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Colo de Mãe
Descrição de chapéu Agora

Qualquer desabafo de mães sobre as dores da maternidade já é motivo para linchamento

Pais não são cobrados da mesma forma na sociedade

Samara Felippo com as filhas Lara, 5, e Alicia, 9
Samara Felippo com as filhas Lara, 5, e Alicia, 9 - Reprodução/Instagram/@sfelippo
 
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Os desabafos maternos sempre causam polêmicas na internet. Recentemente, a atriz Samara Felippo foi criticada –e apoiada– em um postagem na qual dizia que ama as filhas, mas não ama tanto ser mãe.

Eu já havia lido vários relatos de mães que sigo nas redes sociais com este mesmo teor e também já havia lido vários memes do tipo no universo materno, mas acho que ver a postagem de uma atriz conhecida fez com que a afirmação ficasse maior.

Ao mesmo tempo que houve críticas, foi grande o número de mães e mulheres que se identificaram com o desabafo dela. A questão é tão complexa. Cabem muitas reflexões. É triste quando vemos que os homens não são cobrados para ter amor incondicional pela paternidade.

Aliás, não ter o nome do pai no registro de nascimento é algo comum. Tão comum que, dia desses, ao ir a um Poupatempo, vi um anúncio gigante que dizia: “Encontre seu pai”, ou algo do tipo. É um programa em que o governo auxilia, gratuitamente, as pessoas a encontrarem seus pais, pagando o teste de DNA. Ou seja, é o abandono paterno totalmente generalizado, aceito e instituído na sociedade.

No caso das mulheres, qualquer desabafo sobre as dores da maternidade já é motivo para linchamento.
O julgamento vem de todos os lados: de homens e mulheres. Para mim, que amo minhas filhas e amo ser mãe, é libertador ver mulheres falando com naturalidade sobre o quanto o papel de mãe é pesado ao ponto de não gostarem de ocupar esse espaço na existência.

Mas, ao mesmo tempo, é tão doído, porque, depois que você tem filhos, a maternidade vai estar contigo por toda a vida. E não gostar desse novo papel que você ocupa na sociedade e na sua própria existência é um sofrimento que pode ser para sempre.

A minha reflexão final é que, ao mesmo tempo que nos libertamos, nos aprisionamos mais ainda. A gente não gosta tanto de ser mãe porque a sociedade nos massacra. É difícil ser mãe não apenas porque o filho chora e você não sabe o que fazer. É duro ser mãe porque é na maternidade que a gente descobre o verdadeiro sentido da palavra solidão.

Eu resisto. Embora saiba que a maternidade pesa (e como pesa!), sigo meu caminho, tentando não abrir mão de mim. Resistindo no mercado de trabalho, nos machismos diários e frente às minhas próprias cobranças. Sejamos mais empáticos. Antes de julgar, vamos nos colocar no lugar do outro para que as mães possam estar inteiras e realizadas nesta existência.

 

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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