, é complicado extrapolar dados de uma realidade cultural para outra.

O que não quer dizer que eu ache que os Zs estão transando loucamente. Só quer dizer que quase nenhuma pesquisa sobre comportamento sexual a que tive acesso me convenceu, e as que me pareceram bem-feitas não necessariamente se aplicam ao Brasil.

Outra coisa que serve de base para essas reportagens dizendo que a geração Z transa pouco é o fato de que algum doidinho foi dar uma de doidinho no Twitter e acabou gerando muito engajamento com publicações pedindo menos cenas de sexo em filme, ou um botão para pular tais cenas. De novo, um tuíte escrito por um qualquer não prova que uma geração é avessa a sexo, indica apenas que aquele qualquer prefere ficar na internet reclamando de sexo em vez de transar, enquanto alguns outros como ele fazem coro.

Dia desses estava todo mundo da minha bolha indignado com uma jovem que escreveu ser contra o sexo casual porque não tem vínculo emocional, só serve aos homens e aumenta o risco de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Ora, esse papinho conservador existiu em outras gerações também, não há porque os Zs escaparem incólumes dele. Mostra que há desinformação, considerando que estar em um relacionamento estável não é garantia de que você não vá contrair ISTs, e que a prática de sexo casual com preservativo e testagens regulares pode ser muito mais segura do que sentar no seu namorado que come metade do bairro sem camisinha, mas chega em casa de noite com um buquê de flores.

Com relação ao vínculo emocional, é completamente compreensível que algumas pessoas não apreciem sexo sem conexão e intimidade. Existe, inclusive, uma orientação sexual chamada demissexual, que abrange quem precisa disso para ter vontade de transar. Para esse grupo, a era do sexo de aplicativo, sem aprofundamento e criação de laços, é uma tortura. Saber nomear isso, independentemente da geração da qual se faz parte, é um passo importante para poder dar forma ao desejo. Assim como não há nada de errado em gostar de transar com desconhecidos, não existe problema algum em só curtir fazer isso com envolvimento.

Sobre "servir aos homens", feminismo não tem a ver com dizer para homens e mulheres que sexo casual é ruim e sexo com envolvimento é correto ou vice-versa. Tem a ver com informar todes a respeito das possibilidades e deixar que cada um saiba o que lhe faz feliz. Tudo isso enquanto se respeita o desejo do outro, sem rotular quem gosta de casualidade de vagabunda ou pervertido e quem gosta de conexões profundas de emocionado ou pudico. E é possível curtir as duas coisas. Feminismo também tem a ver com ensinar todo mundo sobre consentimento e prazer, tornando as relações sexuais divertidas pra todo mundo.

Se a geração Z está transando menos eu não sei, mas se conseguir compreender essas coisas, estará transando com mais qualidade. Enquanto isso, o pessoal das redações poderia parar de levar estudinho mequetrefe a sério e de usar besteiras que maluquinhos da internet dizem como evidência de alguma coisa.

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. É autora dos livros "Parece que Piorou" e "Com Todo o Meu Rancor" e do perfil @dabrunamaia nas redes sociais. Fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo.

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