Ao cancelar SBT Brasil, Silvio Santos desrespeita seu jornalismo e seu público
Reprise de Triturando entrou no lugar do telejornal neste sábado (23)
O SBT nunca foi reconhecido pela qualidade de seus telejornais. Grandes nomes já trabalharam e ainda trabalham no jornalismo da emissora, mas existe alguém que se esmera para destruir a credibilidade deste departamento: o próprio Silvio Santos.
Não é nenhuma novidade que o dono do SBT encara o jornalismo como uma aporrinhação. Quanto menos, melhor: ao longo de sua história, o canal exibiu diversos noticiários de brevíssima duração, chamados de "pílulas". Como se fossem mesmo um remédio amargo, para ser tomado rapidamente.
Silvio Santos também parece não entender a diferença entre jornalismo e entretenimento. Já colocou belas atrizes apresentando telejornais –e elas até que fizeram um bom trabalho, quando comparadas aos inacreditáveis Dudu Camargo e Marcão do Povo, estrelas do matutino Primeiro Impacto.
Este último foi mantido no comando do programa mesmo depois de sugerir que os infectados pelo coronavírus fossem internados em campo de concentração, o que gerou uma avalanche de protestos. Inclusive, dos próprios jornalistas do SBT.
Nos últimos dias, Silvio Santos deu mais uma prova do descaso que tem pela informação ao reprisar o Primeiro Impacto na hora do almoço. Não foi nem a primeira vez que SBT reprisou telejornais, sem sequer informar o público que se tratava de conteúdo pré-gravado e não-inédito.
Mas o que aconteceu neste sábado (23) não tem precedentes. O SBT Brasil, o mais importante noticiário da casa, simplesmente não foi ao ar. Em seu lugar, Silvio Santos mandou exibir uma reprise do programa de fofocas Triturando (ex-Fofocalizando). Um total desrespeito ao telespectador e à própria missão da emissora.
Silvio Santos ficou descontente com a edição desta sexta (22) do SBT Brasil, que deu destaque ao vídeo da infame reunião ministerial do dia 22 de abril. Não havia como ignorar o assunto: era o assunto do dia, capaz de abalar os alicerces da República.
Neste sábado, circulou no departamento de jornalismo que era para pegar leve no SBT Brasil. Nada de abrir muito espaço para a repercussão, largamente negativa, que o vídeo teve no mundo político, jurídico e empresarial.
Só isto já seria bastante grave. Mas não é de agora que o SBT, a Record, a RedeTV! e, em menor escala, a Band, passam pano para o governo Bolsonaro. Não faltam motivações financeiras e políticas para essas emissoras evitarem desagradar ao presidente. E dá-lhe entrevistas camaradas, escândalos acobertados, problemas ignorados e “boas notícias”, em geral.
Mas o cancelamento da exibição de um telejornal tem cheiro de ditadura. De censura. De autocensura, a pior de todas. Silvio Santos não está nem aí. Sempre foi subserviente ao governo federal, qualquer que fosse o governo. E parece ser ainda mais a este que está aí, por afinidade ideológica.
Há pouco mais de um mês, soltou uma nota interna na qual dizia o seguinte: "Minha concessão de televisão pertence ao governo federal e eu jamais me colocaria contra qualquer decisão do meu ‘patrão’ que é dono da minha concessão. Nunca acreditei que um empregado ficasse contra o dono, ou ele aceita a opinião do chefe, ou então arranja outro emprego."
A concessão não pertence ao governo e, sim, ao Estado, mas Silvio também parece não saber a diferença entre um e outro. Bolsonaro tampouco é seu “patrão”. Ao tratá-lo como tal, o dono do SBT acrescenta mais uma barbaridade ao extenso rol que vem acumulando nos últimos tempos.
Prestes a completar 90 anos de idade, Silvio Santos tem pouco a perder. Só seu legado e seu lugar na história.
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