Massacrada na web, Fernanda Torres fez bem em tomar vacina da AstraZeneca
Atriz não quis alimentar o negacionismo e voltou atrás em sua resistência
Atriz não quis alimentar o negacionismo e voltou atrás em sua resistência
A pandemia da Covid-19 gerou algumas figuras folclóricas, como o tiozão que se recusa a usar máscara ou o fiscal de comorbidades. Todo mundo também conhece o sommelier de vacinas: aquele que se recusa a tomar o imunizante deste ou daquele laboratório, porque só uma determinada marca satisfaz seu paladar exigente.
Essa carapuça quase serviu em Fernanda Torres. Na sexta-feira (11), circulou nas redes sociais que a atriz, escritora e colunista da Folha teria procurado um posto de vacinação no Rio de Janeiro, cidade onde mora. Ao saber que a vacina disponível era a da Oxford/AstraZeneca, Fernanda teria se recusado a tomá-la, e dito que iria procurar um posto que oferecesse o imunizante da Pfizer.
Não são poucas as pessoas que vêm recusando a vacina da AstraZeneca. Alguns acham que o prazo entre a primeira e a segunda dose, de três meses, é longo demais, e preferem a Coronavac, cuja segunda aplicação se dá apenas três semanas após a primeira.
Outros temem as reações que a vacina pode provocar no organismo: dor de cabeça, dor no corpo, sonolência. Sintomas desagradáveis, sem dúvida, mas infinitamente preferíveis a uma internação na UTI ou a uma intubação.
O fato é que, num país onde faltam vacinas, chega a ser imoral alguém se dar ao luxo de escolher. Todas as que são aplicadas no Brasil foram aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); todas protegem contra o novo coronavírus. Além do mais, recusar uma determinada vacina é dar força para os negacionistas, sempre prontos a desacreditar a imunização e a propagar mentiras absurdas.
Tudo isso fez com que Fernanda Torres fosse imediatamente condenada pelo tribunal da internet. Investidos de ira santa, esses juízes da vida alheia se sentem no direito de esculhambar qualquer um que pareça se desviar da perfeição.
Só que Fernanda tinha mesmo uma boa razão para temer a vacina da AstraZeneca. Ela tem casos de trombose na família, e há suspeitas não confirmadas de que o imunizante da Oxford tenha provocado trombose numa proporção ínfima de pessoas que o receberam. A atriz também teve Covid-19 em dezembro, e seu nível de D-Dímero (proteína envolvida no processo de coagulação) nunca mais voltou ao normal, o que a torna mais suscetível a um problema desses.
Tudo isto Fernanda conta numa postagem em seu perfil no Instagram, publicada nesta segunda-feira (14) e ilustrada por uma foto dela tomando a vacina da AstraZeneca. Isto mesmo: depois de ser massacrada nas redes, a atriz voltou atrás.
Esta atitude serve para limpar sua imagem, e é claro que não vai faltar um gaiato para dizer que ela tomou a vacina por puro marketing. Mas não deixa de ter um toque de heroísmo: Fernanda se dispôs a encarar um imunizante que talvez não seja o mais indicado para seu estado de saúde.
"Minha mãe tomou a segunda dose da Astrazeneca há um mês, meu irmão tomou Astrazeneca, bem como o meu enteado transplantado”, escreveu ela na postagem. "Hoje, em respeito à Fiocruz, com toda a segurança, tomei a primeira dose da vacina AstraZeneca. Esperei muito por essa hora e estou feliz e aliviada de ela ter chegado. Continuarei usando máscara e mantenho o distanciamento social, até que o Brasil alcance uma taxa de vacinação compatível com o retorno a uma vida próxima do normal."
E assim, com uma picadinha no braço, Fernanda Torres esbofeteou os oportunistas que a acusavam de hipocrisia e os negacionistas que usariam sua recusa inicial para minar a confiança na vacinação. Palmas para ela.
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