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De faixa a coroa
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Miss Universo miss brasil

Miss Universo: 60 anos após 1ª vitória brasileira, não se fazem mais misses como Ieda Maria Vargas

Com um perfil de miss que não existe mais e nem poderia existir, gaúcha foi eleita em 1963

A gaúcha Ieda Maria Vargas, eleita Miss Universo 1963
A gaúcha Ieda Maria Vargas, eleita Miss Universo 1963 - Arquivo Pessoal
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São Paulo

O ano era 1963 e muita coisa acontecia no Brasil e no mundo. Logo em janeiro, um plebiscito derrubou o parlamentarismo e o país voltou a ser presidencialista. No mesmo mês, foi instituída a bandeira atual do estado de Minas Gerais e, em março, os Beatles lançaram seu primeiro disco "Please Please Me".

Entre abril e maio, realizaram-se em São Paulo os Jogos Pan-Americanos e, em junho, o cardeal Giovanni Battista Montini tornou-se o Papa Paulo 6º. Mas, foi só no início do segundo semestre que uma nova era foi iniciada —pelo menos no mundo das faixas e coroas brasileiro. No dia 20 de julho de 1963, a gaúcha Ieda Maria Vargas fez história ao ser coroada Miss Universo e conquistar o primeiro grande título de beleza para o país.

Hoje, exatos 60 anos desde a data da vitória, Ieda segue aclamada pelo seu feito e se consolida como exemplo de um perfil de miss em extinção. Afinal, ela foi eleita em uma época em que o local da mulher na sociedade era bem diferente e longe do atual. Na época, os concursos de beleza femininos ainda viviam o auge da "objetificação do corpo feminino".

A banca de júri era formada exclusivamente por homens, que avaliavam as jovens candidatas principalmente por suas características físicas e comportamentos submissos. Sem falar nas famigeradas polegadas, que exigiam medidas corporais das misses dentro de um padrão considerado ideal para o período.

Com a faixa de Miss Universo 1963, Ieda ganhou um prêmio em dinheiro e um contrato de um ano que incluiu residência em Nova York, enquanto realizava viagens por todo mundo. Considerada muito nova para tudo isso, seus pais, que estavam presentes na plateia da final, exigiram da organização que acompanhassem a filha de perto durante todo o reinado.

Natural de Porto Alegre, Ieda tinha apenas 18 anos quando venceu o concurso, realizado em Miami Beach, na Flórida (EUA). Ela disputou a vaga, que até então era da argentina Norma Nolan, com outras 49 candidatas. Em segundo e terceiro lugares ficaram, respectivamente, a dinamarquesa Aino Korva e a irlandesa Marlene McKeown. Fecharam o Top 5 as misses Filipinas, Lalaine Bennett (4º lugar), e Coreia do Sul, Kim Myoung-ja (5º).

Neste mês, Ieda foi homenageada no Miss Universo Brasil 2023. Assista:

UM OUTRO PERFIL DE MISS

A gaúcha seguiu bem o roteiro da época e, em nenhum momento, abandonou o papel de miss. Tanto que, quando lhe ofereceram um contrato para ser atriz de Hollywood, ela negou. O motivo? Queria voltar para sua cidade, casar e ter filhos.

Mesmo declinando da oportunidade, "a mulher mais bela do universo" ficou bastante famosa por aqui. De acordo com a imprensa da época, ela foi reverenciada quando chegou ao país no pós-vitória. Porto Alegre literalmente parou para vê-la ir, de carro de bombeiros, do aeroporto ao Palácio Piratini, onde foi recebida pelo governador do estado, Ildo Meneghetti.

Hoje, diferente de Ieda, a miss tem outro perfil, que se transformou ao longo das últimas seis décadas. Em 1997, então com 52 anos, Ieda já havia observado essa mudança em entrevista para a Folha. "Na minha época, ganhar o título era muito mais importante do que ser top model hoje. Era como ganhar a Copa do Mundo. As mulheres imitavam a miss, mas o processo não era tão rápido quanto é hoje com a top model", comparou.

De 1997 para cá, muito mais coisa mudou. Em tempos de TikTok, Instagram e Big Brother Brasil, de fato, uma jovem não precisa mais ser miss para ser conhecida e reconhecida. A miss também não precisa mais ser essa moça "bela, recatada e do lar" como foi Ieda para vencer o título. Pode ser se quiser, claro, desde que cumpra outros quesitos.

Além da parte de técnica de desfile e desenvoltura de palco, a miss de 2023 precisa ter conteúdo. Tem que saber se comunicar, tanto em português quanto inglês e outros idiomas, saber de atualidades e opinar sobre os temas, gostar de tecnologia e ser uma influenciadora digital. Os organizadores querem que ela aproveite a "plataforma" do concurso para potencializar sua penetração – assim como a da marca – ao longo do reinado, amplificando seus propósitos e dando voz a quem não tem.

Com tantas exigências, muita gente nem quer saber mais sobre concurso de miss. Acham algo "cringe" ou muito difícil de alcançar. Por isso mesmo, como forma de se conectar às novas gerações e manter a indústria dos concursos de beleza viva e relevante, recentemente muitas regras da época de Ieda caíram.

Hoje, a miss pode também ser casada ou separada, pode ter filhos ou estar grávida, e até ser uma mulher transgênero. Em alguns casos, pode ter mais de 28 anos —uma barreira ainda a se derrubar.

PRIMEIRA DE POUCAS VITÓRIAS

A partir de 20 de julho de 1963, um portal com sede de mais vitórias no setor se instaurou no Brasil e perdura até hoje —com uma certa frustração, diga-se de passagem. Afinal, desde Ieda Vargas, foram poucas as coroações brasileiras em mundiais de miss.

Depois dela, apenas mais uma conterrânea venceu o Miss Universo: a baiana Martha Vasconcellos, em 1968. Na sequência, em 1971, houve a vitória da médica carioca Lúcia Petterle no Miss Mundo (ou Miss World, no original). Mais recente, ganhou o noticiário a vitória da paulista Isabella Menin no Miss Grand International 2022, em outubro passado.

De faixa a coroa

Fábio Luís de Paula é jornalista especializado na cobertura de concursos de beleza, sendo os principais deles o Miss Brasil, Miss Universo, Miss Mundo e Mister Brasil. Formado em jornalismo pelo Mackenzie, passou por Redações da Folha e do UOL, além de assessorias e comunicação corporativa.
Contato ou sugestões, acesse instagram.com/defaixaacoroa e facebook.com/defaixaacoroa

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