Colo de Mãe

Filho feliz não precisa de um monte de ovos; aconchego, mesmo na simplicidade, vale mais

Não há nada mais bonito do que momentos de passagem e renascer

Ovos de Páscoa
Ovos de Páscoa - Rivaldo Gomes/Folhapress
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A Páscoa chegou! E, com ela, um significado muito importante na história da humanidade e na das religiões. Para mim e minha família, a Páscoa é um dos momentos mais importantes do ano. Ela significa a passagem do povo, que saiu da escravidão no Egito e chegou à terra santa. Houve liberdade e, até hoje, há muitas lições. Para quem é cristão, é o momento do renascimento, da ressurreição.

Não há nada mais bonito do que viver esses momentos de passagem e renascer. Não há nada mais bonito do que entender que tudo é passagem: tempos bons e tempos ruins. O que fica é o quanto você aprende em cada situação e no que você se transforma ao final, ou seja, de que forma você renasce.

Quem pensa que quando algo acaba há um fim, engana-se. Morre a semente e nasce a flor. Encerram-se ciclos e o ser humano renasce para novas realidades, mais firme, forte e inteligente.

Talvez pela Páscoa significar tanto para mim, signifique para minhas meninas. Elas adoram a data. Claro que tem muito a ver com a caça aos ovos, com ganhar chocolate e com a magia de imaginar que algum coelhinho passou em casa.

Laura, a caçula, fica encantada só de imaginar que há um coelhinho andando por aí, deixando suas pegadinhas. E o mais maravilhoso para ela, para Luiza, a mais velha, e para meu sobrinho Heitor, de oito anos, é fazer a caça aos ovos na casa da vovó, que é a minha mãe. Quando éramos crianças, sem recursos e conhecimentos, meus pais não faziam nada disso. Lembro de minha mãe pintar coelhos para nos deixar felizes. Ela fazia os potinhos, deixava em cima da geladeira, vazios, e dizia para esperarmos, que o coelhinho deixaria um ovo. E como era mágico quando olhávamos, eu e meu irmão, para o ovinho que lá estava.

Nossa família sempre foi simples e humilde. E mantivemos essa “tradição” com as crianças hoje em dia. Minha mãe faz a caça aos ovos de forma simples, mas os netos amam, se encantam.

Tudo isso para dizer que as coisas simples são as que ficam na memória. Para ser feliz, você não precisa ter um jardim enorme e uma decoração maravilhosa. Não precisa ter uma cesta com cinco, dez ou 20 ovos dados por pais, avós, padrinhos, tios e amigos. Você precisa apenas fazer as crianças se sentirem amadas. É o que fica na memória e no coração.

Foi com a lembrança da Páscoa da minha infância e pensando no que eu quero deixar de herança para minhas meninas que decidi simplificar o máximo possível a data. Teremos caça aos ovos? Sim, como sempre. Ainda mais que estou de folga, o que não ocorria há sete anos neste feriado.

Mas a ideia é economizar cada vez mais e poluir cada vez menos o planeta. A ideia é mostrar para Laura e Luiza que elas podem (e devem) comemorar as datas especiais, mas sem deixar embalagens, plásticos, consumo em excesso e dívidas tomarem conta de nossas vidas.

Todos temos o direito de comer chocolate e sentar à mesa com quem amamos no almoço de domingo. Todos! Por isso, é preciso pensar nos que não têm as mesmas oportunidades que nós e batalhar para que o mundo seja cada vez mais inclusivo e com menos valor à suposta meritocracia, com compaixão e amor dividido. Ninguém precisa ter demais. A gente só precisa amar mais.
 

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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