Será que 'Terra e Paixão' vai conseguir pegar no tranco?
Walcyr Carrasco antecipa morte de personagem para tentar subir audiência
Entre todos os autores em atividade na Globo, nenhum tem a ficha corrida de Walcyr Carrasco. Praticamente todas as novelas e minisséries que ele escreveu na emissora foram sucessos estrondosos de audiência (com a crítica, a história é bem outra).
O mais incrível é que Carrasco se dá bem com todos os públicos, assinando desde a ingênua "Êta Mundo Bom", exibida na faixa das 18 horas, até o pornô light das duas temporadas de "Verdades Secretas", na faixa das 23 horas.
Mas essa sequência de êxitos pode estar prestes a ser interrompida. "Terra e Paixão", que estreou há um mês e meio no mais nobre dos horários, o das 21h20, ainda não atingiu os tão sonhados 30 pontos no Ibope (na Grande São Paulo, o maior mercado do país, cada ponto equivale a 206.674 pessoas).
Não que a novela seja um fracasso, muito pelo contrário. Na quinta passada (15), ela bateu seu próprio recorde, alcançando 26,6 pontos —um número invejável para as outras emissoras, cujos índices raramente chegam a dois dígitos.
Mas a Globo queria repetir o fenômeno "Pantanal", o folhetim de maior repercussão desta década, que terminou com uma média de 29,6 pontos em São Paulo e 32 no Rio de Janeiro. Mesmo assim, são números bem inferiores aos de "Avenida Brasil", de 2012, que marcou 41,5 pontos de média no PNT, o Painel Nacional de Televisão, que leva em conta as 15 maiores capitais do país.
As novelas, a Globo e a TV aberta como um todo vêm perdendo audiência há cerca de 20 anos. Não é uma queda drástica, mas é paulatina e, aparentemente, irreversível.
É por isso que todos os canais vêm tentando reduzir custos, enxugando seus elencos e cortando investimentos. Nem mesmo a Globo, outrora à prova de crise, escapou.
A emissora cercou "Terra e Paixão" de todos os cuidados. A temática rural parece a mais adequada aos tempos que correm. Também afinada com a época atual foi a escalação de uma atriz negra para o papel da protagonista Aline, Barbara Reis. Para compensar a pouca fama que ela ainda tem, a Globo a cercou de medalhões, como Tony Ramos, Glória Pires e Cauã Reymond.
Nada disso surtiu muito efeito. "Terra e Paixão" desapontou no Ibope já na estreia e, apesar de alguma reação, ainda não caiu na boca do povo.
As razões para isso podem ser muitas: desde a pouca familiaridade do espectador com a atriz principal (e isso não implica num juízo de valor meu, pois acho Barbara Reis muito boa) até a trama manjada, de luta pelo controle de um império familiar. E quem foi que achou que um conflito sangrento pela posse de terras serviria de respiro para o noticiário atual?
Além do mais, o rico fazendeiro Antonio La Selva, papel de Tony Ramos, culpa o filho Caio (Cauã Reymond) pela morte da mãe deste no parto. Alguém em sã consciência, no ano da graça de 2023, ainda usa esse tipo de argumento contra um desafeto? Fora que esse mesmo mote é um dos pilares de "Renascer", cujo remake deve ocupar a mesma faixa horária no ano que vem.
Para fazer a novela pegar no tranco, Walcyr Carrasco resolveu antecipar uma reviravolta que só aconteceria mais adiante: a morte de Daniel (Johnny Massaro), irmão de Caio e rival deste pelo amor de Aline.
Pode ser que dê certo. Em 2008, João Emanuel Carneiro também antecipou a revelação de quem era a verdadeira vilã de "A Favorita", salvando a novela da irrelevância.
Mas também pode ser que não. O público jovem assiste cada vez menos à TV aberta, e "Terra e Paixão" não traz nenhuma novidade. Meio que já sabemos tudo o que vai acontecer. Pois está faltando justamente aquele ingrediente misterioso que faz com que o público se apaixone por uma novela.
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