'Tempo de Amar' estreia com clima de enlevo e visual deslumbrante
"Novo Mundo" tinha piratas, índios, princesas, aventureiros. Parecia uma versão da história da independência do Brasil escrita por um adolescente hiperativo.
Sua substituta na faixa das 18h da Globo, "Tempo de Amar" —que estreou nesta terça (26)— trouxe uma mudança brusca de ritmo. O próprio título da novela já sugere uma pegada mais tranquila. Dar um tempo, uma pausa nos problemas do cotidiano e mergulhar num passado romântico.
O primeiro capítulo foi didático na medida certa. O espectador foi apresentado aos principais personagens e seus dilemas sem que os diálogos soassem forçados, sempre um risco em dia de estreia.
O casal central é formado por duas caras novas na TV, Vitória Strada (Maria Vitória) e Bruno Cabrerizo (Inácio), uma ousadia da emissora. Logo no primeiro bloco, os dois se conheceram durante uma procissão em uma aldeia de Portugal, em 1927. Antes mesmo dos créditos de abertura, se paqueraram e se beijaram loucamente.
Também ficamos sabendo que ela é rica e ele é pobre. Que José Augusto (Tony Ramos, excepcional como sempre), o pai dela, não é exatamente o vilão-clichê que se espera em um folhetim como este: ele não hesita em dizer que o compromisso firmado de que seus filhos um dia se casariam, com outro rico proprietário de terras, não vale mais, pois foi feito há muito tempo.
Mas também tem lá suas mazelas. Esconde da filha, por exemplo, a verdadeira identidade da mãe desta, que teria morrido no parto. E se recusa a reconhecer a bastarda que teve com Delfina (Letícia Sabatella), sua criada e sua amante.
Enquanto isto, no Brasil, a cantora Celeste Hermínia entretém seus convidados com um fado, dando a Marisa Orth a oportunidade de exibir um quase perfeito sotaque lusitano. Já Regina Duarte, que faz a cafetina Madame Lucerne, pouco convence como uma francesa nata, e ainda menos com sua peruca loura.
O episódio terminou com o malvado Fernão (Jayme Matarazzo) apontando uma arma para Inácio, com quem disputa o amor de Maria Vitória. Já sabemos que o mocinho não irá morrer, mas isto talvez não importe. Os autores Alcides Nogueira e Bia Corrêa do Lago mostram que, se inovam por um lado, pelo outro não têm pudor de lançar mão das convenções do gênero.
Com externas captadas na Serra Gaúcha e uma das mais perfeitas cidades cenográficas já construídas pela Globo, "Tempo de Amar" não se ressente de não ter cenas gravadas em Portugal. É visualmente deslumbrante, e a preciosa reconstituição de época resplandece nos figurinos e caracterizações.
Dados preliminares indicam uma audiência por volta de 24 pontos na Grande São Paulo, o que é bom para o horário, mas menos do que os 29 com que "Novo Mundo" terminou. Resta saber se o clima de enlevo de "Tempo de Amar" será suficiente para segurar o público mais jovem ao longo dos próximos meses.
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