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Rosana Hermann

Brasil polarizado, agora também no entretenimento

Se ficarmos nesse flá-flu de celebridades, vamos todos cair no abismo da mediocridade

Xuxa Meneghel e sua ex-empresária Marlene Mattos - Instagram/Folhapress
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E aí, você é do time da Rainha dos Baixinhos ou defende a Marlene Mattos? E no caso do Encontro (Globo), você está do lado da Patrícia Poeta ou do Manoel Soares? Indo mais fundo nessa história, em termos de processo, você torce por Patrícia Poeta ou Sonia Abrão? E entre a cozinheira e a influenciadora, você é mais Caroseller ou mais Virginier?

As perguntas procedem porque todas elas estão dividindo o Brasil em torcidas antagônicas. É como se a polarização política que vivemos nos últimos anos tivesse contaminado também o mundo do entretenimento.

Claro que as rivalidades entre famosos sempre aconteceram, mas eram entre artistas da mesma área, como as disputas de fã-clubes das cantoras Marlene e Emilinha Borba, que depois se repetiram durante anos com Ivete Sangalo e Claudia Leitte.

Mas agora a coisa é geral. Tudo é treta, tudo é briga, tudo é polarização. Não tem meio-termo, não tem debate nem composição. E o fio parece ter sido puxado, de fato, pelo documentário da Xuxa, que gerou uma onda revisionistas de acontecimentos do passado, que a cada dia ganha mais figurantes. Mara Maravilha elogiando Marlene, Aretha Marcos indo exatamente no sentido contrário.

Isso sem falar do documentário do Balão Mágico, que também levantou questões sobre a infância perdida dos pequenos famosos dos anos 80.

Parece que entramos de cabeça no revisionismo da história da TV. É, de fato, muito importante olhar de novo para o passado, fazer a "revisão" dos fatos antigos e entender se as coisas ainda fazem sentido ou se precisam mudar aos olhos da sociedade atual.

Mas, ao fazer isso, destaco que concordo com Leão Lobo: tudo tem que ser visto e revisto, mas dentro de um contexto. Claro, tem coisas que não dependem de contexto, como casos de abuso, de estupro. Mas, tirando esses crimes graves, precisamos calibrar nosso julgamento ao voltar para o passado.

O mundo era muito diferente antes da internet, antes das rede sociais, antes de todos terem aparelhos para registrar e divulgar os acontecimentos de sua vida. Nesse sentido evoluímos em alguns aspectos. Muita gente que se calava hoje pode falar. Muita gente que sofria abusos de poderosos nas emissoras de televisão, hoje tem voz para denunciá-los.

Mas, em outros quesitos, os problemas continuam. Se artistas mirins eram explorados por seus pais quando só havia TV aberta, hoje a mesma coisa se repete com influenciadores mirins, que muitas vezes se tornam a principal fonte de renda de todos os adultos a sua volta, exatamente como acontecia com Simony, Mara Maravilha e Angélica, só para citar algumas apresentadoras que construíram grandes patrimônios enquanto eram menores de idade, com carreiras geridas por familiares.

O problema, a meu ver, é que além de estarmos viciados em polarização, temos a mania da fulanização. Não queremos discutir assuntos, temas, mas apenas tomar partido de pessoas. Assim, em vez de discutirmos racismo estrutural, ficamos na divisão rasa de Patrícia Poeta x Manoel Soares. Em vez de discutirmos sororidade e feminismo, decidimos se vamos apoiar Paola Carosella ou Virginia Fonseca. Em vez de falarmos de infância roubada ou de artistas explorados por empresários, ficamos só na superfície das histórias.

Vamos rever o passado, sim, mas com foco nas questões e não só nos nomes, para construirmos um futuro sadio. Se ficarmos só nessa polarização, nesse flá-flu de celebridades, vamos criar mais uma fenda, mais uma divisão. E de racha em racha, vamos todos cair no abismo da mediocridade.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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