Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

X de Sexo Por Bruna Maia

Quem empurra a cabeça do parceiro não pode reclamar de mordida nas partes íntimas

É uma daquelas coisas que o outro pode até gostar, mas tem que perguntar antes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tem uma dubiedade bem comum que já vi em alguns homens que se pressupõem desconstruídos. Eles ficam EM CHOQUE quando a parceira pede uns tapinhas na bunda, porque acham absurda a ideia de bater em mulher. Em qualquer outra situação é absurdo mesmo, mas no contexto sexual e explicitamente consentido, não tem problema. Mas esses mesmos homens que acham machista atender a esse desejo expresso quando ele aparece não têm problema nenhum em empurrar a cabeça da moça (ou moço ou moce) durante o boquete. Acreditem, alguém forçando o pau na sua garganta sem que você queira é violento.

Dia desses postei no Twitter que não conheço nenhuma mulher que gosta disso. A maioria das que interagiram com o post disseram que detestam. Mas algumas apareceram para dizer "fale por você, eu gosto, tem gente que gosta, tá?". Bom, não disse que nenhuma gostava, apenas que eu não conhecia nenhuma que curtia. Se tem coisa que não julgo é fetiche alheio. Mas o que me incomodou mais foram os comentários "e se a pessoa gostar?".

É que por trás dessa fala percebo a ideia de que "a tentada é livre" e que tudo bem forçar a cabeça da pessoa que está com você durante o sexo oral –seja mulher, homem, outros gêneros. Se ela não gostar, ela que avise, né?

A questão primordial é que não é assim que consentimento funciona. Você tem que se certificar de que a pessoa gosta ANTES de fazer qualquer coisa, ou só fazer depois que ela pedir. Ah, é que isso torna o sexo burocrático! Não, não torna não. As cinco palavras "você curte que eu empurre" ou a expressão do desejo "empurra" tomam poucos segundos do ato sexual e se quebrarem o clima é porque o clima já não existia. Consentimento não é roleta-russa. Você não pode sair dando tapa, empurrando cabeça, enfiando dedo no cu da pessoa pra ver se ela deixa e aí parar caso ela diga que não quer.

'Hilda', de Duane Bryers, fazendo sexo oral
'Hilda', de Duane Bryers - Duane Bryers

Tenho amigas que amam fazer sexo oral com garganta profunda –que é quando a rola vai parar lá na garganta delas mesmo. Das que curtem a prática, só uma curte uma empurradinha. As outras odeiam e gostam de controlar a maneira como fazem a manobra para não se machucar. Então, se o seu objetivo ao empurrar a cabeça da pessoa é colocar seu pau o mais fundo possível, pode simplesmente não dar certo. Sem liberdade para fazer o movimento do jeito que encaixe, a pessoa pode simplesmente engasgar e não conseguir engolir o pau cujo dono deseja tanto que seja engolido.

Além disso, se você odeia dente raspando no seu pau –deve ter gente que gosta–, a chance de você tomar uma mordida ou de um dente molar tirar um naco da pele da sua piroca quando você força ela pra dentro da boca alheia é muito alta. E, francamente, bem feito.

O mesmo vale sobre o que fazer com sua porra. Pergunte se a pessoa prefere que você goze dentro ou fora da boca dela, ora bolas. Na dúvida, tire. Lembrando que o contato com fluidos sexuais por via oral também pode transmitir Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). A chance é menor do que no sexo vaginal ou oral, mas existe. Portanto, é mais um dos casos em que o ideal é usar camisinha e não engolir.

A regra –e, sim, estou aqui falando de uma regra inquebrável, pois quebrá-la é violência sexual– é bastante clara: tudo, tudo, tudo, tem que ser consensual, inclusive essa empurrada que tantos fazem tão automaticamente sem nem se importar se a pessoa que está chupando curte.

Desejo mordidas no pau de todos que não entenderem isso. Uma daquelas bem doloridas.

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. É autora dos livros "Parece que Piorou" e "Com Todo o Meu Rancor" e do perfil @dabrunamaia nas redes sociais. Fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem