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Tony Goes

Sóbria e contida, coroação de Charles 3º teve algo de anticlimático

Cerimônia se esforçou para mostrar diversidade, mas Meghan Markle fez falta

Rei Charles 3º acena para a multidão em frente ao Palácio de Buckingham - Daniel LEAL / AFP
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Não houve o clima de euforia dos casamentos dos príncipes William e Harry, repletos de convidados glamurosos. Tampouco a comoção do funeral da rainha Elizabeth , que levou muito mais gente às ruas de Londres. É verdade que o tempo não ajudou: nem a presença de um enviado da Fundação Cacique Cobra Coral evitou que uma chuvinha fina caísse sem parar sobre a capital britânica.

A coroação do rei Charles 3º teve algo de anticlimático. O fortíssimo esquema de segurança impediu que o trajeto do Palácio de Buckingham à Abadia de Westminster, percorrida de carruagem pelos novos monarcas, estivesse tomado pelo público. A cerimônia em si teve poucos momentos emocionantes; um deles foi a apresentação cheia de suingue do Ascension Choir, que interpretou o hino "Alleluia".

Era visível o esforço da organização do evento para demonstrar diversidade e representatividade. Mulheres assumiram papéis que sempre foram reservados a homens. Qualquer pessoa de turbante ou com um tom de pele que não fosse o branco rosado típico das Ilhas Britânicas capturava a atenção das câmeras de TV. Muito louvável, mas cabe lembrar que a primeira pessoa não-branca a entrar para a família real, Meghan Markle, não estava presente.

Charles tem o apoio de praticamente dois terços de seus súditos, um número invejável para qualquer político. Mas será suficiente para a sobrevivência da Casa de Windsor? Entre os mais jovens, a monarquia é cada vez mais impopular.

Nas redes sociais, a falecida princesa Diana foi coroada por aclamação. A sombra de sua primeira mulher irá perseguir Charles pelo resto da vida. Boa parte da população não entende que o amor dele e Camilla é para valer, tendo resistido a toda sorte de pressões.

Foi só quando os reis voltaram a Buckingham que o asfalto foi liberado, e a coroação finalmente tomou ares de festa popular. A multidão rapidamente se apropriou da praça em frente ao palácio, agitando bandeiras e guarda-chuvas. E explodiu em vivas quando a família real finalmente apareceu no balcão. Harry, que estava na Abadia, não deu o ar de sua graça: ele não é mais um "working royal", um membro operante da realeza.

A transmissão pela GloboNews merece elogios. A âncora Cecilia Flesch cometeu algumas gafes, como chamar o rei de "Charles 2º". Mas o time de comentaristas – os jornalistas Marcelo Lins e Marita Graça, e o especialista em monarquia Francisco Vieira – não só trouxe muitas informações relevantes, como resistiu bravamente à tentação de falar o tempo todo, tão comum em eventos como a entrega do Oscar.

Amanhã, domingo (7) tem mais. Um show de música pop reunirá os americanos Katy Perry e Lionel Ritchie e o italiano Andrea Bocelli. O mais vistoso participante britânico é a antiga boy band Take That, sem Robbie Williams, seu membro mais famoso. Não exatamente um elenco de primeiríssima linha, mas fazer o quê? Nomes como Elton John, Harry Styles, Adele e até mesmo as Spice Girls, recusaram o convite, alegando problemas de agenda. Mau sinal?

Talvez não. Charles é o primeiro rei de seu país a ter cursado uma faculdade. É um genuíno amante das artes, e ainda tem uma consciência ecológica digna de um militante ambiental. Jamais alcançará a popularidade da mãe, mas tem tudo para fazer um bom reinado: afinal, se preparou a vida inteira para este momento.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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