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Extintas, revistas masculinas pioneiras no Brasil desnudaram famosas antes da Playboy; conheça

Ele Ela e Status desafiaram a censura e tiraram a roupa de estrelas em ascensão, como Xuxa

Xuxa na capa da revista Ele e Ela (à esq.) e Sonia Braga na capa da revista Status (à dir.) - Reprodução
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Rio de Janeiro

A revista masculina mais famosa do mundo chegou ao Brasil em 1975, mas se engana quem pensa que a Playboy fosse a pioneira por aqui. Antes dela, duas publicações já revelavam a nudez (ou quase) de anônimas e famosas mesmo em tempos difíceis de repressão.

Criada em 1969, a revista Ele Ela exibia em suas primeiras edições mulheres anônimas, geralmente loiras de traços escandinavos, e o mais próximo da nudez na capa era um singelo biquíni. Também era comum a presença de homens ao lado delas, cuja proposta inicial era discutir a sexualidade nas relações conjugais.

O nu frontal no ensaio interno era proibido. A partir de 1971, o topless surgia nas capas estrategicamente escondidos, mas não deixava de ser um progresso diante da censura da época. O corpo despido discretamente só daria as caras em 1974, período em que a linha editorial voltada aos casais também sofreria mudanças para algo mais sensual, dois anos depois.

A Status foi lançada em solo nacional em 1974 pela editora Três, e também estava refém da ditadura, com mulheres escondendo a nudez com tecidos molhados, transparentes ou espuma de sabão. A edição de número 1, mostrava a sensualidade da atriz holandesa Silvia Krystel (1952-2012), estrela do clássico "Emanuelle". A iniciativa deu certo e logo a publicação se esgotou nas bancas de jornais, embora a capa fosse com a socialite e promoter carioca Tânia Caldas (77), ex-esposa de Jorge Guinle (1916-2004) e do ator Raul Cortez (1932-2006).

O sucesso rendeu tempos depois uma publicação derivada intitulada Status Plus. Para driblar a censura valia tudo, desde frases sobre um dos seios ou até mesmo um Photoshop primitivo para "borrar" o mamilo. Ambas publicações eram submetidas a uma análise prévia (e rígida) de conteúdo pelos censores, algo que só foi suspenso em fevereiro de 1980.

Desde o início, a Status apostou em mulheres famosas como Sandra Bréa (1952-2000), Vera Fischer, Susana Vieira, Aldine Muller e muitas outras. Enquanto isso, a Ele Ela nos primeiros anos seguia a premissa de mostrar jovens belas e comuns (do tipo que os americanos chamariam de "girl next door"). Contudo, ela também acabou desnudando estrelas em início de carreira como Myrian Rios, Sonia Braga, Bruna Lombardi e até a então desconhecida Xuxa.

Outro diferencial da revista, anos depois, foi a seção Fórum, onde os leitores descreviam suas peripécias sexuais. O sucesso dos relatos picantes rendeu até um suplemento destacado da publicação da editora Bloch. Se as histórias eram verdadeiras ou parte da mente criativa de algum redator, nunca saberemos de fato.

Assim como suas concorrentes mais famosas, a Ele Ela também apostava em reportagens sobre os mais variados temas, como revolução sexual, empoderamento feminino, além de entrevistas com personalidades do esporte, da música e do cinema.

Após 40 anos, a revista carioca encerrou suas atividades em 2009 por questões financeiras, quando a internet já oferecia erotismo grátis ao alcance de alguns cliques. A Status fechou as portas em 1987, porém foi relançada em 2011 com uma nova proposta voltada ao nu artístico, mantendo a tradição de mostrar mulheres conhecidas. A revista saiu de circulação em 2015.

VAIDADE OU CACHÊ?

Para a ex-modelo e atriz Marlene Silva, 76, que posou para a Status e para a Ele Ela nos anos 1970, tanto a autoafirmação quanto o incentivo financeiro influenciavam na hora de aceitar o convite. "O cachê era bom e também tinha uma coisa de vaidade, era tendência na época os símbolos sexuais fazerem essas revistas", contou ela.

Assim como Marlene, Vera Gimenez também fez ambas publicações e se recorda de uma situação desleal causada pela Ele Ela. "Quando eles relançaram meu ensaio, eu queria que me pagassem, e eles não fizeram isso; movi um processo, ganhei e era uma grana alta, mas ficou por isso mesmo, porque a Bloch acabou", relata a veterana atriz, que posou em 1975 e 1976 e é mãe da apresentadora Luciana Gimenez. Com relação aos cachês, Vera diz não se recordar se eram bons, mas declara que gostou do resultado do ensaio, principalmente da Status.

A rainha dos detentos, Rita Cadillac, 69, fez um ensaio interno para a Status nos anos 1980 e esclareceu que a motivação foi estritamente financeira. "Nunca tive essa vaidade, o que influenciou mais foi o dinheiro; posar por vaidade? Não mesmo", afirma. Sobre os cachês ela respondeu: "Eram razoáveis, não era o nu explícito e acho muito mais bonitas as fotos daquela época".

Um ponto fora da curva ocorreu com a repórter e atriz Adriana Bombom. Seu ensaio em 1997 teve como cenário Cuba, se desviando do estúdio da Bloch no Rio, onde a maioria das fotos era feita. Quanto ao cachê, ela só tem elogios. "Foi ótimo, deu para comprar um apartamento e um carro", disse. "Naquela época quem fazia todas as negociações era a Marlene Mattos."

Aos 50 anos e com um corpo escultural, ela não descarta posar nua novamente. "Não está nos meus planos e as revistas deixaram de existir, entretanto, se houvesse uma proposta de nu artístico e o cachê fosse bom, eu iria considerar", contou ao F5.

AS RECORDISTAS EM CAPAS DA ELE ELA

Ao longo de quatro décadas, diversas musas ilustraram mais de uma vez a capa da Ele Ela. Segundo consta, a ex-modelo e atriz Rose di Primo, 69, foi a maior recordista em aparições, com cerca de nove entre os anos 1970 e 1980.

Na sequência, estão Luiza Brunet e Xuxa, que posaram cinco vezes nos anos 80, seguidas pela atriz Márcia Porto, 63, que apareceu em quatro ocasiões nesse período. Na década seguinte, a ex-modelo Renata Banhara, 48, reinou quatro vezes na capa. Procurada pelo F5, Banhara não quis comentar o assunto, afirmando ter hoje uma vida mais discreta e longe da mídia na Europa, onde vive.

A estrela do cinema nacional Nicole Puzzi, 65, ilustrou a publicação em 1980, mas hoje o assunto é uma página virada para ela. "Isso é passado, foi bom enquanto durou, mas não quero mais falar sobre passado, dá um cansaço", disse por telefone. Indagada se havia algum arrependimento, ela declarou: "Nenhum, de nada que tenha feito, mas passado para mim não tem consistência, passou, desapeguei. Agora é viver o presente e seguir o futuro".

A ex-modelo, empresária e ativista Luiza Brunet, 61, também foi breve ao ser indagada sobre o tema. "Isso é uma coisa que faz parte do meu passado, não sei nem o que dizer a respeito, porque, na verdade, o último ensaio [com nudez] que fiz foi em 1986", afirmou (analisando as capas da extinta revista, a mãe de Yasmin Brunet, na verdade, fez dois ensaios em 1981 e outros três entre 1985 e 1987).

É curioso relembrar alguns nomes conhecidos no passado que um dia exibiram suas curvas na revista, como a cantora e atriz Via Negromonte (1990), Edna Velho (1985/86/88), Roberta Close (1984), a ex-modelo Josi Campos (1986/89), diagnosticada anos depois com distúrbios emocionais, e as internacionais Cicciolina (1997) e Ursula Andress (1974). Até a irmã menos famosa da dançarina Carla Perez, Kêkka Perez, deu as caras em 2003.

A partir de 1998, as anônimas passaram a estampar mais as capas. Na concorrente Status, três figuras ilustres do cenário musical chamaram atenção livre de roupas, as cantoras Gal Costa (1945-2022) em 1985, Wanderléa (1982), grávida na ocasião, e Fafá de Belém (1981).

Para os fãs saudosistas, ainda é possível conseguir as publicações do passado por meio de sites de leilões. A edição número 1 da Ele Ela, por exemplo, encontra-se disponível em uma plataforma de venda de itens de colecionadores pela "bagatela" de R$ 180. Já uma edição com aquela que viria a se tornar a rainha dos baixinhos, Xuxa, pode chegar aos R$ 3 mil.

De modo geral, os exemplares mais valiosos são os dos anos 1980, após o fim da censura moral e de costumes, quando o nu frontal foi finalmente permitido —para alívio dos editores e alegria dos leitores.

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