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Zapping - Cristina Padiglione

Saiba tudo sobre 'Terra e Paixão', próxima novela das nove

Novo folhetim de Walcyr Carrasco aposta na máxima de que 'o agro é tech' e traz um Tony Ramos nada bonzinho

Atores em ensaio
Johnny Massaro, Agatha Moreira, Glória Pires e Tony Ramos em aula de preparação para a novela 'Terra e Paixão', da Globo - Fábio Rocha/Divulgação
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São Paulo

Com estreia prevista para maio, "Terra e Paixão", novela de Walcyr Carrasco, pode se encaixar no slogan que há anos ocupa, de tempos em tempos, os intervalos comerciais da Globo. A sinopse do autor reza que o agro é tech, ao descrever toda a tecnologia que hoje rege a produção do agronegócio no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde sua história se passa.

"Quando decidi escrever esta novela, eu, autor de tantos textos caipiras, quis mostrar uma história moderna, onde a tecnologia se une ao esforço humano, à luta. Mas também quis tocar no meu sentimento de infância, onde a Terra Vermelha me falava ao coração", diz Carrasco na sinopse à qual a coluna teve acesso.

O dramaturgo descreve ainda que "a novela é atual, dentro de um cenário onde se fundem os últimos passos da tecnologia agrária com grandes plantações, mesclando o moderno e o antigo em um olhar novo". "A novela não é caipira, como tantas que fiz. Mas é country. Os valores do mundo country, a música sertaneja e a moda estarão presentes", avisa.

O sotaque tampouco deve se inclinar para o caipira tradicional, e pede forte incidência de gaúcho só com resquício de caipira e uma pitada nortista. "Não podemos esquecer que essa é uma região nova, que agregou gente de várias partes do país", avisa.

SENTA, QUE LÁ VEM HISTÓRIA

O enredo se passa na fictícia Nova Primavera, município criado a partir de visitas às regiões dos municípios de Dourado e Amambai.

A novela conta a história de Aline Machado, papel de Barbara Reis, jovem viúva, negra, cujo marido é morto numa tentativa de grilagem. Sem nunca ter plantado uma semente, a mocinha vai à luta, salva sua pequena fazenda, expande e enriquece, derrotando o fazendeiro que mandou matar seu marido, Antonio La Selva, mais conhecido como Tony Ramos.

Antonio é pai de Caio (Cauã Reymond) e Daniel (Johnny Massaro). Nasceu na região, multiplicou a herança da família graças à terra vermelha, solo valioso para plantação, tornando-se o maior produtor rural da região.

No centro de tudo, está a sucessão familiar, incluindo a irmã Petra. A luta interna é turbinada por Irene, personagem de Glória Pires, mulher de Antônio, madrasta de Caio e mãe de Daniel e Petra. E pelo embate entre Caio e o pai, Antônio.

Caio e Daniel se apaixonam por Aline. Mas Aline vive um confronto com Antônio, o pai de ambos, que quer tomar suas terras. Esse triângulo, a luta pela sucessão e a defesa das terras formam a base da novela. A mãe, Irene, que põe Glória Pires de novo na voz de uma mulher má, muito má, fará tudo para eliminar Caio da sucessão e casar Daniel com Graça, também filha de produtor e herdeira.

Há, porém, um segredo, conhecido apenas por Cândida (Susana Vieira), dona do bar da cidade, com música e garotas de programa. Cândida acompanha a família de Antônio há anos e o que sabe provocará uma grande reviravolta.

O COMEÇO DE TUDO

A sinopse de Carrasco descreve quem em determinada noite, em uma casa modesta, de chão de tijolos, vemos Samuel, que olha pela janela, vê os faróis de dois carros e uma moto se aproximando. Decidido, Samuel dá ordens para que Aline e João, sua esposa e filho, fujam pelos fundos.

Diante da casa estão Ramiro e outros pistoleiros enviados por Antônio La Selva, que deseja tomar a fazenda. Para a sobrevivência de sua própria fazenda, Antônio precisa tomar essa outra, que possui o maior bem: água.

Sem opção, Aline foge com o filho. Samuel fica para trás como isca para Ramiro e os pistoleiros. Samuel é morto, enquanto Aline corre com João pela estrada. Os capangas botam fogo na casa.

Mas outro carro se aproximou, sem que os homens de Antônio pudessem ver. É Caio, filho mais velho de Antônio La Selva, e contrário ao modo de agir do pai. Cauã Reymond então salva a mocinha viúva.

Caio foge com Aline e o filho no carro e os esconde na casa de Cândida, na beira do rio.

No dia seguinte, pela manhã, na volta à fazenda, Aline encontra o corpo do marido. Ela pede ajuda para a mãe, Jussara, que vive na cidade, e a Jonatas, primo de seu marido, mas no íntimo apaixonado por Aline. Aline faz uma denúncia à polícia. Mas já se sabe que o delegado Marino pouco fará para provar a culpa de Antônio La Selva.

Jussara, mãe de Aline, a aconselha a partir, mas ela jura que ninguém vai tirá-la de seu terreno, posse que pode ser comprovada por documentos. Professora de matemática, ela vai em busca de conserto para a única máquina que lhe restou para iniciar seu império agro. E como manda o modo Carrasco de contar histórias, não restarão dúvidas sobre a heroína obstinada da vez, que repete: "Eu vou vencer!"

É novela sem pudor de ser novela.

Paralelamente, Antônio La Selva está furioso com seu capataz, Ramiro, que não conseguiu tomar a propriedade de Aline. Este argumenta que pode invadir de novo. Antônio lembra que houve uma morte, que hoje em dia não é como antes.

Durante a tocaia que tirou a vida de Samuel, acontece a festa de noivado de Daniel com Graça. Caio demora a aparecer. Irene aproveita para criticar o enteado, frente às defesas da governanta Angelina.

Assim como Tadeu em "Pantanal", Caio sempre trabalhou ao lado do pai, mas, assim como Jove na mesma novela, Daniel se formou no ensino superior e traz na bagagem a formação acadêmica, no seu caso, em Direito.

Antônio não alivia para o primogênito, que, assim como João Pedro (Marcos Palmeira) em "Renascer", é apontado como responsável pela morte da mãe, no parto.

Como diz João Emanuel Carneiro, todas as histórias já foram contadas. O desafio é ver como se pode contar aquilo de outra forma.

Ademir é o irmão mais novo de Antônio. Trata-se de um produtor rural menos importante e é completamente contra a invasão nas terras de Aline. Em conversa com Antônio, Ademir diz que os tempos mudaram, não se pode matar, invadir. Antônio briga com o irmão. Mas precisa das terras, que antes eram parte da fazenda que herdou. Lá tem água, bem que está secando em sua própria fazenda, o que Antônio não conta a ninguém.

O patriarca está disposto a comprar a fazenda de Aline, embora a ideia o irrite. Preferia tomar. Pretende mandar Caio negociar. Mas Irene reage. Daniel estudou Direito, saberá convencer a viúva.

Daniel vai até Aline, oferece mundos e fundos para comprar sua propriedade, mas ela jura que não venderá. Daniel se encanta por aquela figura.

A história prevê uma cooperativa para a venda do fruto da terra, em boa parte feita de grãos valiosos.

E tem o segredo que Cândida guarda sobre o passado de Irene, que foi prostituta, recurso que já assombrou outras personagens de Carrasco.

É O AMOR

Aline encontra ajuda em Jonatas, primo de Samuel. Jonatas é negro, sempre trabalhou na terra e é capaz de lidar e consertar uma semeadeira. Ele tem o pai, seu Gentil, e a irmã Menah. Sempre teve um sentimento secreto por Aline. É gente boa, e logo nos primeiros capítulos, auxiliará Aline a mexer com a terra, o maquinário e, principalmente, a conhecer quem pode ajudá-la.

Nada pode ser feito sem o apoio da Cooperativa, que faz a venda de insumos, grãos e coloca a colheita no mercado. Antônio fará tudo para que Aline não seja aceita pela cooperativa, mas será ajudada de novo por Caio, com apoio do tio Ademir.

Caio resolve enfrentar o pai. Cansou-se de ser sempre o excluído. Ao descobrir que Antônio pretende dar a sucessão a Daniel, exige a parte da mãe falecida, de quem é herdeiro. Pai e filho entram em guerra, inclusive judicial.

Com fama de "pegador", Caio se encanta por Aline, mas a conquista, como toda novela, oferecerá uma série de obstáculos, incluindo Daniel que se interessa pela heroína e inicia com ela um romance.

Daniel não pode se abrir com pai e mãe sobre a moça, afinal, inimiga da família. Ao mesmo tempo, Graça, a noiva oficial, finge uma gravidez para forçá-lo a se casar.

Parêntese: sim, ainda isso. Em pleno terceiro milênio, lá está a mulher querendo tirar vantagem por meio de filho.

Corta.

Nem tudo é déjà vu em "Terra e Paixão". Lá estará a família indígena que faltou a "Pantanal" e a outras novelas rurais. Aline vai conhecer o Xamã Jurecê, seus filhos Iraê e Rudá, que pertencem à etnia Guató (em processo de extinção). O Xamã é um sonhador, que dá conselhos sobre o futuro, e Iraê indica chás, vende ervas. É um mundo à parte, xamânico, mas não alheio à questão real da preservação dos povos originários.

Apesar da oposição do pai, Petra decide conhecer pessoalmente Luigi, um italiano que conheceu pelas redes sociais. Trata-se de um vigarista, que se passa por milionário e vai conseguir entrar para a família, que simpatiza com sua capacidade de frear o consumo de Petra de remedinhos tarja preta.

REVIRAVOLTA

Irene é a grande peste da trama. Ela, que um dia já foi Maria de Fátima Acioli e Raquel, a gêmea má, volta a prejudicar muita gente. É ela quem dá ideias a Antônio para destruir Aline. É ela que, em todas as ocasiões, vai botar a culpa em Caio, fazendo com que a raiva de pai contra filho aumente.

Para o filho Daniel, no entanto, Irene é uma santa, melhor mãe do mundo.

Petra, que é agrônoma, ajudará Aline por amor ao irmão. O enredo prevê a menção de recursos modernos, como imagens de satélite para monitorar a colheita e drone para supervisionar a plantação.

Eis que Graça descobre o namoro de Aline e Daniel. Faz um escândalo com Irene, que instigará a ex-futura nora a contar para Caio que seu irmão tem um romance com Aline, só pelo prazer de colocar um contra o outro. Caio se desespera e resolve se vingar, mas com foco na madrasta.

Ele então leva Daniel até o bar dançante da cidade, onde Luana, personagem transexual que sucedeu Cândida, conta que mamy Irene foi garota de programa

Parêntese dois: sim, de novo, no terceiro milênio, estamos tratando prostituição como um crime capaz de destruir uma família. A audiência conservadora agradece.

Corta.

CONTÉM SPOILER

O trecho a seguir contém revelações desagradáveis para quem gosta de acompanhar novelão esperando surpresas. Quem quiser, portanto, pode pular para o tópico seguinte.

Ao esfregar na cara do mano uma foto de Irene trabalhando nos shows do dito inferninho, Caio vê o irmão desesperado. Ele sai desembestado ao volante, alcança a mãe, briga com ela e, de novo no carro, choca-se contra uma árvore.

Daniel morre. E a culpa pela morte do irmão sempre será sentida por Caio.

Irene consegue descobrir como Daniel soube de seu passado e, claro, quer vingança. Petra, a irmã, que toma ares de uma personagem grega, também quer o mesmo.

Ao saber do fio da meada que levou à morte de Daniel, Aline vira as costas para Caio e aceita o amor de Jonatas.

EU QUERO VINGANÇA

Em novela de Walcyr Carrasco, claro, não pode falta a vendetta. Petra e o marido, aliados à mãe, botam fogo nas plantações de Aline, de modo a incriminar Caio.

Acabou? Nem de longe. "Terra e Paixão" só terminará nos primeiros dias de 2024. Após várias circunstâncias que levaram a Globo a lançar novelas em novembro, dessa vez a emissora está programada para seguir com a mesma ladainha até o ano seguinte, atravessando as festas de fim de ano e o período de férias, quando a audiência sofre profundas alterações de comportamento.

Dito isso, (OLHA LÁ UM NOVO SPOILER), vale dizer que Jonatas é filho da primeira mulher de Antônio, anterior ao seu casamento, e portanto, irmão de Caio. Gentil, pai de Jonatas, teve um romance com ela, que engravidou e viajou para parir o bebê longe dos olhos de todos. Isso é que é melodrama.

Saberemos também que Caio nunca deveria ser apontado como culpado pela morte da mãe, que já fora advertida, no primeiro parto, que não poderia ter mais filhos.

DIVERSÃO E ARTE

Para contrabalançar tanta tragédia, a história reserva alguma dose de humor. Entre as tramas paralelas, temos Anely, personagem de Tatá Werneck, e Odilon, de Jonathan Azevedo, boxeador, dono de uma pequena academia esportiva na cidade, onde ensina Krav Magá, uma luta marcial. O homem é ciumento, possessivo. Não sabe que, secretamente, sua noiva Anely faz strip-tease na internet, uma espécie de only fans, com bom faturamento que lhe permite alguns luxos.

A direção artística é de Luiz Henrique Rios, e a equipe de diretores conta com dois negros --Jefferson De e Juliana Vicente--, a fim de reforçar o entendimento sobre o calvário da mocinha e de todo o preconceito acarretado por sua cor.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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