De 'Terra e Paixão' a 'Todas as Flores': o dilema de Ângelo Antônio
Para ator, todo personagem tem humanidade, seja o marido violento das nove ou o bandido que entrará no ar às onze
Até alguns dias antes da estreia de "Terra e Paixão", Ângelo Antônio não tinha se dado conta de que teria a chance de aparecer por meio de dois personagens tão distintos na mesma temporada pela TV aberta. No ar como Andrade, o marido alcoólatra que agride a esposa (Lucinda/Débora Falabella), atualmente na faixa das 21h30 da Globo, ele também chegará ao horário das 23h30 da emissora no segundo semestre para ser um bandido barra pesadíssima, o Sansa, mais um nome fora do comum que o autor João Emanuel Carneiro tira da cartola.
Entre os assinantes do GloboPlay, Sansa já é bem conhecido e, a essa altura, já teve o seu destino traçado em "Todas as Flores", agora na reta final. Mas será uma novidade para a maioria do público, presente na TV aberta.
Andrade, o personagem criado por Walcyr Carrasco, não é bom marido, é verdade, mas tem humanidade, item completamente ausente em Sansa, praticamente um psicopata. Isso traça toda a diferença entre os dois personagens.
Apesar de ser um transtorno para Lucinda, que até vem praticando aulas de luta para se defender do marido, e de passar a infernizar a vida da cunhada (Tatá Werneck), ao descobrir que ela ganha dinheiro fazendo strip-tease pela internet, o sujeito de "Terra e Paixão" é feito de falhas humanas.
"O barato desse personagem, a força dele é na humanidade dele, quanto mais ele for humano, melhor, porque nós somos assim, nós temos todas as nossas violências intrínsecas, de nossa sociedade, de nossa cultura, e às vezes isso vem das pessoas que você mais ama. De você se opor, de suprir algumas carências, e a gente vê isso acontecer o tempo inteiro"
"Não é uma coisa distante, a gente corre esse risco, das pequenas violências cotidianas", segue Angelo. "Então, como sair dessas violências? Como fazer para que os países sejam menos violentos", expande o ator, ou que sejamos "menos violentos com os bichos, a natureza, as pessoas que a gente ama?"
Isso torna Andrade alguém mais possível de gerar identificação no público, que certamente terá poucos exemplares capazes de se enxergar em Sansa.
Mas, como todo bom ator, Ângelo Antônio defende também a humanidade de Sansa. "Eu acho o Sansa também humano e a gente também pode chegar nesse lugar, né? São emoções que tomam conta da gente, mas se as emoções tomam conta sem controle, você também pode ir para aquele lugar onde está o Sansa, de se perder inteiramente."
Sobre a dualidade de dois personagens no ar ao mesmo tempo, algo que também atingirá Bárbara Reis, seu par em "Todas as Flores", o ator confessa que não tinha pensado nisso. "É verdade, vão estar muito próximos. Mas é outro público talvez, né? Mas pra gente, que é ator, isso é bom: são trabalhos distintos, almas distintas. Se a gente fizer direito, vai ser bom."
Outro ponto que diferencia os dois está na forma. Seguindo a toada de todo o elenco, Andrade carrega no sotaque do Mato Grosso do Sul, o que, para o ator, é uma novidade. "A gente fez um trabalho de prosódia, eu nunca tinha feito isso."
Mesmo o Seu Francisco, protagonista do blockbuster "Dois Filhos de Francisco", sobre a trajetória do homem que transformou os filhos em uma das duplas sertanejas mais aclamadas do país --Zezé Di Camargo e Luciano--, Ângelo lembra que ele era goiano, dono de um acento mais próximo do seu, da vizinha Minas Gerais.
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