Amor e Sexo volta ao ar menos erótico e mais politizado
10ª temporada do programa com Fernanda Lima desaponta no Ibope
Desde 2013, cada nova temporada de Amor e Sexo (Globo) estreou prometendo ser a última. A fórmula estaria desgastada. Não haveria mais recôndito do corpo humano ou preferência bizarra que não tivesse sido explorada à exaustão.
Mas, a cada safra, a equipe do programa soube reciclar o assunto com brilho, aproveitando para servir de contraponto à maré conservadora que tomou o Brasil. E a audiência sempre reagiu bem, garantindo uma nova leva de episódios para o ano seguinte.
Nesta terça (9), a 11ª temporada de Amor e Sexo deslanchou carregando nas tintas políticas, com muito menos ênfase no romance e no erotismo do que de costume. Não houve nenhuma menção explícita à campanha eleitoral e muito menos ao #EleNão, mas ficou claríssimo que a atração comandada por Fernanda Lima quer reagir à caretice que assola o país.
Não houve novidades formais. O formato continua o mesmo; de mais notável, só a substituição de Pabllo Vittar por Mylena Jardim, vencedora da quinta temporada do The Voice Brasil, como crooner da banda. Otaviano Costa também deixou a bancada dos jurados, pois está envolvido na criação de seu próprio programa.
O episódio sofreu de um certo excesso de ideias. Todas as músicas executadas eram de Gilberto Gil, mas a ligação dele com o tema principal não era tão óbvia assim. Quase todos os convidados pertenciam a coletivos artísticos de comunidades pobres.
Houve números de rap, poesia engajada e algumas discussões abstratas sobre a “politização dos corpos”, que devem ter passado voando sobre a cabeça do espectador médio. As brincadeiras (ou “dinâmicas”), uma marca registrada do programa, funcionaram até certo ponto.
O “túnel da sarração”, em que uma pessoa vendada precisava passar por um grupo de outras pessoas vendadas que a cobriam de carícias, foi engraçado e provocador, com direito a um beijo gay no palco e uma “tábua” divertida levada pelo ator Eduardo Sterblitch.
Como todos os participantes do jogo, ele também escolheu um dos integrantes do túnel para “conhecer melhor” na saída. Sterblitch pegou, meio que por acaso, um rapaz chamado Alan. Pediu-lhe um beijo, meio que por brincadeira, que lhe foi prontamente negado, para o riso geral da plateia.
Já a boca gigante, que “engolia” o candidato que não conseguia incluir as palavras propostas por emojis em um discurso coerente, foi pouco mais do que uma traquitana desajeitada. Sem uma proposta única e de apelo popular, a estreia de Amor e Sexo derrapou no Ibope. Começou na liderança, mas dez minutos depois já estava em segundo lugar, perdendo para a “roça” que rolava em A Fazenda (Record).
Mas eu suspeito que essa derrota se deva muito mais à concorrência acirrada das noites de terça (quando a Band também exibe MasterChef) do que ao boicote ao programa pregado na internet por apoiadores de Bolsonaro.
De qualquer forma, Amor e Sexo foi ousado ao retornar com um episódio tão politizado, justamente quando o país está dividido ao meio. Se encontrar um melhor equilíbrio entre o ativismo e a diversão nas próximas semanas, o programa pode garantir sua sobrevida.
Tomara, pois tudo indica que ele será cada vez mais necessário.
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