'Um Lugar ao Sol', próxima novela das 21 horas na Globo, não será obra aberta
Trama de Lícia Manzo estará totalmente gravada quando finalmente estrear
Trama de Lícia Manzo estará totalmente gravada quando finalmente estrear
"Um Lugar ao Sol" deveria ter estreado em maio de 2020, logo após o término de "Amor de Mãe". A primeira novela de Lícia Manzo no horário nobre da Globo já tinha muitas cenas gravadas, inclusive no exterior, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a pandemia do novo coronavírus em março do ano passado.
A produção foi suspensa, como aconteceu com toda a teledramaturgia brasileira, e a estreia, cancelada. "Amor de Mãe" foi tirada do ar às pressas e, em seu lugar, a emissora reprisou "Fina Estampa" (2011-2012). Em meados de 2020, quando ficou claro que a pandemia não ia acabar tão cedo, outra reprise foi anunciada, a de "A Força do Querer" (2017).
Em fevereiro de 2021, a Globo finalmente confirmou a estreia de “Um Lugar ao Sol” para o dia 12 de abril. A novela, que retomou suas gravações ainda em 2020, entraria no ar com uma "frente" inusitada: cerca de 70 capítulos já prontos, algo inédito para o horário.
Aí a pandemia recrudesceu, e a emissora se viu obrigada a programar uma terceira reprise para a faixa, "Império" (2014-2015). Quando a reexibição do folhetim de Aguinaldo Silva terminar, lá por setembro ou outubro, "Um Lugar ao Sol" deverá estar totalmente gravada. Será a primeira vez na história que o produto mais importante de toda a grade da Globo entrará no ar completamente pronto.
É um risco e tanto. Os próprios autores gostam do fato de as novelas serem obras abertas, que podem ser modificadas enquanto estão em andamento. O público não gostou de uma determinada trama? Muda-se o rumo dela. Tal núcleo não está agradando? Sempre dá para melhorar.
A Globo foi a primeira emissora do mundo a investigar a reação da audiência a suas novelas, ainda na década de 1970. Institutos de pesquisa organizam grupos de discussão, divididos por sexo, idade ou qualquer outro critério, e a atração é esmiuçada pelos participantes. O que está funcionando? O que não está? O que vocês acham que deve mudar?
Nenhuma novela escapa de alguma correção de rota. Na sinopse de "Caminho das Índias" (2009), de Gloria Perez, os personagens de Juliana Paes (Maya) e Márcio Garcia (Bahuan) deveriam terminar juntos. Mas o público preferiu que Juliana ficasse com Rodrigo Lombardi (Raj), com quem a atriz demonstrou ter mais química em cena.
Nem sempre dá certo. "Babilônia" (2015), escrita por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, mostrou um beijo lésbico logo no primeiro capítulo, entre Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. Uma parcela expressiva da audiência odiou a cena, e o casal formado pelas duas caiu para segundo plano na história.
Este foi só um dos muitos problemas da trama que os “focus groups” apontaram, e a Globo tentou corrigir todos. Não deu certo: "Babilônia" acabou entrando para a história como o mais baixo Ibope do horário.
"Um Lugar ao Sol" não passará por nada disso. Quando estrear, será uma obra fechada. Claro que a emissora sempre poderá regravar uma ou outra cena, mas a um custo bastante elevado. Mudanças mais profundas, como o redirecionamento de uma trama, estão fora de questão.
Pesa a favor o histórico de Lícia Manzo. As duas novelas que ela assinou como autora principal, ambas na faixa das 18 horas, foram sucesso de público e crítica: "A Vida da Gente" (2011-2012), atualmente sendo reprisada, e "Sete Vidas" (2015).
Mesmo assim, é um risco considerável estrear uma novela pronta no horário mais nobre da televisão brasileira. Se for mal, "Um Lugar ao Sol" nem sequer poderá ser encurtada.
Mas, se for excepcionalmente bem, seu sucesso poderá até pôr em questão o caríssimo sistema de grupos de discussão. Eles talvez se mostrem desnecessários, e o próprio conceito de “obra aberta” sairá abalado. Como observador da nossa televisão, estou curioso para ver o que vai acontecer.
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