'Espelho da Vida' estreia na faixa das seis da Globo pegando leve nos temas espirituais
Novela de Elisabeth Jhin começou nesta terça com capítulo envolvente
Novela religiosa é um troço complicado. E não estou nem me referindo às tramas bíblicas da Record, que são peças publicitárias da Igreja Universal do Reino de Deus. Mesmo a laica Globo costuma apelar para o além em sua dramaturgia, com resultados nem sempre satisfatórios.
Mesmo tendo exibido a “Santa Missa em Seu Lar” em todos os domingos de sua existência, a emissora nunca foi ostensivamente católica. E, apesar da presença de padres em suas novelas (que já foi mais frequente do que hoje), a Globo dá liberdade a seus autores para que outras religiões interfiram nas tramas.
Aguinaldo Silva fez com que a própria Iemanjá desse as caras em “Porto dos Milagres” (2011). Em “Amor à Vida” (2013), de Walcyr Carrasco, Nossa Senhora levava Nicole (Marina Ruy Barbosa) para o céu, depois da personagem morrer de câncer.
Essas cenas foram realizadas com mão pesada, tanto no texto quanto na direção. E serviram para espantar o espectador que não está em busca de catequese.
As novelas espíritas, todo um subgênero da faixa das 18h do canal, não escaparam dessa sina. Títulos como “A Viagem” (exibida originalmente pela Tupi em 1975 e refeita pela Globo em 1994) ou “Alma Gêmea” (2005) não eram exatamente sutis na maneira como tratavam temas como vida após a morte e reencarnação.
“Espelho da Vida”, nova atração do horário, estreou nesta terça (25) com uma pegada diferente. As primeiras sequências pareciam enxertadas de outra obra: um helicóptero perseguindo um carro onde estava uma moça amordaçada, com direito a tiros e algemas.
Mesmo depois que se revelou que estas eram as cenas finais de um filme, o clima não voltou ao esperado para uma trama da faixa. Em uma premiação de cinema, o diretor Alain Dutra (João Vicente de Castro, já como protagonista em sua segunda novela) celebra a vitória na categoria curta-metragem com sua namorada Cristina Valência (Vitória Valência Strada). Muito riso e algum glamour, o que é raro em novela das 18h.
E uma curiosidade: o ator José Loreto, fazendo o papel de si mesmo, “esquece” de sua mulher na vida real, Débora Nascimento, e namora a personagem Mariane (a vlogueira Kéfera Buchmann, estreando como atriz de TV).
O espiritismo só entra em cena com Vicente (Reginaldo Faria), avô de Alain, que está à beira da morte na fictícia cidade de Rosa Branca. Sua mulher Margot (Irene Ravache) liga para o neto do marido, e depois comenta suas crenças no além-túmulo com a amiga Gentil (Ana Lúcia Torre). Tudo sem pregação nem chatice.
Ponto para a autora Elisabeth Jhin, que conseguiu urdir um primeiro capítulo envolvente, equilibrando doses de tensão, humor e delicadeza. Ela, uma especialista em folhetins espíritas, se absteve de esfregar na cara do espectador uma fé que talvez não seja a dele.
Claro que a reencarnação dará o mote de “Espelho da Vida” daqui em diante, como ficou mais do que claro no final do episódio de estreia. Chegando em Rosa Branca com o namorado, Cris sente que já viveu ali.
Resta saber se o que vem por aí é mesmo uma abordagem original, ou se teremos a sensação de conhecer essa novela de alguma vida passada.
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