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Celebridades
Descrição de chapéu Por Onde Anda

Por onde andam cinco modelos brasileiras que fizeram sucesso entre os anos 1970 e 1990

Pioneiras, elas abriram as portas do mercado internacional para nomes como Gisele Bündchen

De esq. para dir., Vicky Schneider, Luana de Noailles, Marlene Silva, Ângela Correa e Veluma - Arquivo Pessoal
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Rio de Janeiro

Elas estamparam as capas das principais revistas, editoriais de moda, peças publicitárias e passarelas do Brasil e do exterior. A geração Z, que cresceu tendo Gisele Bündchen como referência de topmodel made in Brazil, provavelmente não as conhece, mas essas cinco modelos também fizeram história —e ainda fazem, já que a maioria continua desfilando ou em outras áreas artísticas.

Em 1970, Veluma, 70, trocou São Paulo pelo ensolarado Rio de Janeiro, e não demorou muito para despontar para a fama. No ano seguinte, fez uma publicidade e logo sua imagem já estava nos principais outdoors do país. Alta (1,81m) e magra, ela deu início a uma gloriosa carreira como modelo e manequim.

Os trabalhos a levaram para o Japão em 1973, de onde retornou somente dois anos depois. "Voltei uma gueixa, mais educada, com uma postura, sem me preocupar com a cor da minha pele, e com muito poder", conta ela, com uma dicção impecável, por telefone ao F5.

Indagada se já havia sofrido discriminação na moda, ela responde sem hesitar: "Se em algum momento me discriminaram, não fizeram isso cara a cara, porque resolveria na hora". Em seguida, a protagonista de diversos ensaios para Vogue, Elle, Claudia Moda e várias outras publicações explica sua visão sobre o tema. "A moda não discrimina a cor de ninguém", avalia. "A moda no mundo gosta da pele negra, não tenho nada triste para contar."

A PIONEIRA NO BRASIL

Luana de Noailles, 74, é uma referência na moda. Ela foi a primeira topmodel negra do Brasil (e quiçá do mundo) a conquistar reconhecimento e prestígio internacional. Oriunda de uma família simples de Salvador, sua história parece um conto de fadas.

Ela começou a carreira na indústria têxtil Rhodia em 1966 e, no ano seguinte, partiu para a França. "Cheguei no Dia do Armistício [a comemoração do fim simbólico da Primeira Guerra Mundial], um dia de paz e alegria, uma das lembranças mais lindas da minha vida", diz.

O sucesso em solo francês foi imediato. Ela desfilou para Givenchy, Saint-Laurent, Valentino, Chanel, Dior e vários outros. Em 1977, casou-se em um castelo com o conde francês Gilles de Noailles, tornando-se condessa de Noailles, mas sem abandonar a moda. "Paco Rabanne [1934-2023] era um grande amigo, ele foi padrinho do meu casamento", relembra a baiana, cujo pioneirismo abriu caminho para outras manequins negras na Europa.

Natural de São Paulo, Ângela Correa, 69, já ouvia das pessoas desde criança que tinha postura de manequim. Começou a carreira no Brasil nos anos 1970, após um convite do estilista francês Jacques Lelon. Logo depois foi para a Europa e Ásia.

Viveu em Paris entre 1974 e 1979, desfilando para grifes famosas como Paco Rabanne, Yves Saint Laurent e Jean Patou, por exemplo. Ela também se dedicou a dança em espetáculos grandiosos no Brasil e nos teatros Bobino e Moulin Rouge, ambos em Paris.

No início dos anos 1980, Ângela retornou ao Brasil, retomando a carreira de modelo e desfilando para nomes como Clodovil, Ornella Venturi e outros estilistas. Nos anos 1990, conciliou a moda com a carreira de atriz no cinema e televisão, esbanjando beleza e talento. Em um dos desfiles, vestida de noiva, dividiu as passarelas com Maria Fernanda Cândido, Claudia Liz e outras manequins.

Questionada sobre o tema, ela só tem boas recordações. "Tenho boas memórias, e sempre estou em contato com algumas amigas modelos daquela época", conta ela, que, ao lado de Veluma, fez desfiles também na Alemanha, França, Estados Unidos e Japão para uma coleção moda praia.

ENSAIO COM XUXA E CLIPE DE KÁTIA FLÁVIA

Nascida em uma família de classe média alta, filha de pai brasileiro e mãe inglesa, Vicky Schneider, 69, não tinha preocupações financeiras na juventude. "Minha mãe dizia que não precisava trabalhar, realmente fazia porque gostava", recorda-se. A timidez foi um dos maiores obstáculos para ela, que começou na moda aos 16 anos no início dos anos 1970, realizando inúmeros editoriais com Silvia Pfeifer, Isis de Oliveira e até Xuxa.

Apesar da carreira exitosa, a vida pessoal não estava bem. Decidida a pôr fim a um relacionamento conturbado, o ex-companheiro tirou a própria vida e de sua filha, na época com três anos. A tragédia abalou profundamente a ex-topmodel, que acabou interrompendo a carreira por um longo período. "Foi horrível, fui para Recife para a imprensa não ficar em cima de mim no Rio, fiquei um tempo lá, e depois voltei a trabalhar", revela, encerrando o assunto.

DAS PASSARELAS PARA A TV

Além do sucesso nas passarelas, diversas manequins também buscaram espaço na televisão, Ângela Correa foi uma das mais bem-sucedidas na atuação. Em 1988, ela conquistou o papel principal na minissérie "Abolição", da Globo. Dois anos depois, foi novamente protagonista de "Escrava Anastácia", na extinta Manchete, rendendo picos de audiência e consolidando sua carreira de atriz.

"Fez tanto sucesso que foi reprisada logo depois, até hoje as pessoas se lembram dela", diz sobre a personagem. Ângela inclusive pode ser considerada a primeira protagonista negra da televisão brasileira ainda em atividade, dado que as pioneiras Iolanda Braga e Ruth de Souza já faleceram.

Veluma também acumula participações em novelas como "Ti Ti Ti" (1985), "Gente Fina" (1990) e "Um Lugar ao Sol" (2021), além de ter atuado no filme "Orquídea Selvagem" (1989), com Mickey Rourke. "Não parei de atuar, mas é sempre o mesmo personagem: Veluma, meu nome é mais forte que qualquer marca" declara.

Já a carioca Marlene Silva, 76, iniciou a carreira de modelo nos anos 1960, mas deslanchou na década seguinte. Dona de expressivos olhos verdes, ela desfilou para Markito, Simão Azulay, Clodovil, Pierre Cardin e outros, ela logo migrou para a TV.

Nos anos 80, Marlene se dedicou a linha de shows na Globo e, em 1988, foi para o SBT. Após o fim do contrato, trabalhou em outras áreas, retornando ao meio artístico anos depois. A filha, Luciana Silva, seguiu os passos da mãe e construiu uma sólida carreira nas passarelas internacionais, e até fez um clipe com Madonna. Atualmente, Marlene prefere só curtir a família. "Já trabalhei bastante, agora quero curtir meu neto", conta ela por telefone, de São Paulo.

Ao contrário de suas colegas, Vicky não quis ser atriz, apesar dos convites nos anos 1980. "Um diretor queria que eu fizesse 'Grande Sertão Veredas' (1985), recusei; outro insistiu para ser atriz, não aceitei", conta. "Fico paralisada, tímida e não tenho boa memória."

Ainda assim, ela fez clipes de Caetano Veloso e Fausto Fawcett, como "Kátia Flávia", em 1987. Hoje, Vicky mora em uma ampla casa com vista para o mar no Rio, onde gosta de pintar quadros e cuidar de suas plantas.

POR ONDE ANDAM?

Embora algumas tenham se afastado dos holofotes, outras continuam se dedicando às artes de modo geral. Vivendo na Argentina desde os anos 1990, Ângela foi casada por quase três décadas com o premiado cineasta argentino Fernando Solanas (1936-2020). Contabilizando mais de 20 obras entre filmes e obras para a televisão, ela também se dedica à música, realizando shows intimistas em Buenos Aires e por aqui, vivendo entre os dois países.

Aos 74 anos, a condessa de Noailles ainda mora em Paris, é viúva e tem um filho de 40 anos, e derrete-se ao falar do país. "Faz tempo que não vou à minha amada Bahia, amo também a França, que é a minha mãe adotiva, mas meu Brasil é maravilhoso", diz.

No ano passado, Veluma reviveu os tempos de manequim, desfilou na São Paulo Fashion Week, e não cogita parar. "Tenho feito alguns comerciais, fotos para aeroportos de fora, e tenho projetos de voltar ao cinema", adianta.

Já para Vicky Schneider, a carreira de modelo é página virada. "É como se fosse um capítulo que passou, já me convidaram para fazer desfiles há um tempo, mas não quis", admite ela, que atuou como modelo até os 33 anos e, após esse período, esteve à frente de um bar badalado no Leblon por 25 anos. "Trabalhei bastante na moda, mas temos que dar lugar aos outros né", avalia.

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