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Tony Goes

Harry e Meghan se expõem na mídia para criticar família real e a mídia

Príncipe britânico repete a tática de sua mãe, a princesa Diana

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Afinal, o que querem o príncipe Harry e sua mulher, a ex-atriz americana Meghan Markle? Existe uma expressão em inglês, sem tradução exata para a nossa língua, que resume o objetivo do casal: eles querem "eat their cake and have it". Querem comer o bolo, mas também deixá-lo intacto.

O príncipe Harry e sua esposa, Meghan, em Nova York, no final de 2021 - Andrew Kelly - 23.set.2021/Reuters

O duque e a duquesa de Sussex, outros dos títulos nobiliárquicos do casal, vêm fazendo uma grande investida de relações públicas desde o começo de dezembro passado. Primeiro, lançaram a série "Harry & Meghan" na Netflix. Ao longo de seis episódios, eles relatam, em primeira pessoa, como se conheceram, como foi o namoro e o noivado, e os problemas que Meghan passou a enfrentar assim que entrou para a família real britânica.

Cena da série documental 'Harry & Meghan'.
Cena da série 'Harry & Meghan', da Netflix - Divulgação


Por um lado, integrantes do próprio clã Windsor a teriam infernizado com insinuações e piadas de cunho racista. Por outro, a implacável imprensa popular britânica, famosa pelo sensacionalismo e irresponsabilidade, publicava reportagens sobre o temperamento "intratável" da duquesa. Ela suspeita de que essas duas instituições, nobreza e mídia, estariam agindo em conjunto.

Nesta terça (10) será publicado, no exterior, o livro "Spare", uma autobiografia de Harry. O título, que pode ser traduzido como "estepe", se refere ao fato de que a função institucional do príncipe é ser o substituto eventual de seu irmão mais velho William —uma possibilidade cada vez mas remota, já que os três filhos do herdeiro oficial do trono estão à frente de Harry na linha de sucessão.

"Spare" traz várias revelações. Uma delas pode tornar Harry alvo preferencial de terroristas islâmicos: ele admite que matou cerca de 25 talibãs ao longo das seis missões que cumpriu na guerra no Afeganistão.

Outras são relativamente chocantes, como a admissão de que ele já cheirou cocaína. E também há as que resvalam para a categoria "mais do que eu queria saber", como o fato de o príncipe ter tido seu pênis congelado durante uma viagem ao Polo Norte em 2011.

Mas tudo isso são detalhes perto do que parece ser o objetivo maior do livro: atacar a família real, especialmente o príncipe William. As queixas contra o irmão mais velho, mais cioso de seus deveres oficiais e preocupado em ser ofuscado pela popularidade do irmão caçula, parecem dar o tom de "Spare".

família real inglesa: Camilla Parker Bowles, Charles, William e Kate Middleton
Primeira foto oficial de Charles e Camilla como rei e rainha consorte - 2.out.2022/Instagram


Harry e Meghan acusam o Palácio de Buckingham de não os ter protegido quando os tabloides do Reino Unido pintaram a ex-atriz como uma megera. Um deles publicou uma carta pessoal dela para o pai, com quem tem más relações. Quem vazou o documento? O caso rendeu um longo processo judicial, afinal vencido por Meghan, mas deixou cicatrizes profundas no casal.

No entanto, ao mesmo tempo em que reclamam de terem sua privacidade invadida, o casal não foge da mídia. Se quisessem, talvez pudessem levar uma vida discreta como a do príncipe Edward, o irmão mais novo do rei Charles, que raramente é notícia. Mas eles preferiram se expor e tomar conta da própria narrativa.

Além do mais, Harry e Meghan não querem mais os deveres que ser um membro da família real acarreta, mas gostariam de manter o mesmo padrão de vida. Mansões cinematográficas, viagens em jatinhos, acesso imediato aos poderosos do mundo inteiro. Tudo isto custa caro, e o dinheiro precisa vir de algum lugar.

Pelo jeito, está vindo da minissérie da Netflix e do livro "Spare". Harry repete a mesma estratégia de sua falecida mãe, a princesa Diana, que deu entrevistas devastadoras sobre sua intimidade para atingir seu ex-marido e a amante deste, a atual rainha consorte Camilla Parker-Bowles. No final, porém, pode-se dizer que Diana foi vítima dessa própria mídia que ela tentou controlar.

Camilla Parker Bowles e o então príncipe Charles, em 2005 - John Stillwell - 10.fev.2005/Pool/AFP


Ou seja: Harry e Meghan estão fazendo um jogo arriscado, na tentativa de se manterem sob os holofotes e, quem sabe, se vingarem de seus desafetos. Para que lado a corda vai arrebentar? A relação do príncipe com sua família pode estar definitivamente estremecida. Mas, a longo prazo, é a própria monarquia britânica, uma instituição cada vez mais incongruente, que corre sé rio perigo.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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