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BBB23
Descrição de chapéu

BBB 23: Não é crime ter fãs, e vitória de Amanda deveria ser celebrada

Agradar aos 'críticos' do reality show da Globo é ainda mais capcioso quando se é mulher

Amanda Meirelles, campeã do BBB 23 - João Cotta/Globo
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São Paulo

O BBB 23 (Globo) foi uma edição ruim, mas atribuir a chatice do programa à torcida que tornou a médica Amanda a vencedora da edição é quase um contrassenso. Em um programa em que ter fãs e ser querido pelo público votante é o objetivo central, quem pode culpá-la justamente por ser bem-sucedida nessa difícil tarefa?

A verdade é que muitos artistas trocariam fileiras de prêmios em suas estantes pela torcida aguerrida e leal que elegeu as pipocas Amanda, Thelma e Juliette as vencedoras de suas edições.

Se a vitória é conquistada com jogo sujo, claro, há de se condenar. Bots, compra de votos e mutirões pagos distorcem resultados. Também são infrutíferos, porque o destino de quem vence, mas não ganha o carinho do público, é a irrelevância. Especialmente a publicitária. E, na era dos influencers, não há fim mais trágico para uma subcelebridade.

Não há, no entanto, provas de que Amanda tenha se beneficiado desses recursos para ser a vencedora. Se dinheiro, influência e marketing garantissem o prêmio, nenhum anônimo venceria. E, nesta final, o pódio iria para uma global como Bruna Griphao, que amargou o terceiro lugar depois de inúmeros pitis na casa.

Há quem argumente que Amanda e sua vice, Aline Wirley, são insossas. Plantas. Chatas. Talvez sejam mesmo. Mas quem não é? Qualquer pessoa relativamente normal estaria fadada a se mesclar com a mobília em uma casa recheada de narcisistas em disputa constante entre si para aparecer mais nas câmeras. Afinal, quantos de nós temos o carisma de Domitila? Ou seu ego?

Rimos da inépcia de Thaís Braz em falar ao vivo em 2021, mas quem entre os reles mortais seguraria 30 segundos ao vivo na Globo sem gaguejar? Quem arranjaria enredo para mais de cem dias trancado numa casa com desconhecidos, em meio a enfadonhas e repetitivas ativações de marca fantasiadas de provas e festas?

No reality, o bom senso é confundido com tédio. E encontrar o ponto de equilíbrio para agradar aos exigentes críticos é ainda mais capcioso quando se é uma mulher —parte do público que torceu o nariz para o temperamento forte de Bruna também condena a monotonia do enredo de Amanda na casa. Afinal, o que querem eles?

Não é de se estranhar que, em sua maioria, sejam também homens os jogadores considerados injustiçados pela turba "histérica" —e majoritariamente feminina— que fez mutirões para dar o prêmio para Amanda e outras vencedores. O fandom é ridicularizado, como o são quaisquer hobbies e interesses associados ao feminino, desde que o mundo é mundo. São taxados de histeria, futilidade e falta do que fazer. Falta só emendarem com um fatídico "vai lavar uma louça!".

Esquecem-se que grandes jogadores que perderam o reality cometeram erros graves —é o caso do carismático, mas não tão leal Gil do Vigor, que chegou a dizer maldosamente que Juliette usava a história da morte da própria irmã para se vitimizar.

O que Thelma (essa também honrada com a pecha de "planta"), Juliette e Amanda têm em comum? Foram pessoas normais em suas edições: equilibradas, sensatas, atrapalhadas às vezes, leais ao seus, justas.

É patético que fãs "shippem" um relacionamento imaginário entre Amanda e o lutador expulso por importunação sexual? Certamente, mas até nisso guarda-se uma semelhança, ainda que triste, com a história de muitas mulheres pelo Brasil. Quem nunca "shippou" um casal e depois descobriu que o príncipe era embuste?

A verdadeira campeã dessa edição poderia ser a adorável Sarah Aline —e isso quem diz não sou eu, mas a rainha da TV, Ana Maria Braga. Mas Sarah também foi tachada de coadjuvante e enfadonha por cometer o erro imperdoável de ser uma mulher normal num país profundamente misógino. E racista.

Há de se celebrar, ao menos, que esse mesmo país tenha se identificado com a herbácea Amanda e concedido a segunda vitória a uma médica nesta pandemia —e não ao suposto bolsonarismo de Key Alves, à intolerância religiosa de Gustavo, à intempestividade de Bruna ou ao egocentrismo de Larissa.

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