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Zapping - Cristina Padiglione

Globo troca atrizes de ascendências indígena e japonesa em chamada de novela

Suyane Moreira foi apresentada como Bruna Aiiso em anúncio do elenco de 'Terra e Paixão' veiculado pela emissora

Postagem no Instagram sobre chamada da Globo
A criadora de conteúdo Bruna Tukamoto apontou o erro em seu perfil no Instagram: Suyane Moreira virou Bruna Aiiso na chamada de 'Terra e Paixão' - @bruna.tukamoto no Instagram
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São Paulo

A Globo busca ampliar a diversidade de seus profissionais na frente e atrás das telas, mas ainda tropeça em erros na hora de identificar representantes de etnias que são historicamente pouco presentes no set, a ponto de confundir uma descendente indígena com alguém que tem ascendência oriental. Em uma das chamadas da nova novela das nove, "Terra e Paixão", a atriz Suyane Moreira foi apresentada como Bruna Aiiso.

O erro foi apontado pela criadora de conteúdo digital Bruna Tukamoto, que em sua página no Instagram aborda representatividade e preconceito amarelo.

A atriz Bruna Aiiso
A atriz Bruna Aiiso na festa de lançamento da novela 'Terra e Paixão'. Ela viverá a média Laurita Corrêa - Reginaldo Teixeira/Divulgação

"Um erro de edição na Globo escancara mais uma vez o racismo", diz ela em vídeo onde reproduz a chamada da emissora. "A atriz Bruna Aiiso faz parte do elenco de 'Terra e Paixão', a próxima novela da nove da Globo, que vai estrear na semana que vem. E hoje no intervalo do programa Mais Você, teve uma chamada para divulgar a novela e apresentar parte do elenco. Sim, gente, colocaram uma imagem da atriz Suyane Moreira, que tem ascendência indígena, no lugar da Bruna Aiiso", afirma Tukamoto.

Suyane Moreira é Iraê na trama de Walcyr Carrasco - João Miguel Júnior/Globo

A ativista chama a atenção para a questão étnica. "Coincidentemente, duas mulheres que fazem parte de uma minoria racial. E pode parecer inofensivo, mas a gente sabe que isso é um reflexo do racismo que permeia a nossa sociedade, o apagamento das nossas etnias, da nossa história, além da ideia de que os olhos amendoados nos tornam todos iguais.

Tanto que não erraram na edição dos atores brancos, por exemplo. Entendem que o racismo está por trás desses microcomportamentos? Por mais que tenha sido sem querer, por mais que não tenha sido por mal."

Em seguida, Tukamoto fala do papel reservado a Aiiso, que "vai fazer o papel da médica doutora Laurita, fugindo um pouco dos estereótipos que sempre rotulam os amarelos em filmes, novelas, do vendedor de pastel, ou mesmo do papel de japonês". "Vai ser um papel bem importante pra comunidade amarela, e realmente é muito triste ver a única atriz amarela do elenco sendo apagada antes mesmo de a novela estrear na Globo."

Procurada por meio de sua assessoria de imprensa, a Globo ainda não se manifestou. Assim que a coluna receber um posicionamento da emissora, será contemplado nesta publicação.

Suyane Moreira será Iraê e fará parte de um núcleo indígena criado por Carrasco, com consultoria do escritor Daniel Mundukuru. A história tem Dourados, município do Mato Grosso do Sul onde boa parte das cenas foi gravada, como referência.

TRAUMA ORIENTAL

A Globo guarda um episódio que até hoje é alvo de críticas na questão da representatividade oriental. Na novela "Sol Nascente" (2016), a atriz Dani Suzuki foi preterida por Giovanna Antonelli no papel de protagonista, que deveria ser oriental. Segundo Suzuki, o autor Walther Negrão disse que escreveria a novela para ela, mas na hora da escalação, a direção da emissora optou por Antonelli, recorrendo, para tanto à justificativa de que a personagem seria filha adotiva da suposta família japonesa.

Seu pai na ficção, no entanto, tampouco era um ator de ascendência oriental, e foi vivido por Luís Mello, que no máximo, para usar uma expressão de Tukamoto, tem olhos ligeiramente amendoados. Suzuki ficaria então com uma personagem que seria prima de Antonelli, mas ainda segundo ela, o diretor da novela, Leonardo Nogueira, disse que também não daria certo porque ela seria muito "velha" para ser prima da protagonista, que tem dois anos a mais que Suzuki, o que a deixou sem entender o que houve.

Confira abaixo o post de Bruna Tukamoto, alvo de 46 mil seguidores no Instagram:

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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