Zapping - Cristina Padiglione
Descrição de chapéu pantanal

Globo abre mão de montar cidade cenográfica no Rio para 'Pantanal'

Em plena pandemia, emissora optou por produção de logística complexa

Renato Góes como Zé Leôncio jovem, na primeira fase do remake de 'Pantanal' - João Miguel Júnior/Globo
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São Paulo

Quando a Globo anunciou que produziria uma nova versão de "Pantanal", novela que abalou sua audiência há 32 anos, pela extinta Rede Manchete, muita gente apostou que a emissora gravaria agora na região apenas um percentual mínimo de cenas. Pelo histórico da teledramaturgia da Globo, a maior parte da novela de Bendito Ruy Barbosa, adaptada por seu neto Bruno Luperi, provavelmente seria gravada em cidade cenográfica no Rio, em Curicica, sede dos Estúdios Globo.

Mas esta não será uma "Pantanal" de Projac. Diferentemente de outras produções da casa supostamente ambientadas em outras cidades, o folhetim dispensará até a construção de uma cidade cenográfica no Rio. Se por um lado elimina-se o alto custo desse investimento, por outro, arca-se com uma conta grande gerada pela complicada logística imposta pela distância até a região de Aquidauana (MS), onde ficam as seis fazendas que vêm servindo de locação para a trama.

Conhecendo apenas alguns poucos detalhes dessa estrutura, fica ainda mais difícil entender por que a emissora resolveu apostar no remake de "Pantanal" em tempos de pandemia e por que cravou com tanta convicção uma data de estreia para março deste ano, azedando o planejamento da novela anterior, "Um Lugar ao Sol", que foi toda editada para se dividir em 107 capítulos e agora vem sendo submetida a uma reedição.

Em 1990, quando a internet ainda era ficção científica e a Globo nadava de braçada no domínio das telas dos brasileiros, com seus 60 pontos de audiência, em um mundo sem Covid, a emissora cometeu o erro de desprezar "Pantanal" justamente em função das dificuldades logísticas. Agora, com 32 anos de atraso, após as maiores queimadas da região e em meio a uma crise sanitária, a aposta se mostra de risco bem mais alto.

Foi Almir Sater, natural de Campo Grande (MS) e ator na primeira versão da novela, que serviu de anfitrião para a nova produção. Avisou ao diretor Rogério Gomes, o Papinha, que Jayme Monjardim, diretor da "Pantanal" original, percorreu a região por seis meses até cravar aquele ponto onde hoje fica a fazenda do músico como sede das gravações. Sater comprou a propriedade após a novela da Manchete.

O músico volta ao remake como um chalaneiro, alusão óbvia a um de seus maiores sucessos. De quebra, empresta o filho, Gabriel Sater, para viver Trindade, personagem que foi seu no original. Outro eixo forte com a versão original é Marcos Palmeira, que foi Tadeu há 32 anos, o filho bastardo de Zé Leôncio, personagem interpretado pelo ator no remake.

LOGÍSTICA EM NÚMEROS

O local escolhido fica a cerca de quatro horas de Aquidauana (MS), a cidade mais próxima. O entorno é composto apenas de fazendas e natureza selvagem. As seis fazendas dão suporte à produção, da hospedagem da equipe às gravações e até para as funções de almoxarifado.

"Foram 12 caminhões para contemplar todo o material de produção, produção de arte, cenografia, figurino, caracterização e tecnologia. Normalmente, esses caminhões suportam 12 toneladas. Os veículos estavam bem cheios, então estimamos que tenha sido cerca de 144 toneladas de material. Tivemos que fazer o transbordo para caminhões 4X4 para levar para dentro do Pantanal. Para cada caminhão baú, usávamos em média três ou quatro caminhões 4X4", explica a gerente de produção Luciana Monteiro, em texto distribuído pela Globo.

Entre funcionários das fazendas, transporte, equipe e elenco, cerca de 150 pessoas estiveram envolvidas diretamente com as gravações no Pantanal no segundo semestre de 2021. Toda essa movimentação foi necessária para gravar apenas de 30 a 40% da obra. "Pela logística e produtividade, a maior parte dos meses de gravação é no Pantanal. No Rio de Janeiro temos uma produtividade muito maior e conseguimos diminuir o tempo", constata.

Nesse contexto, nem tudo sai como foi planejado. "Muita coisa a gente previu, sabíamos que seria difícil, por exemplo, questão de combustível, ter que comprar e estocar para atender gerador, barco etc. Sabíamos que não seria simples trazer os equipamentos e as pessoas, o transbordo de tudo que vem do Rio em caminhão baú, tudo isso foi previsto. Ainda assim vira e mexe somos pegos de surpresa com algo", admite Luciana.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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