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Rosana Hermann
Descrição de chapéu Gal Costa

Artistas e empresários, uma relação complicada

Casos de Xuxa e Marlene Mattos e Gal Costa e sua viúva deixaram profissionais em evidência

Xuxa Meneghel e sua ex-empresária Marlene Mattos - Instagram/Folhapress
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Nos últimos dias, por motivos e histórias bem diferentes, todos nós temos falado da relação entre artistas e as pessoas que cuidam de suas carreiras, sejam empresários, diretores, amigos, parceiros ou combinações dessas possibilidades.

No caso de Xuxa e Marlene Mattos, as questões que envolvem as duas sempre foram muito comentadas e, agora, ainda mais expostas, especialmente com o lançamento de "Xuxa, O Documentário" e das oportunidades que ambas têm tido de contar suas vivências, cada uma pelo seu ponto de vista. Até porque ambas estão vivas e, felizmente, muito bem de saúde.

O mesmo não se pode dizer no caso da saudosa e amada Gal Costa, cujo nome tem voltado à mídia desde a publicação da reportagem "A História da Misteriosa Viúva de Gal Costa" da revista piauí, que revela o quanto sua ex-companheira se envolvia na carreira, nas decisões profissionais, nas finanças e em tudo que dizia respeito à cantora. A viúva ainda pode falar e contar sua versão dos fatos, mas a divina Gal não.

Fato é que essa ligação entre artistas e seus empresários é muito complexa, às vezes, até mais do que um casamento. Primeiro porque há empresários de todos os tipos, dos que alavancam até os que atravancam carreiras, dos que são fãs aos que são haters, dos que fazem pontes até os que querem ser mais artistas que seus empresariados.

Na minha carreira trabalhando em televisão, conheci tipos maravilhosos de empresários: carinhosos, competentes, que amam seus astros e estrelas e querem seu bem mais do que querem o bem deles próprios. Sei de pelo menos três casos de fãs que passaram a dedicar suas vidas a seus ídolos, como secretários particulares, produtores pessoais e até parceiros afetivos. Também conheci intermediários arrogantes que faziam exigências absurdas para que seus representados aceitassem convites para entrevistas e apresentações.

Lembro de um caso no Programa do Porchat (Record, 2016-2018) que foi um expoente do absurdo. A pessoa que cuidava da carreira do cantor, que àquela época vivia um certo "auge", exigiu que Fabio Porchat fosse ver o show do artista várias vezes. Depois colocou condições estratosféricas em relação à participação no talk show, como assuntos que não poderiam ser mencionados e perguntas que não seriam respondidas. E, por último, a pessoa deu uma janela de tempo cronometrada para que gravássemos com o artista.

No momento em que ele pousasse seu jatinho, helicóptero, charrete, abóbora —nem me lembro—, a empresária acionaria um cronômetro e nós todos da produção, incluindo Porchat, teríamos "x" minutos, para fazer a entrevista e encerrar. Achei tão patético que me segurei na reunião para não mandar um "escuta aqui, tu tá achando esse seu agenciado é quem?" e melar a negociação.

Fiquei me perguntando se aqueles pedidos todos tinham vindo mesmo do convidado ou se a agente tinha inventado aquilo tudo para dar uma sensação de que seu agenciado era mais importante e requisitado que o papa.

Por razões como essas, muitos artistas preferem escolher amigos próximos ou familiares para cuidarem de suas carreiras. Quando existe um laço de sangue, ou de amizade antiga, costuma haver mais confiança. Porque o empresário vai conhecer o artista de forma muito íntima, vai saber de todos os seus detalhes, seus segredos, seus problemas, vai ter acesso a informações sobre suas finanças, seus negócios, tudo. Nesse sentido, um ex-empresário pode gerar muito mais problemas para a carreira do que ex-cônjuge.

Um exemplo de sucesso de relação artista-empresário com laços de sangue é o da advogada Karina Sato Rahal, a competentíssima irmã de Sabrina Sato, que se tornou uma das mais famosas agentes de artistas do Brasil. Já Ivete Sangalo não teve a mesma sorte. Durante muitos anos a cantora foi empresariada por seu irmão Jesus, falecido em 2019. Quando os dois romperam a parceria, ficaram sem se falar e só se reconciliaram alguns anos mais tarde.

O que podemos dizer é que não há uma fórmula certa. Cada um vai tentando até acertar, na base da tentativa e erro.

No fundo, a questão que o artista tem que responder é sempre a mesma: em que podemos confiar 100%? Se a pergunta já é difícil de ser respondida por cidadãos comuns, como nós, imagine num ambiente que envolve dinheiro, fama e poder.

Gal era um talento único. Uma diva. Dói o coração da gente pensar que ela possa ter sofrido em silêncio sem soltar aquela linda voz para pedir ajuda. Fica o consolo de que agora ela descansa em paz.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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