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Zapping - Cristina Padiglione

'Terra e Paixão': Tony Ramos não teme tabu que o impedia de ser vilão

Para o ator, ideia de que a audiência não o aceita como malvado ficou no passado: 'Nunca subestimo o público'

Tony Ramos como Antônio La Selva em cena de 'Terra e Paixão'
Tony Ramos é Antônio La Selva, o antagonista da novela 'Terra e Paixão' - João Miguel Júnior/Divulgação
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São Paulo

Diz lenda, ou as intermináveis pesquisas encomendadas pela Globo para medir a temperatura das reações do público, que por décadas a presença de Tony Ramos em papéis de vilão não foi bem digerida pela audiência. A novela "Terra e Paixão" coloca essa teoria em cheque agora, ao reservar ao ator a função de antagonista da mocinha, Aline (Bárbara Reis).

Para Tony, Isso não existe mais. "Havia essa preocupação quando a Globo fez 20 anos, quando eu fiz o 'Grande Sertão: Veredas'. [Diziam] 'Mas ele faz personagens heroicos, o público vem junto'. Eu acho que quanto mais você vai dando sinais ao público de 'muito obrigado pelo seu carinho, mas eu vou te propor agora uma nova personagem', o público vai junto com você", argumentou à coluna.

Tony lembra inclusive do bicheiro que interpreta em "Encantado's", a série que está no ar logo após a novela das nove, às terças. "Eu, com aquela peruca maluca, cheio de vaidades, é isso também."

"Acho que há um primeiro impacto, mas hoje em dia, com essa vivência toda que tenho com o público, com esse tempo todo de carreira, não mais."

TABU DO BOM MOÇO

Conversamos sobre esse tabu que historicamente inibia a sua escalação para papéis de malvados durante a festa de lançamento da novela, no Jóckey Club do Rio de Janeiro. E lembramos de quantas vezes o autor Silvio de Abreu teve de desmentir que José Clementino, seu personagem em "Torre de Babel" (1998), não mudou em função de uma suposta demanda do público, pois sua transformação já era algo previsto na sinopse original.

O sujeito árido, bruto no modo de falar e se comportar, era tentado a sucumbir ao mal diante das dificuldades da vida, mas, no fundo, precisava apenas de um incentivo e apoio para fazer valer a boa índole, algo que ele consegue descobrir graças ao romance com Clara, personagem de Maitê Proença.

A ideia do autor era justamente mostrar que você pode tomar caminhos distintos, entre o bem e o mal, de acordo com o ambiente e as pessoas que o cercam.

"Eu já falei pro Silvio parar de tentar explicar que a transformação dele já estava prevista na sinopse original, ele tem que mostrar essa sinopse, está lá, registrada, para ninguém contestar mais", reforça.

Essa mesma ideia de que o ator, exemplo de bom marido, bom pai e bom profissional, não se enquadraria em personagens malvados, também referendou a sua escalação para "A Regra do Jogo" (2015), de João Emanuel Carneiro, como um psicopata, como ele mesmo diz, que até o último capítulo tentava convencer parte dos personagens --e o público-- de que não era aquela peste que muitos diziam ser.

Mas era. Quem acreditou na conversa dele foi, de certa forma, ludibriado pela figura do ator, que só na cena final tivemos de fato a confirmação de que se tratava de alguém podre.

Todo esse histórico endossava a percepção de que a plateia talvez não o aceitasse em pele de lobo, principalmente sem disfarce de cordeiro, como é o pérfido Antonio La Selva. Até aqui, o autor Walcyr Carrasco, com quem Tony trabalha pela primeira vez, não exibiu qualquer ponto fraco desse personagem, carregado só pelas tintas negativas.

Mas é evidente que os índices de audiência aquém do esperado não estão nessa conta do ator, e sim em um didatismo e redundância exageradas cometidos por Carrasco nesse início da trama.

Ao defender o discernimento e inteligência do público, o ator reforça que essa plateia "é cada vez mais exigente, até com os planos de filmagens, as imagens". "Hoje nós temos uma qualificação de público muito especial, e filmamos em HD, super HD. Estamos filmando em resolução de 6K, não é nem 4K mais."

De altíssima definição, a tecnologia privilegia todos os pontos vistos pela câmera, do coro cabeludo aos poros e pelos da face. "Ainda bem que a pele continua boa, não?", brinco com ele. Ao lado da esposa, Lidiane, ele sorri: "Ainda dá, ainda dá". Ela concorda.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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