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Rosana Hermann

Respeitem Marilia Mendonça

Que mundo doente é este em que pessoas querem ver imagens de uma necropsia?

Marília Mendonça durante lançamento da turnê As Patroas, no Alianz parque - Leo Franco 5.out.2021/AgNews
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O dia 5 de novembro de 2021 sempre será lembrado como um dos dias mais tristes da nossa história recente: a data da perda trágica e prematura de uma das maiores artistas do Brasil, a cantora e compositora Marilia Mendonça. Junto com ela, também morreram no acidente de avião seu tio e empresário, Abicelí Silveira Dias Filho, seu produtor Henrique Ribeiro, o copiloto, Tarciso Pessoa Viana, e o piloto, Geraldo Medeiros Júnior.

Marilia era extremamente talentosa, uma voz potente que falava por milhões de mulheres, carismática, jovem e cheia de vida. Foi um golpe duríssimo para todos nós.

Eis que no dia 13 de abril deste ano, quase um ano e meio depois de sua morte, uma criatura abjeta, nojenta e criminosa vazou fotos póstumas da artista num perfil do Twitter. A crueldade, a perversão desse ato, indignou todas as pessoas com um mínimo de decência. Como alguém faz uma coisa dessas? Quatro dias depois, em 17 de abril deste ano, o suspeito foi encontrado: um serralheiro de 22 anos cujo nome não vou repetir para não deixá-lo ainda mais "famoso". Ele foi preso no Distrito Federal, na operação Fenir, nome mitológico que significa "lobo monstruoso", definição perfeita para o homem em questão.

A partir daí, descobriu-se que ele também havia vazado fotos da autópsia de Cristiano Araújo e Gabriel Diniz. Em seu perfil ele já havia publicado textos nazistas e xenofóbicos e divulgava abertamente um grupo do Telegram onde repassava essas fotos e outros conteúdo "gore".

Nesta segunda-feira, dia 15 de maio, 555 dias após o sepultamento de Marilia, saiu o laudo do acidente. O "fator preponderante" teria sido a colisão com os cabos de energia da Cemig, a Companhia Energética de Minas Gerais, que fez com que o avião caísse em um curso d'agua.

Com a publicação do laudo, muitos sites retomaram o caso do criminoso que vazou as fotos de Marília e publicaram que o Twitter ainda não havia suspendido a conta do autor do vazamento. Essas informações não procedem. O Twitter suspendeu, sim, as duas contas do criminoso, mas só nesta segunda (15). Ou seja, desde o dia 13 de abril essas imagens continuavam disponíveis.

Infelizmente, nem tudo se apaga na Internet. Os dois perfis do criminoso ainda estão na memória cache do Google e é possível ver suas interações com outras pessoas na rede.

Um rapaz, cujo perfil está no ar normalmente, fez um post dizendo que havia recebido e visto as fotos da necropsia sem querer e, mesmo sem republicá-las nem postar nenhum link de acesso, teve 350 mil visualizações no Twitter e muitos pedidos de acesso a essas imagens!

Que mundo doente é este em que pessoas pedem para ver imagens de uma necropsia ? Que curiosidade mórbida é essa? Essas pessoas não têm nenhum sentimento? Nenhuma noção, compaixão pelas famílias, nada? É tudo para dizer "eu vi", para lacrar junto a seus amigos?

Quem faz isso alimenta o criminoso, potencializa sua perversão. Ele mesmo disse que seus seguidores, de um perfil agora suspenso, subiram de pouco mais de 100 para quase 4.000.

Esses momentos de tanta intensidade, que mexem com a gente, pedem uma reflexão. É essa a sociedade que queremos construir? É isso o que queremos deixar para as gerações futuras?

Temos que pensar e tomar decisões sobre responsabilizar as plataformas que permitem esse tipo de conteúdo.

Enquanto decidimos, uma coisa é certa. Precisamos falar de respeito. Respeito a Marilia Mendonça. Respeito a todos. Respeito à vida e à morte. Respeito ao que de humano ainda temos em nós. Antes que seja tarde.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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