'Todas as Flores' volta em ritmo de avalanche
Novela de João Emanuel Carneiro avança pontos estratégicos em sua 2ª temporada
João Emanuel Carneiro é o cara certo no lugar certo. Sorte sua que "Todas as Flores" tenha perdido a vaga da faixa nobre da TV aberta para "Travessia", sendo levada ao serviço de streaming da Globo. A experiência de concentrar em 85 capítulos aquilo que seria contado em pelo menos 120 deu à novela a chance de valorizar a essência do enredo, pelas mãos de um autor que não se acomoda com a paz de seus personagens nem dá sossego ao público.
O lançamento da segunda parte da trama, nesta semana, trouxe, já no capítulo de reestreia, um claro divisor de águas na vida das principais figuras em cena, com exceção de Zoé (Regina Casé), que fica mais ou menos na mesma posição de desgraça que já lhe acometia ao final da safra inicial.
Vanessa (Letícia Colin) dá um primeiro passo em falso na farsa que tenta representar como dedicada mãe do suposto filho do ricaço Rafael (Humberto Carrão). E ele, que bom, começa a perder a irritante ingenuidade de mocinho bobalhão.
Após uma cirurgia para passar a enxergar, a ex-cega Maíra (Sophie Carlotte) começa a visualizar um mundo novo, mas longe da perfeição, sendo ainda classificada como uma deficiente de baixa visão. Agora, ao menos, pode dar de cara com o ser amado e descobrir que ele tem cara de Humberto Carrão, veja que surpresa boa. Melhor ainda é se olhar no espelho e descobrir no seu reflexo os belos traços de Sophie Charlotte.
Não entendi por que a personagem passou a ter cabelos lisos após a cirurgia ocular, como se a nova condição lhe desse direito a uma escova permanente, com fios sempre aprisionados em rabo de cavalo.
Todas as cenas da sequência de reabilitação para quem começa a enxergar o mínimo que seja vêm embaladas em delicadeza e bom gosto, num belo trabalho de direção, com trilha sonora que tenta fisgar a emoção da plateia, sem resvalar para a cafonice.
A virada do enredo também envolve Judite (Mariana Nunes), Humberto (Fábio Assunção) e Pablo (Caio Castro).
Idem para Diego (Nicolas Prates), sempre de olhos marejados, que sofre mais que cão de rua para reencontrar os irmãos e se livrar do inferno em que se meteu logo no começo do folhetim.
A história finalmente anda. Ou melhor, corre. Acelera em uma velocidade que novela da TV aberta raramente alcança. Em cinco capítulos de "Toda as Flores", aconteceu muito mais do que em 100 episódios de "Travessia", de Glória Perez, atualmente na vaga que originalmente caberia à trajetória da mocinha cega --agora nem tão mocinha e já capaz de enxergar alguma coisa.
Do capítulo 46, primeiro desta segunda etapa, ao início do 50, que finaliza o primeiro bloco semanal da nova fase, quando o telespectador finalmente se dá o direito de respirar, lá vem um novo conflito a aguçar a taquicardia da plateia. Nada há de ser tão fácil para a pobre Maíra.
Um núcleo que segue sem peso na novela é o da família de Oberdan (Douglas Silva), pagodeiro rico que sofre de compulsão sexual, supostamente cômico, mas sem graça alguma. Em compensação, a acertada sintonia entre Zezeh Barbosa e Mumuzinho deu novo vigor ao clã original de Mauritânia, personagem que virou ícone da plateia LGBTQIA+, na pele de Thalita Carauta.
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