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De faixa a coroa
Descrição de chapéu Miss Universo

Ditadura na Nicarágua devolve trajes confiscados da Miss Universo e acusa diretora do concurso de traição

Polícia emitiu comunicado afirmando que Karen Celebertti 'faz parte de um complô para derrotar o governo' de Daniel Ortega

A nicaraguense Sheynnis Palacios reage após ser convocada como finalista do Miss Universo 2023, em 18 de novembro
A nicaraguense Sheynnis Palacios reage após ser convocada como finalista do Miss Universo 2023, em 18 de novembro - Jose Cabezas/Reuters
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São Paulo

A ditadura da Nicarágua informou que devolveu o traje típico usado por Sheynnis Palacios, 23, no Miss Universo 2023. Segundo a imprensa local, a roupa inspirada em uma ave nativa do país foi entregue no sábado (2) à avó da miss, que vive na capital, Manágua.

A notícia chega após a repercussão negativa do confisco repentino da fantasia, junto com outras roupas e objetos pessoais usados por Sheynnis ao longo do concurso. A informação foi divulgada por meio de nota oficial da polícia local, que afirma que o conteúdo das três malas e duas bolsas retidas não foi danificado e nada foi removido.

Sheynnis foi coroada Miss Universo há menos de um mês, no dia 18 de novembro, e desde então a ditadura de seu país ficou em alerta. Para eles, o triunfo da modelo no concurso de beleza poderia ser usado como um artifício da oposição para afrontar o regime tirano comandado por Daniel Ortega.

O confisco teria acontecido assim que a bagagem chegou ao aeroporto do país, em 19 de novembro. O responsável pelo transporte da roupa era Martín Argüello, marido de Karen Celebertti Moncada, diretora do Miss Nicarágua, que estava acompanhado do filho Bernardo (16) e da sogra.

Eles voltavam de El Salvador, onde tinham ido com Karen para assistir à final do concurso, que aconteceu no país vizinho, na América Central. Até o momento ambos, pai e filho, estão desaparecidos e incomunicáveis, segundo os sites hondurenhos hondurenhos HCH e La Tribuna, entre outros da região.

ACUSAÇÃO DE TRAIÇÃO

A perseguição da ditadura de Ortega aos familiares de Karen Celebertti começou logo após a coroação de Sheynnis. No último dia 23, a diretora teve sua entrada no país negada após pousar em Manágua e foi exilada. Acompanhada da filha, foi obrigada a voltar ao México, onde estava como convidada do Miss Universo, após acompanhar Sheynnis em compromissos em Miami (EUA) e na capital do México.

Nesta segunda (4) a polícia da Nicarágua emitiu comunicado em seus canais oficiais acusando Celebertti de "conspiração, difusão de informação falsa, traição e lavagem de dinheiro como parte de um complô para derrotar o governo". Eles alegam que Celebertti, assim como seu marido e filho adolescente, "participou ativamente" de manifestações de abril de 2018 contra o atual regime.

O Miss Universo de Celebertti "transforma concursos em armadilhas e emboscadas políticas, financiadas por agentes estrangeiros", diz texto da polícia. O regime de Ortega já procura possíveis substitutos para Celebertti, que está à frente da franquia desde 2011. Segundo o site nicaraguense La Prensa, Celebertti já havia renovado o contrato com o Miss Universo para 2024. A diretora também já foi miss, e sagrou-se vice-campeã do Miss Nicarágua em 1991.

Em nota oficial à CNN, a organização do Miss Universo disse que está ciente da situação e que "trabalha para garantir a segurança de todas as pessoas afiliadas" ao concurso. "Apelamos ao Governo da Nicarágua para que garanta a sua segurança caso cumpram os requisitos (migratórios). Até este momento, a diretora nacional, a sua família estão seguros", afirmou.

VITÓRIA EXPÕEM TURBULÊNCIA NA REGIÃO

A vitória de Sheynnis, que conquistou, ao mesmo tempo, a primeira vitória de seu país e da América Central no Miss Universo, evidenciou a turbulência pela qual passa a região da nação da campeã.

Enquanto a Nicarágua se transformou em uma ditadura de esquerda nos últimos anos, comandada por Daniel Ortega, no vizinho El Salvador, onde aconteceu o concurso de beleza, a democracia passa por um processo acelerado de degradação desde a eleição do populista de direita Nayib Bukele, em 2019.

A coroação teve repercussão negativa em ambas as localidades: na Nicarágua, a comemoração da população nas ruas com a bandeira do país foi vista como uma afronta. Isso pois desde que os símbolos nacionais foram usados em protestos contra o regime de Daniel Ortega, em abril de 2018, a bandeira virou alvo de desconfiança de agentes do regime.

A própria Sheynnis participou dos protestos de cinco anos atrás, quando tinha 18 anos —fotos da agora Miss Universo nas marchas viralizaram antes da cerimônia. O regime então ficou sob alerta e observa atentamente o possível uso da imagem da nova Miss Universo como forma de protesto no país.

Em El Salvador também houve polêmica, em outra escala. Ovacionado ao entrar no palco do Miss Universo, o presidente salvadorenho disse que o concurso deu ao país a oportunidade de mostrar ao mundo do que é capaz.

Naquele mesmo dia, centenas de pessoas se manifestaram nas ruas da capital, San Salvador, contra o regime de exceção que Bukele instituiu em março de 2022. "Com esses concursos e espetáculos, o regime tenta encobrir a violação dos direitos humanos que o regime de exceção está causando", disse à agência de notícias AFP Samuel Ramírez, coordenador do Movimento de Vítimas do Regime.

De faixa a coroa

Fábio Luís de Paula é jornalista especializado na cobertura de concursos de beleza, sendo os principais deles o Miss Brasil, Miss Universo, Miss Mundo e Mister Brasil. Formado em jornalismo pelo Mackenzie, passou por Redações da Folha e do UOL, além de assessorias e comunicação corporativa.
Contato ou sugestões, acesse instagram.com/defaixaacoroa e facebook.com/defaixaacoroa

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