Concentrada na trama principal, estreia de 'Segundo Sol' foi impecável
Novela começou de forma ágil e focada, sem dispersão por núcleos paralelos
O primeiro capítulo de “Segundo Sol”, a nova titular da faixa das 21h da Globo, confirmou o que já se conhecia: João Emanuel Carneiro sabe começar uma novela.
O autor de “Avenida Brasil” não encheu linguiça. Como na estreia daquela obra, em 2012, o início de “Segundo Sol” não perdeu tempo apresentando os diversos núcleos. O primeiro capítulo se concentrou na trama principal: a falsa morte de Beto Falcão (Emilio Dantas), um cantor semifracassado de axé que alcança um sucesso estrondoso depois que é dado como morto.
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Atolado em dívidas, abandonado pela namorada e cansado de insistir em uma carreira que não sai do ponto morto, o baiano Beto ainda vê seu carro enguiçar a caminho do aeroporto, de onde embarcaria para um show em Aracaju. E acaba perdendo o voo.
Mas o azar acaba se revelando um golpe de sorte: o avião cai no mar, mas só depois de Beto voltar para casa cabisbaixo e adormecer no sofá. Quando ele acorda, o Brasil inteiro está chorando sua morte - um drama inflado pela cobertura da televisão, parecido com o que já aconteceu na vida real.
Aqui cabe um parênteses: João Emanuel Carneiro urdiu uma história ágil e escreveu diálogos afiadíssimos, mas tomou licenças poéticas exageradas demais. Entre outros furos, é inconcebível que um aeroporto como o de Salvador (na verdade, o que apareceu em cena lembrava mais o de uma cidade do interior) deixe um passageiro invadir a pista correndo atrás de uma aeronave que já está decolando.
No segundo bloco surgiu Luzia, a personagem de Giovanna Antonelli ---e também a escalação mais polêmica da novela, que se passa na Bahia. A Globo até tentou colocar uma estrela negra no papel, mas Taís Araújo segue ocupada na série “Mister Brau” e Camila Pitanga não aceitou o convite.
O que fazer, então? Promover a protagonista uma atriz negra do segundo escalão? Acontece que o papel principal de “Segundo Sol” caiu para um ator que ainda não é extremamente famoso: Emilio Dantas, o Rubinho de “A Forca do Querer” (2017).
Emilio, que se destacou no teatro musical, passou por vários testes e revelou-se uma escolha acertadíssima. Tem beleza, carisma e talento de sobra, tanto para atuar como para cantar. Mas, para compensar sua pouca fama, era preciso uma atriz célebre ao seu lado.
E o fato é que Giovanna está muito bem como a sestrosa Luzia, que antes mesmo do capítulo terminar já estava enroscada com Beto Falcão. O cantor, sob nome falso e com outra aparência, se escondeu em sua casa em uma ilha distante na Baía de Todos os Santos, para esticar ao máximo o sucesso que sua suposta morte lhe trouxe.
Mas a Globo vai ter que resolver logo o problema de ter poucos atores negros em “Segundo Sol”, pressionada que está por setores da sociedade e até pelo Ministério Público do Trabalho. Talvez na segunda fase da novela, que deslancha a partir do décimo capítulo?
Polêmicas à parte, a estreia de “Segundo Sol” foi impecável, com duas grandes viradas e direção segura, sob o comando de Dennis Carvalho e Maria de Médicis. Mesmo com números musicais --um breque de mão em potencial-- a peteca não caiu em momento algum.
Este nível vai se manter? “A Regra do Jogo” (2015), a penúltima novela de João Emanuel a ir para o ar, desandou logo no primeiro mês.
Mas, por enquanto, vale a pena acompanhar “Segundo Sol”. Na tela da TV e também nos bastidores, onde se desenrola um drama que pode mudar o rumo da nossa teledramaturgia.
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