Ameaças a Amaury Lorenzo são coisa de quem não tem o que fazer
Ator foi atacado nas redes depois de vencer o prêmio Melhores do Ano 2023
Nesta terça (12), a novela "Terra e Paixão" (Globo) finalmente exibiu o primeiro beijo entre Kelvin (Diego Martins) e Ramiro (Amaury Lorenzo). Insinuada muitas vezes e sempre adiada, a cena fez com que as redes sociais explodissem de alegria.
Tenho muitas restrições ao estilo de Walcyr Carrasco. Acho que ele exagera na obviedade e nos clichês. Fico especialmente irritado quando um de seus personagens sai falando sozinho, contando para as paredes seus planos e ansiedades.
Mas dou o braço a torcer num quesito: Walcyr sabe criar expectativa e fazer o público vencer preconceitos. Em "Amor à Vida", o autor dosou com maestria o envolvimento entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) e, no final, até os espectadores mais caretas torciam por um beijo entre os dois. Que foi ao ar no último capítulo da novela, em janeiro de 2013, e entrou para a história.
Em "Terra e Paixão", a espera foi de cinco meses. Um lento banho-maria, até que a dupla "Kelmiro" se tornasse praticamente uma unanimidade nacional. Quase não se veem homofóbicos reclamando. O Brasil inteiro vibrou pelos dois.
Um desfecho triunfal para um dia que foi bastante desagradável para Amaury Lorenzo. Na noite de segunda (11), o ator ganhou o troféu de revelação no Melhores do Ano, a premiação interna da Globo. A gravação só vai ao ar no próximo domingo (17), mas os resultados vazaram imediatamente.
Amaury superou no voto popular os dois outros indicados na categoria, seu colega Diego Martins e Clara Moneke, a Kate de "Vai na Fé", tida como favorita ao prêmio. Sua vitória deixou inconformados alguns fãs da atriz, que foram às redes sociais importuná-lo.
O pior é que teve até quem o ameaçasse de morte. A imensa maioria desses ataques não passa de bravatas, mas vai que tem um maluco ali no meio, disposto a ir às vias de fato? A coisa chegou a um nível que forçou Amaury a desativar seu perfil no Instagram e acionar a polícia.
A própria Clara Moneke precisou ir ao X pedir que os ataques cessassem, e que ela também estava feliz com a vitória de Amaury Lorenzo. Que, vale sublinhar, não fez nada de errado: não fez campanha contra os outros indicados, nem roubou votos.
O ator já reativou seu perfil, e está contente com a repercussão da cena do beijo. Mas cabe uma reflexão: que tempos são esses em que alguém se acha no direito de ameaçar de morte um ator, só porque ele ganhou um prêmio que "deveria" ser dado a outro?
No começo do ano, os fãs de Anitta infernizaram a cantora de jazz americana Samara Joy, porque ela "ousou" derrotar a brasileira na disputa pelo Grammy de melhor novo artista. Ah, e experimente fazer a mais leve crítica a Taylor Swift. Os "swifties", que adoram distribuir "pulseiras da amizade", viram bichos na hora.
Tamanha agressividade não fica restrita à internet. São cada vez mais comuns as pancadarias entre torcidas na saída de jogos de futebol. O fenômeno é antigo, mas se intensificou recentemente. Que tensão social é esta, que faz com que um torcedor queira matar outro, só porque não torcem pelo mesmo time?
Mas também há outro fator: a falta do que fazer. Só isso explica a disposição em atacar virtualmente um artista, que muitas vezes nem fez nada para ser cancelado. Faço votos que esse bando de desocupados encontre logo uma pia de louça suja para lavar.
Pelo menos a terça-feira teve um final feliz para Amaury Lorenzo. Mas alguém tem dúvidas de que o bullying na internet vai continuar?
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