Taís Araújo no comando de Popstar seria um sinal de novos tempos?
Escalação da atriz para o programa é positiva, mas ainda falta muito
Pressionada pelas redes sociais e até pelo Ministério Público do Trabalho por causa dos poucos atores negros na novela “Segundo Sol”, a Globo se mexeu. Na quinta-feira passada (17), a emissora anunciou que Taís Araújo será a nova apresentadora do concurso musical Popstar, cuja segunda temporada estreia em setembro.
A atriz não será a primeira pessoa negra a comandar um programa de variedades no canal. Seu marido Lázaro Ramos até já emplacou uma atração criada por ele mesmo, “Lazinho e Você”, exibida em 2017 nas tardes de domingo. E Camila Pitanga comandou diversas edições do “Som Brasil”, musical que era exibido nas madrugadas de sexta para sábado.
Mas o Popstar está num patamar acima. Mesmo que, a exemplo do que aconteceu no ano passado, também seja exibido nos domingos à tarde (seu novo horário ainda não foi anunciado), o programa tem produção e acabamento dignos da faixa nobre. É um produto importante da casa.
A escalação de Tais Araújo para o Popstar não deixa de ser uma maneira de manter a atriz no ar depois de terminada a atual (e, dizem, última) temporada de “Mister Brau”, o seriado que ela estrela com o marido. Aliás, foi "Mister Brau” que a impediu de aceitar o papel de Luzia em “Segundo Sol”, que acabou ficando com Giovana Antonelli.
Apresentadores negros ainda são raridade na televisão brasileira. A Globo até que tem alguns no jornalismo - Heraldo Pereira, Glória Maria, Maju Coutinho e Zileide Silva, entre outros - mas a área de entretenimento ainda é dominada por brancos como Angélica e Fernanda Lima.
Os negros são ainda mais raros na Record e no SBT, os dois maiores concorrentes da Globo na TV aberta. No entanto, curiosamente, essas duas emissoras escapam das críticas à falta de representatividade negra.
Há negros apresentando programas em canais públicos, como Adriana Couto no Metrópolis (Cultura) ou Ellen Oléria no Estação Plural (TV Brasil). O próprio Lázaro Ramos também conduz o talk show Espelho no Canal Brasil, na TV paga. Mas claro que ainda é pouco.
Só que alguma coisa parece estar mudando. A gritaria em torno de “Segundo Sol” deixou a Globo em estado de alerta. Alvo preferencial da direita e da esquerda, a emissora vem reagindo cada vez mais rápido às polêmicas que envolvem seus contratados (haja vista o caso William Waack).
Por tudo isto, é ótimo que uma estrela linda e talentosa como Taís Araújo tenha a chance de apresentar um programa como o Popstar.
Por outro lado... ela de novo? A Globo também precisa investir em outros nomes, para além da trinca Taís, Lázaro e Camila. Gente como Sheron Mezezzes, Érico Brás, Juliana Alves, Fabrício Boliveira ou Lucy Ramos. Há anos trabalhando como coadjuvantes, todos merecem ser promovidos a protagonistas.
Não vai ser de um dia para o outro. Nos Estados Unidos, este processo já leva pelo menos duas décadas, e está longe de acabar. Mas hoje os atores e apresentadores afro-americanos são bastante presentes no cinema e na TV de lá, apesar dos EUA terem, proporcionalmente, uma população negra e parda bem menor que a do Brasil.
Taís Araújo no Popstar é um passo à frente. Ainda faltam muitos.
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