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Zapping - Cristina Padiglione

Patrícia Poeta pode fazer como Luciano Huck: Desculpar-se pela mesma tela onde errou

Apresentadora do Encontro foi apedrejada nas redes sociais por tropeço na TV, onde faltou pedir perdão

Em foto colorida, mulher de macacão verde é vista na praia
Patrícia Poeta fotografada na praia, após semana difícil - Victor Chapetta/AgNews
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São Paulo

É sempre mais fácil analisar o jogo depois que a partida está consumada, e por isso me contive em escrever sobre o episódio mais recente da série de desencontros de Patrícia Poeta com seu parceiro de programa, Manoel Soares. Mas uma sucessão de erros foi se acumulando, de modo que não me contive em dar meu pitaco sobre a deselegância da semana na TV, quando a titular do Encontro passou na frente de seu companheiro de palco enquanto ele falava, interrompendo sua fala e sua imagem diante da tela.

Sim, a ação foi péssima, mas Poeta se resumiu a um "desculpe, Manoel", sem nem mesmo olhar para ele, e continuou a falar. Isso aconteceu logo após o erro.

O Twitter se ocupou do assunto ao longo do dia todo, na segunda-feira (3), e já ampliou especulações sobre um possível afastamento dele, quando ela apareceu sozinha na terça. Os desavisados foram comunicados de que ele de fato não aparece mais no Encontro às terças, desde que estreou na ancoragem do Papo de Segunda, no lugar de Fábio Porchat.

Veio então a quarta-feira, e todos ficaram de olho em um possível pedido de desculpas dela a ele, mais demorado, olho no olho, com a pausa que o gesto da agressão inicial significou. Mas não. Poeta passou por ele com um "Tudo certo, parceiro", mal dando-lhe espaço para responder, enquanto já cumprimentava os convidados daquela edição.

A fúria dos tuiteiros aumentou.

Nesse momento, meu impulso é dizer: "Mire-se no exemplo de Luciano Huck", que se desculpa assim que percebe uma ação mal recebida pelo público. Às vezes acho que ele nem errou, mas se alguma coisa foi mal digerida pela plateia, lá vem ele à tela, na primeira oportunidade, e se desculpa ou se explica. Só ao longo de sua temporada no Domingão, isso já aconteceu, que eu me lembre, duas vezes.

Huck aparece na tela uma vez por semana. Poeta aparece cinco. Ela tinha evidentemente como sanar o estrago em dois dias, assim que reencontrasse Soares no sofá do programa, mas não o fez.

Na era das redes sociais, é engano achar que um pedido de perdão só dará mais conhecimento ao erro, supondo que quem não viu a ação original poderá ver depois a cena de redenção, o que ampliaria o número de pessoas que souberam do estrago.

Tampouco vale cometer um equívoco em cadeia nacional e reconhecer o erro por meio de uma entrevista a um colunista, como fez Poeta ao falar com o colunista do UOL Lucas Pasin. Errou pela tela da Globo, diante do parceiro? Desculpe-se pela tela da Globo, olhando nos olhos dele.

É evidente que se Poeta tivesse atropelado um homem ou mesmo outra mulher de sua cor, a cobrança pela presepada seria infinitamente menor.

É evidente que se Poeta não tivesse interrompido seu parceiro em outras ocasiões, a indignação da web também seria mais flexível.

Há uma cobrança necessária por pluralidade e respeito a cores, gêneros e credos nas telas e por trás delas, como na sociedade de modo geral. Quando um homem branco interrompe uma mulher negra, ou mesmo branca, e quando um branco (ou branca) faz o mesmo com alguém de cor preta, esse princípio é violado, seja a ação fruto de um acidente ou de segregação estrutural.

Soares é um apresentador negro em um posto historicamente dominado por brancos, e todo tropeço de Poeta é mensurado com rigor pelas redes sociais. Para o azar dela, sim, o parceiro é preto e essa condição torna todo passo mais suscetível a cancelamentos e acusações, mas ter alguém como ele ao lado é também uma sorte, pela oportunidade que ela tem de exibir seu interesse em equidade e diversidade, demonstrando o que tem faltado até aqui: generosidade ao coadjuvante do programa.

Daí a urgência de se desculpar de modo contundente e de acordo com o que lhe foi cobrado dessa vez. Tivesse feito isso, a extensão do apedrejamento certamente teria sido menor.

Acabou? Não.

Corta para a cena em que a apresentadora é fotografada com cara de desolada passeando pelas areias de uma praia, no Rio, com figurino à vontade e cabelos soltos ao vento. Se não soubéssemos do quanto ela foi massacrada ao longo da semana, fato que rendeu todas as legendas para aquelas imagens, poderíamos até suspeitar que fosse um editorial de moda.

Definitivamente, ser vista com expressão de chateada não basta. É preciso olhar no olho do espectador e do parceiro para esclarecer que errou. E tudo bem, não há crime algum nisso. Todo mundo erra. O problema é tentar camuflar os tropeços.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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